Como começar a investir em Tesouro Direto e deixar a poupança

Aprenda o passo a passo para ter títulos do governo na sua carteira de investimentos

Mediamodifier e OpenClipart-Vectors por Pixabay

Maira Escardovelli 7 minutos de leitura

Os títulos do governo, conhecidos como Tesouro Direto, estão chamando cada vez mais a atenção dos brasileiros.

O número total de investidores com saldo nesses ativos ultrapassou a marca de 2,5 milhões, um aumento de 13,6% em relação aos últimos 12 meses, segundo o último balanço do Tesouro Nacional, divulgado em novembro de 2024,

O Programa Tesouro Direto lançou em dezembro do ano passado, em parceria com a B3 (a Bolsa de Valores brasileira), o “Gift Card B3”.

Nesse caso, o principal diferencial é que o novo produto permite presentear pessoas com os títulos e tem como objetivo democratizar e popularizar ainda mais o acesso aos títulos públicos. Até agora, pouco mais de um mês depois do lançamento, foram vendidas cerca de 1,6 mil unidades. 

Quem quiser adquirir o cartão-presente pode escolher opções entre todos os títulos do Tesouro que integram o Programa. Depois, basta informar o nome, e-mail e/ou telefone da pessoa a ser presenteada e fazer o pagamento via Pix. Os limites de valores variam de R$ 1 mil para compras diárias e de R$ 5 mil no acumulado do mês.

SEM COMPLICAÇÕES

Começar o investimento em títulos públicos (ou até comprar o Gift Card B3) pode parecer uma operação complicada para quem nunca fez aportes nesse tipo de ativo.

A boa notícia é que aplicar no Tesouro Direto é uma saída interessante para aqueles que querem deixar a poupança e começar a investir no que é considerado uma das opções mais seguras do mercado. Isso porque o Tesouro é um ativo garantido pelo governo federal.

Funciona assim: o governo emite títulos públicos, que são como uma espécie de “empréstimo” que os investidores fazem ao país. Em troca, eles recebem o compromisso de devolução dos valores com juros ou correção

“Na prática, é como se você fosse o credor do Brasil – e o Brasil raramente deixa de pagar suas contas. Pense no país como a espinha dorsal do sistema financeiro: se o governo não honrar essa dívida, o impacto seria tão grande que outros investimentos também estariam em risco", diz a consultora financeira Carol Stange. "É o famoso 'porto seguro' em tempos de incerteza econômica”. 

COMO COMEÇAR A INVESTIR?

Especialistas indicam que, ao começar uma carteira de investimentos, o “porquê” é tão importante quanto o “como”. É preciso saber primeiro o objetivo da aplicação e qual é o prazo de retorno desejado. 

“Um investidor de 70 anos que quer curtir mais a vida e tem a percepção de que ele precisa deixar algo para a família tem muita diferença para um jovem de 20 anos que está começando a trabalhar e sem dependentes. Isso muda completamente o objetivo”, afirma Lucas Queiroz, estrategista de Renda Fixa do Itaú BBA.  

“Então, se as pessoas fizerem uma reflexão antes de ir diretamente para o produto, elas já começam possivelmente em uma jornada muito mais vencedora”, completa. 

Não é necessário começar com grandes quantias para investir no Tesouro - é possível comprar títulos com menos de R$ 40. A transação é feita por meio de bancos e corretoras de investimentos, que podem cobrar uma taxa de administração sobre o valor aplicado. O mesmo vale para a B3, que adiciona um custo de custódia de 0,20% sobre o montante.  

QUAL É O MELHOR TÍTULO DO TESOURO?

Escolher o título público certo, além da definição do objetivo, passa por saber se o investidor precisará do retorno no curto, médio ou longo prazo. O Tesouro oferece opções que seguem diferentes índices e podem ditar a volatilidade e a liquidez do rendimento. 

Os títulos também podem ser prefixados (rendem uma taxa fixa já definida), pós-fixados (acompanham a variação do indexador) ou híbridos (combinam oscilação do índice com um taxa fixa). Veja os detalhes no quadro abaixo:

Fast Company Brasil

Na visão de Rafaela de Sá Silva, planejadora financeira CFP pela Planejar, para “um objetivo de curto prazo, como uma reserva de emergência, o Tesouro Selic é a melhor escolha, porque ele tem baixa volatilidade e liquidez diária.” 

