App com IA oferece estilista virtual para procurar a ‘roupa ideal’
Recurso de compras Daydream permite, por exemplo, pesquisar como encontrar um salto alto confortável para uma reunião de diretoria, tudo baseado em chat e com tecnologia de inteligência artificial

Sejamos realistas. Comprar roupas online costuma ser uma chatice A experiência de compra em algum site de loja ou marketplace não mudou muito desde que a Amazon começou a vender livros online, três décadas atrás.
OS BILHÕES DA MODA NO COMÉRCIO ELETRÔNICO
Se você estiver procurando por um novo blazer ou vestido, digitará palavras-chave no Google ou na barra de pesquisa de um varejista e, em seguida, percorrerá as linhas do estoque. Muitas vezes, os primeiros resultados que você verá serão postagens patrocinadas por marcas, em vez de resultados personalizados para suas necessidades.
Mas, embora comprar algo da categoria moda na internet seja trabalhoso e desajeitado, agora é o status quo. Cerca de 48% de todas as vendas no varejo de moda em todo o mundo acontecem no comércio eletrônico, o equivalente a US$ 883,1 bilhões em receita.
INVESTIMENTO ATÉ DO GOOGLE
A veterana do varejo Julie Bornstein, que ajudou a construir plataformas de comércio eletrônico para a Sephora e a Stitch Fix, quer transformar a maneira como você compra online.
Hoje, ela lança uma nova plataforma chamada Daydream, um agente de compras baseado em chat e com tecnologia de IA, dedicado especificamente à moda.
A equipe fundadora da Daydream reúne executivos que já trabalharam no Google, Microsoft, Meta, Amazon, Farfetch e outras empresas de tecnologia. A empresa levantou US$ 50 milhões em financiamento inicial da Forerunner Ventures, Index Ventures, True Ventures e Google Ventures.
ESTILISTA HUMANO? NÃO UM AGENTE DE IA
Para usar a Daydream, você responde a um breve questionário para garantir que o agente personalize os resultados de acordo com seu gosto e tamanho.
Em seguida, você pode interagir com o agente de IA como faria com um estilista humano, fazendo perguntas e fornecendo detalhes sobre o que procura: "Preciso de um vestido novo para as férias em Barcelona" ou "Você pode encontrar um salto alto para uma reunião de diretoria que seja confortável o suficiente para que eu possa ir a pé para o trabalho?".
A plataforma fornecerá resultados de um inventário de 2 milhões de produtos imediatamente disponíveis de 8.000 marcas, incluindo Chloe, Nike, Khaite, Mytheresa, Uniqlo e Dôen.
Essas marcas pagam uma comissão à Daydream quando um cliente compra um produto, o que permite que a plataforma permaneça gratuita para os usuários.
Como todos os modelos de IA, o Daydream foi projetado para continuar aprendendo à medida que mais usuários interagem com ele, tanto pela compreensão das tendências gerais da população quanto pela forma de adaptar os produtos aos hábitos de compra de cada indivíduo. De certa forma, as possibilidades mais empolgantes estão logo ali.
"Já estamos pensando no que podemos fazer com essa tecnologia", diz Bornstein. "Imagine um agente que já conhece cada item do seu guarda-roupa e pode sugerir peças que combinam com o que você já tem."
A EXPERIÊNCIA NO VAREJO CONTA
Julie Bornstein passou sua carreira tentando aperfeiçoar a arte do e-commerce. No início dos anos 2000, ela ajudou varejistas como Nordstrom e Urban Outfitters a construir seus sites online incipientes. A especialista em varejo liderou os esforços digitais da Sephora antes de atuar como COO da Stitch Fix, um serviço de estilo online que ficou famoso por usar um algoritmo semelhante ao da Netflix para identificar as roupas que seus consumidores poderiam querer.
Em 2018, Julie decidiu abrir seu próprio negócio. Ela lançou um aplicativo chamado The Yes, projetado para promover inspiração e descoberta — algo que ela sentia falta na maioria dos sites de e-commerce que dependem dos consumidores para pesquisar e articular o que desejam.
O The Yes criou um feed semelhante ao de uma rede social, onde você podia se conectar com amigos e receber produtos interessantes que talvez não encontrasse sozinho. Quatro anos depois, o Pinterest o adquiriu por um valor não revelado.
DE OLHO NA IA GENERATIVA
Nos últimos anos, no entanto, a IA generativa tem se destacado no mundo da tecnologia. Em 2023, Julie começou a trabalhar no Daydream, considerando como a IA poderia transformar a experiência de compra. "Estava claro para mim que, quando o ChatGPT fosse lançado, abriria um novo conjunto de possibilidades", diz.
No entanto, os agentes de IA atuais, como o ChatGPT, não são adaptados para comprar roupas. Se você pedir à plataforma para ajudá-lo a encontrar um vestido para um jantar romântico em Montreal em meados de julho, ela vasculha a internet em busca de opções, mas não tem como identificar a qualidade.
