Dividendos: aprenda a colocar o dinheiro para trabalhar por você
Com bom planejamento, a distribuição de parte do lucro das empresas listadas em bolsa pode garantir uma renda adicional, mas há riscos
Se a ideia de acordar em uma terça-feira qualquer e descobrir que parte do seu salário mensal foi pago por dividendos parece um sonho, saiba que, com planejamento, isso é possível.
A renda passiva, obtida por meio de investimentos, especialmente em ações, tem atraído um número crescente de brasileiros que desejam independência financeira. Não à toa, a busca por empresas boas pagadoras de dividendos deve se intensificar ao longo de 2025, período em que muitos investidores já se preparam para receber uma "agenda de pagamentos".
Mas o que significa, na prática, ter uma renda passiva? Eduardo Rosenberg, economista e consultor financeiro, explica que se trata de um fluxo de dinheiro que entra de forma recorrente sem que o investidor precise vender seus ativos. "Os dividendos são uma das principais formas de alcançar isso. São pagamentos feitos por empresas a seus acionistas, geralmente trimestrais ou semestrais, como uma forma de compartilhar os lucros da companhia", detalha.
Para garantir o direito aos dividendos, os especialistas avisam de antemão que é importante prestar atenção ao calendário. As regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) são claras: é preciso adquirir as ações até a chamada data de "ex-dividendo", que geralmente ocorre um ou dois dias úteis antes do pagamento. "Se você não tiver o ativo até essa data, não participa daquela distribuição específica", alerta Pedro Ribeiro, professor e economista.
A perspectiva de receber renda passiva, no entanto, vai além do sonho de dinheiro fácil. Trata-se de uma estratégia que requer conhecimento, disciplina e um olhar atento para o futuro.
QUANTO PODE REPRESENTAR NA CARTEIRA
Renda passiva é o oposto do salário ou de outras formas de remuneração que exigem esforço contínuo. Numa analogia, Rosenberg pede para imaginar uma árvore frutífera que, uma vez plantada, regada e cuidada, fornece frutos por anos. Essa, segundo ele, é a lógica da renda passiva: um retorno regular a partir de um investimento inicial.
Na carteira, o peso da renda passiva varia conforme o perfil do investidor. Para investidores que buscam estabilidade, é comum alocar cerca de 30% a 50% do portfólio em ativos que geram dividendos, enquanto outros, mais conservadores, podem chegar a 70%. O ideal, segundo ele, é que a renda passiva complemente outras fontes, diversificando o risco.
Ainda assim, é preciso cautela. Concentrar toda a estratégia em um único tipo de ativo ou setor pode limitar o crescimento da carteira. "O objetivo é equilibrar: aproveitar o fluxo dos dividendos enquanto mantém parte dos recursos em ativos de maior potencial de valorização", sugere Rosenberg.
BOAS PAGADORAS DE DIVIDENDOS
Nem todas as empresas são boas escolhas para quem busca dividendos. "Uma boa pagadora de dividendos costuma ter lucros consistentes, baixo endividamento e operar em setores mais previsíveis, como energia elétrica ou saneamento", aponta Ribeiro.
O professor destaca a importância do histórico da empresa. A ideia é analisar se os dividendos são sustentáveis. Uma distribuição muito acima da média, pontua, pode indicar que a companhia está sacrificando investimentos futuros, o que pode ser um problema no longo prazo.
Além disso, Ribeiro alerta para que o investidor desse tipo de negócio fique atento ao indicador dividend yield, que mede o retorno do dividendo em relação ao preço da ação. "Ele é uma boa referência, mas não pode ser analisado isoladamente. É preciso considerar também a saúde financeira da empresa e o cenário macroeconômico", completa Ribeiro.
Outra dica recomendada, conforme os especialistas, é aderir à rotina de acompanhar os índices no Ibovespa. Com a previsão de uma taxa Selic entre 14% e 16,5% em 2025, o Santander projeta impacto limitado nos lucros gerais do Ibovespa, mesmo no cenário mais pessimista. No entanto, setores domésticos, como educação, saúde, varejo e transporte podem enfrentar desafios.
Segundo relatório financeiro do banco, com uma taxa de crescimento dos lucros de longo prazo estimada em 5,5% — alinhada a um Produto Interno Bruto (PIB) potencial de 1,5% e uma inflação de 4% —, o cenário base projeta um crescimento de 10% nos lucros do Ibovespa em 2025. Ainda assim, as estimativas consensuais podem ser revisadas para baixo, especialmente para empresas mais expostas ao mercado interno, pressionadas pela desvalorização do real e pela curva de rendimento elevada.
RISCOS DE INVESTIMENTO EM DIVIDENDOS
Investir em dividendos exige clareza de objetivos. "Para quem pensa em aposentadoria, é uma estratégia de longo prazo. Já para quem busca uma renda extra imediata, pode ser interessante montar uma carteira focada em setores que pagam dividendos regularmente", diz Rosenberg.
Porém, nem tudo são flores. A renda passiva vem da renda variável, e, como o próprio nome sugere, está sujeita a oscilações. Uma crise econômica, mudanças regulatórias ou quedas nos lucros das empresas podem impactar diretamente os dividendos pagos.
Por isso, Ribeiro diz que é fundamental diversificar. "Seja qual for o seu objetivo, não coloque todos os ovos na mesma cesta. Assim, você reduz o impacto de eventuais crises e garante uma renda passiva mais consistente ao longo do tempo", ensina.