As lições de empreendedores que transformaram crises em viradas de sucesso
No Dia do Empreendedor, histórias reais mostram que superar crises, rever rotas e adaptar estratégias são passos essenciais para transformar erros em oportunidades e manter o crescimento no longo prazo

O Brasil vive um momento de forte presença empreendedora. De acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2024/2025), realizada com apoio do Sebrae, 33,4% da população adulta está envolvida em algum negócio, o maior índice dos últimos anos. Isso representa mais de 47 milhões de brasileiros, seja em negócios iniciais ou em empresas já estabelecidas. O montante é 87,6% maior do que no período anterior à pandemia, quando eram 25 milhões.
Por trás das estatísticas, existem histórias reais de erros, acertos, crises e viradas. Nesta reportagem, reunimos empreendedores de diferentes setores que mostram como a superação e a capacidade de se reinventar são fundamentais para quem escolhe viver de um sonho.
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No Dia do Empreendedor, 5 de setembro, as histórias de Taize, Márcia, Gabriel e Gustavo, que você vai ler a seguir, mostram que empreender no Brasil é enfrentar obstáculos, reinventar-se e seguir firme, mesmo quando o caminho parece impossível.
UM COMPUTADOR E A AJUDA DOS PAIS
Gustavo Hansel fundou a GH Brandtech, empresa de gestão de marca, tecnologia e inovação, em 2007, com investimento inicial próximo de zero, usando um computador comprado com seu trabalho de lavador de carros e a ajuda dos pais.
“Comecei como um nerdzinho digital e percebi que havia uma oportunidade de mercado. A empresa começou a engrenar 15 meses depois desse primeiro lampejo.”
Para Gustavo, errar faz parte do processo. “De cada 10 decisões, sete são erradas. O importante é errar pequeno, errar barato e corrigir rápido.”
Um dos maiores desafios foi expandir para uma filial fora de Santa Rosa (RS), sua cidade natal. Investiram mais do que podiam e conviveram com o aperto financeiro por quase dois anos. A situação gerou resiliência e coragem para internacionalizar a empresa, abrindo filial no Vale do Silício.
Outro marco foi a primeira aquisição, a software house Nuvoni, que trouxe um novo modelo de negócio, novos sócios e aprendizado em fusões e aquisições.
O faturamento da GH Brandtech foi R$ 11 milhões em 2024, com expectativa de R$ 15 milhões em 2025 e projeção de R$ 30 milhões em 2026, apoiado por parcerias estratégicas e produtos digitais impulsionados por inteligência artificial (IA).
GESTÃO FINANCEIRA COMO DIFERENCIAL
Na área de estética, Márcia Queirós, dona das franquias Fast Escova e Fast SPA, viu seu sonho quase se perder por um erro clássico: ter uma gestão centralizada demais.
O investimento inicial foi de R$ 60 mil, incluindo empréstimos pessoais.
“A virada aconteceu quando ampliamos a governança e a descentralização, o que trouxe mais agilidade e eficiência para a empresa.”
Hoje, a rede está financeiramente saudável. Conta com 300 unidades da Fast Escova em operação e 15 da Fast SPA. Márcia projeta crescimento de 55% em 2025, com planos de dobrar a companhia nos próximos dois anos.
EMPRESA NASCEU DE UMA SPIN-OFF
Taize Wessner, presidente da Virtueyes, atua no ramo de tecnologia e telecomunicações. A empresa nasceu como uma spin-off da distribuidora de eletrônicos da família, focada na venda de chips. Quando o pai decidiu vender o negócio, Taize recebeu a missão de fazê-la crescer, já que até então dava prejuízo.
“Quando a distribuidora foi vendida, a gente já tinha uma pequena receita, mas tivemos de trabalhar muito para acrescentar e crescer os números.”
Então, mesmo com o início difícil, não havia margem para erros. “O recurso era altamente escasso e qualquer errinho não voltava mais”, explica. Um desafio marcante foi reescrever toda a plataforma de gestão dos chips, contratando cerca de 30 pessoas em menos de 60 dias.
A pressa levou a contratações sem alinhamento cultural e sem modelagem de performance adequada. Com isso, a plataforma não saiu como esperado. Foi necessário contratar uma consultoria para corrigir a rota.
A CHEGADA DE NOVOS PRODUTOS
O “pulo do gato” da Virtueyes foi obter a outorga da Anatel e entrar no mercado de MVNO - ou Operador Móvel Virtual. Ele possibilita oferecer serviços de telefonia móvel, como voz, dados e SMS, sem ter sua própria infraestrutura de rede, como antenas. Depois, foi a vez de desenvolver internamente o v.eye. Trata-se de a plataforma proprietária para gestão de conectividade. Por ela, o cliente tem uma visão completa dos seus dispositivos de conectividade IoT, com operação, controle financeiro e inteligência de gestão em um só lugar. Também foi desenvolvido o billing, voltado à cobrança da conexão.
“Isso deu maior robustez ao negócio, permitiu ampliar o portfólio, entrar em novos mercados, incluindo redes privadas, e entregar personalização com velocidade, porque o billing em casa trouxe flexibilidade comercial", conta Taize.
Hoje, o maior gargalo é encontrar mão de obra qualificada. A empresa investe em capacitação e usa inteligência artificial (IA) para qualificar potenciais clientes (leads), tirar dúvidas da equipe de vendas e verticalizar soluções por segmento. A Virtueyes cresce a dois dígitos ano após ano, com taxas médias acima de 20%, e a meta é manter crescimento sólido e audacioso.
VIRADA DIGITAL DURANTE A PANDEMIA
Gabriel Ramalho começou como vendedor ambulante. Hoje, comanda um ecossistema de crédito consignado que fatura R$ 12 milhões por ano, incluindo o Workshop Corban 360, a RK Soluções Empresariais, a Universidade Gerando Resultados e a GR Promotora.
O momento mais crítico foi durante a pandemia. “Tínhamos um calendário para seis eventos em 2020 e, após o primeiro, estourou a pandemia e bagunçou tudo”, lembra Ramalho.
A solução foi migrar para o modelo digital, com a oferta de treinamentos, mentorias e lives online, transformando eventos em canais de aquisição de clientes.
“Começamos com treinamentos de vendas. Mas, ouvindo a ponta, percebemos outras necessidades: gestão, tecnologia e contratação. Criamos mentorias e grupos de negócios, fidelizando clientes e oferecendo produtos de ticket maior.”
Agora, a meta para 2026 é dobrar o faturamento de 2025, ampliando a atuação para corretores de consórcios e seguros. Redes sociais e IA são ferramentas centrais para promover treinamentos e apoiar alunos a vender mais.
ERROS E DESAFIOS DOS EMPREENDEDORES
Segundo Ênio Pinto, gerente de Relacionamento do Sebrae, os erros mais comuns estão ligados ao excesso de confiança.
“Acreditar que a ideia sozinha basta para dar certo é um problema. Falta planejamento, atenção ao cliente e organização financeira. Misturar vida pessoal e empresa costuma ser fatal”, resume.
A correção de rota exige disciplina: rever processos, focar no cliente e organizar as finanças. “O empreendedor brasileiro é criativo e resiliente, mas precisa aprender a medir riscos, estabelecer metas e acompanhar resultados. Quem consegue fazer isso tem mais chances de se manter firme.”
Redes sociais, IA e marketplaces são ferramentas de crescimento, mas o diferencial continua sendo olhar para o cliente e disciplina na gestão.
ENCANTAR E FIDELIZAR CLIENTES
O desafio diário é surpreender e fidelizar o cliente, pontua o gerente do Sebrae. “Começamos atendendo necessidades, evoluímos para desejos e hoje entregamos experiências. O cliente quer cada vez mais valor, e entregar isso de forma memorável é o grande desafio.”
Conhecer profundamente o cliente e encantá-lo transforma-o em fã da marca, capaz de recomendar e defender o negócio.
O PULO DO GATO ESTÁ NA ADAPTAÇÃO
Cada empreendedor encontrou seu próprio “pulo do gato”: foco em nicho, disciplina financeira, aposta no digital, capacitação de equipe ou uso de tecnologia. Todos compartilham capacidade de se adaptar diante das crises.
“O empreendedor brasileiro é resiliente. Ele erra, aprende, corrige e segue em frente. É isso que diferencia quem consegue crescer no longo prazo”, analisa Ênio.