Dentro de uma determinada faixa de preço, a ferramenta buscará informações de marcas desconhecidas na Amazon e de marcas aleatórias conhecidas por produzirem imitações. Quando se trata de gosto e estilo, o ChatGPT não tem senso de curadoria. Ele busca informações de todos os blogs, sites de varejo e influenciadores.
“O ChatGPT é como um faz-tudo e pode responder a perguntas sobre roupas”, diz Kirsten Green, fundadora da Forerunner Ventures, uma das investidoras da Daydream. “Mas, em algum momento, você precisa de alguma expertise para garantir que uma IA esteja fornecendo resultados realmente úteis, seja em moda ou biotecnologia.”
IA COM SOFISTICAÇÃO
Julie queria criar uma IA que tivesse uma noção mais sofisticada do que os consumidores procuram em termos de moda e estilo. Por exemplo, a Daydream tem parceria com 8.000 marcas e já analisou mais de 2 milhões de produtos. Além disso, os desenvolvedores da Daydream trouxeram nuances ao processo de busca, ajudando a IA a distinguir entre marcas de luxo, como a Chloé, e marcas populares, como a Uniqlo.
Além disso, com a ajuda dos desenvolvedores, a Daydream analisa detalhes como silhueta, tecido e caimento de uma forma mais específica do que as plataformas de IA comuns. Ela incorpora informações sobre tamanho e caimento com base em avaliações e dados sobre a marca, para que as recomendações possam ser totalmente personalizadas para o usuário.
"Temos analisado imagens de roupas para identificar seus atributos objetivos e subjetivos", diz Julie. "É preciso sintetizar todas essas informações e garantir que sejam padronizadas."
Kirsten observa que nada disso é fácil. “Este é o poder de alavancar modelos de treinamento, entender os detalhes de categorias de produtos que têm muitos descritores minuciosos e entender como ler imagens”, diz ela.
O resultado é um agente de IA que se aproxima de um estilista humano. Julie promete que o Daydream entenderá melhor as nuances das perguntas dos clientes, oferecendo mais expertise em tendências e gostos pessoais.
Isso significa que duas pessoas podem fazer a mesma pergunta e receber resultados diferentes. O agente de IA extrairá informações de marcas conhecidas, adaptando os resultados ao seu orçamento. Conforme você clica nos itens de que gosta, a IA refina as opções. Você também pode escolher um item, como um vestido azul, e dizer que gostou da silhueta, mas preferiria a cor vermelha. Também é possível enviar a imagem de um vestido de que você gostou e encontrar opções semelhantes.
A especialista em varejo ressalta que alguns consumidores gostam de ter muitas opções, enquanto outros acham essa perspectiva avassaladora. A IA do Daydream pode se adaptar a qualquer uma das abordagens. “Algumas pessoas vão querer apenas as cinco melhores opções para um determinado vestido ou blazer”, aponta. “O Daydream também pode fazer isso.”
O FUTURO DA MODA
Para Julie, o lançamento do Daydream é apenas o primeiro passo em sua visão de transformar as compras online de roupas. Por um lado, a IA permitirá um nível de personalização sem precedentes, adaptando os resultados ao gosto individual, ao orçamento e ao formato do corpo de cada usuário.
Em um futuro próximo, Julie imagina uma tecnologia que já sabe tudo o que está no seu guarda-roupa.
Imagine o guarda-roupa dea Cher, da série As Patricinhas de Beverly Hills, que veio com um computador que identificava cada peça de roupa e conseguia coordenar os looks. Isso não está tão distante, avisa Julie.
"Já estamos pensando em como poderíamos identificar o que já está no seu guarda-roupa, analisando os extratos do seu cartão de crédito ou seu histórico de compras com um varejista", diz a empresária. "Ou você poderia imaginar uma ferramenta de IA que escaneasse rapidamente seu guarda-roupa com uma câmera e identificasse cada item."
ALGO MELHOR QUE UMA BARRA DE PESQUISA
Uma tecnologia como essa poderia servir como uma ferramenta útil para ajudar as pessoas a se vestirem de manhã, sugerindo o que usar de acordo com seus planos para o dia e o clima. Ele também poderia se integrar a uma plataforma de compras mais ampla, como o Daydream, permitindo que a IA tenha uma noção da estética e do tamanho do usuário antes de recomendar itens que se encaixem em seu guarda-roupa atual. "Às vezes, você tem um short que seria muito mais útil se tivesse a blusa certa", exemplifica Julie. "Isso nos permitiria sugerir itens que alguém realmente precisa, sem simplesmente comprar algo que já tem."
Está claro que uma transformação está próxima, à medida que as pessoas incorporam cada vez mais a IA em suas vidas. Kirsten diz ter ouvido falar de muitos varejistas cuja caixa de pesquisa está se tornando inútil porque os clientes a tratam como um agente de IA e fazem perguntas em linguagem natural, em vez de digitar palavras-chave.
"Startups realmente excelentes às vezes enfrentam dificuldades porque os clientes não estão prontos para a tecnologia", diz Kirsten. "Este não é o caso aqui. Acho que todos estamos prontos para algo melhor do que uma barra de pesquisa."