É hora de investir na Europa e na Ásia?

Especialistas explicam se vale a pena descolar dos ativos tradicionais dos EUA, sob a pressão da guerra tarifária e seus efeitos colaterais, e buscar oportunidades em mercados menos óbvios

Alona Horkova via Getty images
Alona Horkova via Getty Images

Márcia Rodrigues 3 minutos de leitura

Com os sinais de estresse das bolsas americanas e os riscos fiscais dos Estados Unidos ganhando protagonismo, investidores globais começam a olhar com mais atenção para outras regiões — especialmente a Europa e a Ásia.

A pergunta que surge é: vale a pena descolar dos ativos tradicionais dos EUA e buscar oportunidades em mercados menos óbvios?

A resposta é: depende do seu perfil, mas o movimento já está em curso.

O chamado rebalanceamento dos portfólios globais vem ganhando tração, segundo Marcos Saravalle, CIO da MSX Investiment e diretor de certificação e educação da Apimec Brasil. “Estamos vendo vendas de ativos nos EUA e migração para outros mercados. Parte desses recursos vai para Europa e Ásia e até países emergentes entram nessa rotação”, afirma.

Esse ajuste, segundo ele, é reflexo da reprecificação de ativos americanos. “O S&P 500 já está sendo negociado em múltiplos mais baixos que há alguns meses, mais próximos da média dos últimos cinco anos. Ou seja, parte do movimento de rotação já aconteceu”, completa.

Um múltiplo de mercado representa a relação entre o preço de negociação de uma ação e suas variáveis operacionais, como dividendos, lucros, geração de caixa.

ONDE ESTÃO AS OPORTUNIDADES FORA DOS EUA?

Para quem está considerando diversificar, os mercados asiáticos e europeus oferecem alternativas com potencial. Mateus Lippmann, da Barsi Investimentos, aponta setores como tecnologia, consumo discricionário, saúde e energia como alternativas interessantes, principalmente por conta do crescimento da classe média e da demanda estrutural da Ásia.

“A China tem demonstrado crescimento econômico expressivo, com taxas de PIB [Produto Interno Bruto] que já superaram as dos EUA em alguns momentos”, lembra Lippmann.

Mas o especialista alerta: junto com o potencial, vem também a volatilidade. “Esses mercados enfrentam riscos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia, tensões em Gaza e a rivalidade entre EUA e China, que afetam diretamente as rotas comerciais e a confiança global.”

E POR QUE SAIR DOS EUA?

Apesar de ainda ser o destino preferido dos investidores — por conta do dólar forte, das empresas líderes globais e do histórico de performance do S&P 500 —, os EUA começam a perder um pouco do brilho. O Standard & Poor's 500 é o índice composto por 500 ativos cotados nas bolsas de NYSE ou NASDAQ.

“Juros altos e incertezas fiscais são dois gatilhos importantes para estimular a diversificação geográfica”, diz Lippmann. Uma eventual recessão americana pode abrir espaço para cortes de juros em outras regiões, favorecendo empresas locais.

COMO SE EXPOR AOS MERCADOS EUROPEU E ASIÁTICO?

Para investidores brasileiros, o acesso está mais fácil. ETFs (Exchange Traded Fund ou fundo negociado em bolsa, em português) internacionais são uma porta de entrada prática, barata e acessível. “Com menos de R$ 100, já é possível investir em carteiras globais diversificadas”, aponta Lippmann.

Quem quiser ir além, pode optar por BDRs (Brazilian Depositary Receipt ou Certificado de Depósito de Valores Mobiliários, em português) de empresas asiáticas ou europeias, fundos internacionais geridos por casas globais ou, para os mais experientes, ações diretas no exterior.

RISCO CAMBIAL É PONTO DE ATENÇÃO

“Investidores que aplicam por meio de fundos no Brasil podem buscar produtos com proteção cambial, se não quiserem se expor à oscilação de moedas como euro, iene ou yuan”, explica Lippmann.

Mas esses investimentos servem para todo mundo? A resposta curta: sim, mas com cuidado.

“Qualquer investidor pode investir fora, desde que entenda as flutuações e monte uma estratégia coerente”, afirma Lippmann. Começar aos poucos, com aportes recorrentes, pode ser uma boa estratégia para evitar entrar em momentos de pico ou sair em momentos de baixa.

Lippmann recomenda alocar entre 2% e 5% da carteira internacional em ativos fora dos EUA. É uma forma de testar e ganhar confiança. “É importante lembrar que a diversificação é uma proteção, não uma promessa de multiplicar dinheiro rápido”, finaliza.


SOBRE A AUTORA

Márcia Rodrigues é jornalista especializada em economia e empreendedorismo. Vegetariana e apaixonada pela defesa de causas sociais, am... saiba mais