Como aproveitar a guerra tarifária entre EUA, China, México e Canadá

Disputa deflagrada por governo de Trump pode gerar oportunidades para alguns ativos; medidas contra a China entram em vigor e gigante asiático reage

Egromov via Getty images

Paula Pacheco 4 minutos de leitura

Bastaram apenas três dias desde o início da guerra tarifária dos Estados Unidos contra México e Canadá, em 1º de fevereiro, para que se instaurasse um clima com petardos enviados de todos os lados.

Times das diplomacias, das áreas de comércio exterior, do mercado financeiro e das empresas, inclusive brasileiras, foram tomados pela cautela. Afinal, quais efeitos esperar do tarifaço colocado em prática pelo republicano Donald Trump, presidente da maior economia do mundo?

TRÉGUA NA GUERRA COMERCIAL

Mas, o que se viu no início da noite desta segunda-feira (3) foi a tensão dando espaço para uma trégua. Ao longo do dia, foi confirmado que os EUA suspenderiam por 30 dias a medida de taxação de 25% sobre os produtos importados do México e do Canadá.

O acordo foi fechado primeiramente com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, e, horas depois, com primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.

Em contrapartida, os dois governantes se comprometeram a apresentar planos para aumentar a fiscalização nas fronteiras. Com isso, a promessa é conter o problema da imigração ilegal e da entrada de componentes para a produção da droga fentanil nos EUA.

Espera-se ainda a entrada em vigor da sobretaxa de 10% sobre as importações embarcadas na China.

CUIDADO ANTES DE NOVOS MOVIMENTOS

A guerra tarifária, mesmo que suspensa temporariamente, vai seguir no radar não apenas daqueles afetados direta ou indiretamente, mas também dos investidores, inclusive os brasileiros.

É hora de atenção em meio a tantas incertezas e mudanças de humor. Por isso, os observadores da economia sugerem muito cuidado antes dos próximos passos.

Há um receio quanto a uma possível escalada dos efeitos das disputas comerciais muito além das rusgas entre os governantes dos países envolvidos. Por exemplo, com a alta dos preços para o consumidor final, gerando uma pressão inflacionária.

EFEITOS DA DISPUTA TARIFÁRIA NA ECONOMIA

O caráter protecionista do governo americano é o centro da questão da guerra tarifária, salienta Matheus Pizzani, economista da CM Capital. Contudo, há impactos práticos.

A importação de produtos sobretaxados pode impactar nos preços nos EUA no curto, médio e longo prazo. E, segundo Pizzani, não há garantia de haverá o fornecimento de produtos.

“Uma taxação dessa magnitude, no curto prazo, impacta nos preços. Há ainda o fato de a oferta ser rígida. Uma fábrica não é construída para substituir as importações de um dia para o outro”, cita o economista da CM Capital.

Ainda segundo o especialista, "o desejo de Trump (de gerar empregos com a nacionalização da produção e aumentar a arrecadação) pode não se concretizar, mas levá-lo a apresentar outras armas para lidar com os problemas que virão, como a política fiscal”, analisa. Na sua opinião, “é uma equação complexa e sem garantias de que levará as empresas a fazerem seus investimentos nos EUA”.

FED TEM O RECURSO DOS JUROS

O aumento da inflação, se acontecer, deve levar a autoridade monetária americana a agir, analisa Pizzani. O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) pode agir de forma mais agressiva em relação à taxa de juros se houver sinais de pressão sobre os preços.

O economista lembra que Jerome Powell, presidente do Fed, já sinalizou que o BC está trabalhando em estudos para quantificar quão perigosas podem ser as tarifas para a economia e qual pode ser sua a resposta.

“O Fed dá sinais de que não vai correr atrás da curva de juros. Por isso, é preciso considerar que pode haver inflação mais elevada e um cenário de juros mais elevados”, sintetiza o economista da CM Capital.

Os títulos de renda fixa do Tesouro dos EUA se tornam mais atraentes se o patamar da taxa básica de juros americanos subir.

O PAPEL DO BRASIL

O Brasil pode se beneficiar da guerra tarifária entre Estados Unidos, México, Canadá e China, mesmo com tantas incertezas, avalia o economista André Perfeito. "É possível comer pelas bordas".

É o caso das empresas brasileiras exportadoras. Além de servirem de alternativa aos importadores americanos que recorrem aos fornecedores do México e do Canadá, podem atendem as demandas dos países envolvidos na guerra tarifária.

“Elas podem tomar espaço das companhias canadenses com presença nos Estados Unidos”, aponta Perfeito.

O economista sugere o olhar sobre as empresas americanas que não dependam de insumos importados. A expectativa é que consigam resultados melhores do que a concorrência, já que estão mais distantes do impacto tarifário.

Ainda segundo André Perfeito, pode-se esperar uma vantagem das empresas “puramente americanas”, que não terão o peso adicional nos custos com a guerra tributária. As varejistas dos EUA também têm condições de se beneficiar do novo contexto, pois repassar para os preços esses impactos.

RESUMO

O que os investidores devem ficar de olho:

  • Títulos de renda fixa do Tesouro dos EUA (treasuries)
  • Empresas brasileiras exportadoras
  • Empresas americanas listadas em bolsa que tem nenhuma ou pouca dependência de importações
  • Empresas americanas do varejo, que poderão repassar o aumento de custos para seus preços
  • Cuidado com os movimentos! Uma das características de Trump é "falar muito e mudar rápido de conversa", diz André Perfeito.


SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais