Agosto não acaba nunca? Que tal aproveitar para colocar as finanças em dia?

O mês que não tem fim pode ser a oportunidade dos consumidores e das empresas colocarem a casa em ordem, reorganizarem o orçamento e recuperarem a saúde financeira

Agosto não acaba nunca? Que tal aproveitar para colocar as finanças em dia?
Deagreez via Getty Images

Redação Fast Company Brasil 6 minutos de leitura

Agosto é um mês difícil para muitos brasileiros. E não é só pela falta de feriados e por ser um mês com 31 dias. Também é o período pós-férias, quando surgem novas despesas que se acumulam com as contas dos meses anteriores.

O MÊS QUE NÃO TERMINA

Pesquisa da Serasa, em parceria do Instituto Opinion Box, divulgada em 2024, mostrou que um terço (33%) afirmam que sua renda não é suficiente para pagar todas as despesas de agosto. Foram ouvidas 2.446 pessoas.

Ainda segundo o levantamento, apenas 35% dos entrevistados disseram confiar que chegariam ao final daquele mês com “alguma reserva de dinheiro”.

Ao todo, 36% declararam ter certeza de que o dia 31 de agosto os encontraria vulneráveis financeiramente. Para 22%, agosto é o mês mais difícil sob o viés das finanças.

Na época da divulgação da pesquisa, Aline Maciel, especialista da Serasa em educação financeira, explicou que, com a chegada do segundo semestre, muitas famílias passam a sentir os efeitos do acúmulo de despesas, como parcelas de compras feitas no início do ano, rematrículas escolares e preparação para as despesas de fim de ano.

Além disso, segundo a especialista, a falta de feriados pode contribuir para o que ela chamou de “sentimento de eternidade do mês, aumentando a percepção de que o salário não é suficiente para cobrir todos os custos e demonstrando a necessidade de redobrar a cautela com a organização das finanças”.


INADIMPLÊNCIA AVANÇA ENTRE BRASILEIROS

Dados divulgados em 7 de agosto pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) confirmam que os brasileiros chegaram a agosto em uma situação desfavorável ao seu bolso. Em julho, a inadimplência chegou a 30,2% da população. Trata-se do maior nível desde setembro de 2023.

De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), o índice subiu 0,5 ponto percentual no mês passado. Com isso, seguiu-se a tendência de aumento no número de famílias que se declararam sem condições de pagar as dívidas.

As dívidas com mais de um ano alcançaram 31,5%. O cartão de crédito se mantém como o principal meio de endividamento. Ainda segundo a Peic, no mês passado, 12,7% das famílias endividadas afirmaram não ter condições de pagar as dívidas – alta de 0,2 ponto percentual em relação a junho (12,5%). 

"Os brasileiros estão no limite de sua capacidade de contrair novas dívidas"

José Roberto Tadros, da CNC

Por meio de nota, José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, disse que “o aumento do número de famílias que já não conseguem pagar suas dívidas e a estagnação do endividamento indicam que os brasileiros estão no limite de sua capacidade de contrair novas dívidas”.

O QUE FAZER PARA MELHORAR AS FINANÇAS?

Mas como se libertar da sensação de que agosto é o mês que nunca termina e aproveitar para colocar as contas em dia?

O primeiro ponto, segundo Kelvin Saegussa, CEO da Okame Educação Financeira, é avaliar as dívidas e seus respectivos custos. É importante, explica o especialista, criar uma estratégia para quitar todos os valores em um determinado intervalo de tempo. A prioridade de quitação deve considerar os custos de cada dívida e as suas garantias.

Dívidas com alto custo, atreladas a algum tipo de garantia e que são obrigatórias por um ponto de vista legal tem prioridade para pagamento”, diz Saegussa.

O segundo ponto, acrescenta o educador financeiro, é o que ele chama de “encarar a realidade”.

O que isso quer dizer na prática? Segundo o especialista, não adianta fazer um planejamento financeiro sem avaliar como foram os recebimentos e gastos dos últimos meses.

A definição de uma meta financeira só faz sentido se ela estiver fundamentada em um número real, aponta Saegussa. “Por exemplo, se você não sabe quanto gastou em transporte no mês passado, como vai ter condições de definir uma meta para o próximo mês? Os dados são fundamentais para a construção de um planejamento que faça sentido e seja realista.”

O terceiro ponto, acrescenta o especialista, é estabelecer metas. Com a informação sobre a renda em mãos e gastos identificados, é possível definir objetivos para cada uma das categorias do orçamento.

“Lembre-se de evitar gastos individuais superiores a 30% da sua renda total e acompanhe as suas próprias definições para não perder o controle do seu planejamento”, sugere Saegussa.

O QUE O EMPREENDEDOR DEVE FAZER?

Se para o consumidor este parece ser o mês do ano que nunca termina, para as empresas não é diferente. O aumento do endividamento e da inadimplência da Pessoa Física reflete nas finanças dos negócios.

Sem sobra de caixa, as pessoas passam a priorizar algumas despesas inevitáveis – como alimentos, moradia e transporte -, e deixam de quitar outras contas e de consumir o que consideram ser supérfluo em época de aperto no orçamento.

Para o educador financeiro, reduzir as despesas da empresa, assim como recomendado para a PF, é um caminho para ter sobra de caixa, mas nem sempre é o mais importante.

“Em muitos casos, há um problema de fluxo que faz com que as empresas precisem tomar crédito para fazer seus pagamentos e, por isso, acabam tendo um custo adicional”, diz Saegussa. Por isso, segundo o especialista, um ponto importante é ter uma boa gestão dos pagamentos e recebimentos da sua operação para que o negócio sempre tenha caixa para pagar o que precisa”.

CONTROLE AS FINANÇAS COM DISCIPLINA

No caso das pessoas jurídicas, é ideal manter um controle mais próximo das finanças. Para além de receitas e despesas, é importante ter clareza sobre a saúde do caixa, a margem de lucro, oscilações de receitas e despesas, entre outras informações financeiras, diz Saegussa.

Todas essas variáveis, segundo o especialista, são importantes para garantir que o negócio siga saudável. Ele lembra que, segundo dados do Sebrae, quase metade (48%) das micro e pequenas empresas encerram suas atividades devido à má gestão financeira e falta de controle do fluxo de caixa.

“Dependendo do tipo de operação da empresa, esse controle deve ser diário, semanal ou, no mínimo, mensal. Operações que lidam com muitas transações diárias exigem um cuidado maior em acompanhamento do que aquelas que possuem uma quantidade menor de clientes e fornecedores”, alerta.

AJUDA EXTERNA PARA A EMPRESA

O nível de complexidade da operação da empresa pode levar o empreendedor a ter de recorrer a um profissional. O contador é um profissional indispensável para qualquer empresário, mas ainda pode ser necessário um profissional de gestão financeira para apoiar nesse trabalho mais operacional da empresa, diz o educador financeiro.

O contador está mais focado nos compromissos tributários, legais e contábeis, enquanto o consultor financeiro pode ter uma atuação mais voltada para a gestão do caixa, precificação, e acompanhamento dos compromissos financeiros.


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