A planejadora indica para os objetivos de médio e longo prazo os títulos IPCA+ ou Prefixados, a depender da tolerância do investidor ao risco e do cenário econômico. 

ATENÇÃO COM OSCILAÇÃO DE VALORES

O ponto de atenção nos prefixados está no fato de que eles podem oscilar no preço caso o investidor venda antes do vencimento. Com isso, o rendimento pode ser menor do que a inflação em cenários de alta. Mas, ao mesmo tempo, é considerado um ativo relevante em momentos de queda de juros

Já o Tesouro IPCA+ oferece uma espécie de proteção contra o aumento de preços, garantindo que o poder de compra do valor investido seja mantido. 

“Quem aplica no Tesouro IPCA+ já está se atrelando à inflação e ainda ganhando uma taxa em cima disso. Então o investidor garante já na partida que vai conseguir comprar mais produtos no final do prazo do que ele conseguiria comprar hoje”, pontua Lucas Queiroz, do Itaú BBA. 

Dessa forma, com várias opções, a conclusão é de que vale a pena avaliar a possibilidade de combinar títulos com vencimentos diferentes, definindo um para cada tipo de objetivo financeiro

“Se o investidor quer fazer uma viagem em três anos e, ao mesmo tempo, poupar para a aposentadoria, pode ser interessante. Essa estratégia ajuda a garantir liquidez no momento certo, sem precisar vender os títulos antecipadamente”, afirma Rafaela. 

E A MELHOR DATA DE VENCIMENTO?

Os especialistas recomendam para quem quer ter o rendimento esperado que seja feito o alinhamento do vencimento do título ao momento em que o investidor precisará do dinheiro. Por isso, é tão importante definir uma estratégia considerando o objetivo e o horizonte de retirada

“Se quem aplica está pensando em algo para aposentadoria daqui a 20 anos, um Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045 pode ser uma boa escolha. Por outro lado, para objetivos mais curtos, um vencimento em 2026 ou 2028 pode ser mais adequado”, analisa Rafaela, da Planejar. 

No entanto, se o investidor precisar vender antes do vencimento, existe o risco de não receber de acordo com a expectativa, já que o preço do título pode variar - ser maior ou menor do que o que foi investido -  dependendo das condições do mercado, principalmente das taxas de juros.  

Neste momento, o valor é ajustado pela chamada “marcação de mercado”. Por exemplo, se a taxa de juros subir, o preço dos títulos prefixados ou IPCA+ tendem a cair. E se a taxa de juros cair, os preços tendem a subir.

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O QUE É O TESOURO GARANTIA?

Não são só os rendimentos de curto, médio e longo prazo que movimentam os negócios com títulos públicos. Em novembro de 2024, o Tesouro Nacional, a B3 e o Banco Central lançaram mais uma opção para as aplicações do governo: o TD Garantia.

O mecanismo possibilita que investidores utilizem seus ativos federais como garantia em operações financeiras como aluguel imobiliário e empréstimo

Para Carol Stange, o Tesouro Garantia faz sentido, principalmente, para investidores mais maduros, que entendem as dinâmicas de alavancagem, bens como garantia e riscos envolvidos

“É quase como usar um imóvel quitado como garantia de crédito. Você continua ‘dono’ do ativo, mas pode aproveitá-lo como ferramenta financeira”, explica. 

Carol ressalta a importância de considerar algumas questões antes de investir no Tesouro com foco nesse uso. Afinal, o fato de o título estar vinculado como garantia não elimina os riscos de mercado caso o investidor precise liquidá-lo antes do vencimento

“É uma ferramenta que pode fazer sentido dentro de uma estratégia bem estruturada, mas é essencial avaliar se ela realmente se alinha aos seus objetivos financeiros", aponta a consultora financeira.

Ainda segundo a especialista, o Tesouro Garantia só vale se você realmente precisar dessa funcionalidade de garantia. Para o investidor que busca apenas formar uma reserva de emergência ou um colchão financeiro, essa característica pode ser irrelevante”, conclui.


SOBRE A AUTORA

Maira Escardovelli vive entre palavras, números e uma boa dose de poesia. É jornalista e gosta de ter um olhar atento para o que a soc... saiba mais