Ainda dá para aproveitar a corrida do ouro?

Metal teve altas consistentes, motivadas pelas disputas territoriais e comerciais, mas tropeçou depois da eleição de Trump; especialistas ainda acreditam em oportunidade de ganho

Imagem feita por IA/Freepik
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Paula Pacheco 5 minutos de leitura

O ouro vinha despontando em 2024. No ano, marcado por uma série de máximas históricas, a valorização acumulada passou de 35%. No entanto, os valores caíram 7% em novembro. Um dia após a eleição nos Estados Unidos, a contração foi de 3,1%.

Mas o que vinha acontecendo para que o ouro valorizasse? O minério é considerado um "porto seguro" em tempos de incerteza econômica e política, explica Mauriciano Cavalcante, diretor de Ouro da Ourominas.

A trajetória de valorização do metal refletia os conflitos geopolíticos. É o caso da invasão ao território ucraniano pela Rússia e as ações lideradas por Israel na Faixa de Gaza e no Líbano.

Com o aumento da procura por ativos reais, há uma pressão no valor de negociação, como destaca Willian Andrade, sócio-fundador da Kaya Asset. “Toda vez que há esse tipo de incerteza, há um aumento do interesse por ativos reais”, diz. Segundo Cavalcante, “a demanda por ouro aumenta quando há crises financeiras ou recessões, pois os investidores buscam proteger seu patrimônio.”

ELEIÇÃO AMERICANA

Agora, com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, o mercado projeta uma política de juros mais altos nos Estados Unidos em 2025. Como reflexo, se espera um aumento do custo de manutenção dos ativos que não rendem juros, como no caso do ouro, o que “esfria” o interesse pelo metal, pressionando a cotação para baixo.

O metal tende a se valorizar em períodos de alta inflação, taxas de juros baixas – justamente o oposto do que se espera nos EUA -, desvalorização de moedas e instabilidade nos mercados.

Se por um lado há atratividades como o fato de ser um ativo bom para momentos de estresse no mercado, como observa Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais, por outro há alguns pontos de atenção.

“A média histórica mostra que o ouro apenas corrige a inflação no período, então não será o ativo que vai trazer um alto retorno, mas que vai trazer maior segurança nas crises”, analisa Alves. Já o especialista da Ouro Minas aponta outras vantagens e desvantagens.

Prós:

- Proteção contra inflação e crises econômicas.

- Alta liquidez, imediata e aceitação global.

- Diversificação para reduzir a volatilidade da carteira.

Contras:

- Não gera rendimentos, como dividendos ou juros.

- Volatilidade: o preço pode oscilar no curto prazo.

VALE INVESTIR?

Apesar da nova direção dos ventos com a eleição de Trump, ainda há oportunidades para os investidores. Veja o que dizem os especialistas.

Mauriciano Cavalcante: “Embora o ouro tenha se valorizado nos últimos anos, a decisão de investir depende das perspectivas econômicas e geopolíticas futuras. Se houver uma continuidade das incertezas globais e pressões inflacionárias, o ouro ainda pode oferecer oportunidades de valorização. No entanto, para quem busca proteção de longo prazo, o ouro pode manter seu papel como ativo de hedge, independentemente do momento de entrada.”

Willian Andrade: “Acredito que não vai ter valorização do ouro muito maior do que vimos até agora por conta da eleição americana. O que teria de acontecer para essa valorização maior acontecer no curto e médio prazo seria a continuidade das tensões geopolíticas. Isso refletiria não só no valor do ouro, mas de outros ativos com característica de proteção.”

Idean Alves: “O ouro funciona mais como uma reserva de valor, que entra muito mais para corrigir o dinheiro pela inflação, é o que mostra o histórico dos últimos 100 anos. Claro que momentos de pico fazem essa média subir, mas no geral momentos de estresse fazem isso. Como desde 2020 nada foi como antes, é provável que novos acontecimentos façam a cotação disparar sim.”

QUAL É O PERFIL?

O ouro, segundo os especialistas, serve como uma proteção (ou hedge) contra volatilidade e riscos econômicos. Os aportes no metal servem para diversificar a carteira de investimentos e reduzir o impacto de flutuações dos mercados tradicionais (como ações e títulos), especialmente em crises, diz Cavalcante. Sua recomendação é alocar uma pequena porcentagem (geralmente entre 5% e 10%) da carteira.

O ouro costuma atrair diferente perfis que buscam proteção e estabilidade a longo prazo. Porém, afirma o executivo da Ouro Minas, investidores arrojados também podem utilizá-lo para diversificação. O ouro é mais indicado para objetivos de médio a longo prazo, pois seu papel como ativo de hedge se evidencia ao longo do tempo e em momentos de crise.

Já Alves, além de recomendar o metal aos investidores de perfil moderado, sugere também para os arrojados, já que se trata de um ativo de renda variável. O objetivo do ouro, acrescenta, deve ser o de reserva de valor, para corrigir pela inflação e balancear a carteira em momentos de crise, quando ele tende a ser muito demandado. Andrade, no entanto, avalia que tanto conservadores quanto moderados e aqueles com perfil mais agressivo podem incluir o mineral entre suas opções. “O que vai variar é a participação do ativo na carteira.”

COMO INVESTIR?

O investidor tem algumas opções para incluir o ouro na sua carteira. Por exemplo, com a compra de ações de mineradoras que extraem o metal. É possível ainda fazer aportes em contratos futuros de ouro, fundos de índice (ETFs) e fundos de investimento que têm o metal como base do seu patrimônio.

Há ainda a alternativa é comprar o metal na forma física. Isso é feito junto a um banco ou instituição financeira – o chamado ouro escritural. Alves lembra, no entanto, que nesse tipo de ativo o investidor vai ter de arcar com o custo de armazenamento. Já no caso de ETFs é preciso estar preparado para as oscilações, custo com taxa de administração e de gestão.


SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais