Entenda o que aconteceu até agora na onda do tarifaço de Trump

Governo americano tem anunciado acordos, como o assinado com a União Europeia, Japão e Reino Unido, e sinaliza com uma tarifa-base na faixa de 15% a 20%; Brasil ainda não sentou para negociar com a Casa Branca

O mundo passa por rearranjos com a onda de tarifas anunciada por Trump, presidente dos Estados Unidos
RapidEye via Getty Images

Paula Pacheco 6 minutos de leitura

Ao lado do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, o presidente americano Donald Trump afirmou nesta segunda-feira (28): “Vamos estabelecer uma tarifa para o resto do mundo, e é isso que eles terão que pagar”. A tarifa-base, segundo ele, ficará na faixa de 15% a 20%, sem dar detalhes. As tarifas valeriam para as importações americanas de países que não negociaram acordos comerciais separadamente.


15% A 20%, MAS NADA SOBRE O BRASIL

Disse Trump diante de jornalistas: "Para o mundo, eu diria que ficará em algum lugar na faixa de 15% a 20%... Só quero ser gentil", disse Trump em Turnberry, na Escócia. "Eu diria na faixa de 15% a 20%, provavelmente um desses dois números", completou.

Não houve nenhuma referência ao Brasil ou outros países sobre essa possível faixa. Se esta régua tarifária for geral, as exportações brasileiras escapariam da ameaça de 50% de sobretaxa a partir de 1º de agosto, conforme postagem feita pelo próprio Trump.

Trump aproveitou para criticar a política energética da Europa e disse que o continente está “estragando seus lindos campos com turbinas eólicas”. Segundo republicano, “todas essas ventoinhas são feitas na China”. Para ele, “energia eólica é muito cara e muito feia”.

No início de julho, o secretário de Comércio, Howard Lutnick, disse que nações menores, incluindo "os países latino-americanos, os países caribenhos e muitos países da África", teriam uma tarifa básica de 10%.

SEM PRORROGAÇÕES?

O mesmo Lutnick disse no último domingo (27) que o tarifaço de Trump entrará em vigor no dia 1º de agosto, sem prorrogações. A declaração foi feita em entrevista ao programa Fox News Sunday.

"Nada de prorrogações, nem mais períodos de carência. 1º de agosto. As tarifas estão definidas"

Howard Lutnick, secretário de Comércio dos EUA

"Nada de prorrogações, nem mais períodos de carência. 1º de agosto. As tarifas estão definidas. Elas entrarão em vigor, a alfândega começará a cobrar, e lá vamos nós", disse Lutnick.

Porém, o secretário afirmou que ainda haverá a possibilidade de negociações após a data.

"Obviamente, depois de 1º de agosto, as pessoas ainda podem conversar com o presidente Trump. Quero dizer, ele está sempre disposto a ouvir. E entre agora e a data (1º de agosto), o presidente vai conversar com muita gente. Se conseguirão agradá-lo, é outra história, mas o presidente está definitivamente disposto a negociar e a conversar com grandes economias, com certeza”, sinalizou.

UNIÃO EUROPEIA FECHOU ACORDO

Também no domingo, Trump e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, anunciaram um acordo comercial entre EUA e União Europeia, com a fixação de uma tarifa geral de 15% sobre produtos europeus. Antes, o presidente americano havia ameaçado o bloco com 30% de tarifaço. A medida também beneficia o setor automotivo, que terá redução da tarifa de 27,5% para 15%. No entanto, as tarifas sobre aço e alumínio seguirão em 50%.

O acordo incluiu ainda compromissos do lado da União Europeia, que se comprometeu a investir US$ 600 bilhões adicionais na economia americana e a comprar US$ 750 bilhões em energia dos EUA. O bloco europeu concordou em adquirir equipamentos militares americanos.

O acordo comercial fechado com os EUA como “o melhor que conseguimos”, disse a presidente da Comissão Europeia. Para Ursula, o acerto não deve ser subestimado, ainda mais quando se leva em consideração a ameaça iminente de tarifas de 30% cogitada por Trump contra a UE.

OUTROS ACORDOS

Antes da UE, alguns países fecharam acordos tarifários com os EUA. O primeiro deles foi com o Reino Unido, anunciado em 8 de maio. O texto prevê uma taxação base de 10% para componentes e produtos aeroespaciais britânicos nessa cota. Como contrapartida, os britânicos reduziram a tarifa média sobre bens americanos de 5,1% para uma média de 1,8%.

Japão e China fecharam acordos tarifários – temporários e permanentes - com o governo de Donald Trump. Na terça-feira (22), foi anunciada a redução da alíquota de 25% para 15% sobre as exportações japonesas. Em contrapartida, o país asiático se comprometeu com um investimento de US$ 550 bilhões nos EUA, além de abrir o mercado para produtos agrícolas e automotivos da maior economia do mundo. Porém, o aço e o alumínio japonês foram excluídos do documento. Com isso, seguem com a tarifa anterior, de 25%.

China e EUA acertaram uma trégua tarifária, que deve ser prorrogada por mais 90 dias. Assim, a tarifa-base passa a ser temporariamente de 30%. A decisão foi tomada depois de Trump anunciar o aumento das tarifas sobre produtos chineses para um mínimo de 145%, que levou a uma paralisação parcial do comércio entre os dois países. As negociações devem continuar.

INDONÉSIA, VIETNÃ E FILIPINAS

Na semana passada, foram negociados acordos com Indonésia, Vietnã e Filipinas.

Com a Indonésia, o acordo prevê a"eliminação de 99% das barreiras tarifárias do país asiático para produtos americanos", enquanto os EUA vão reduzir a tarifa de 32% para 19% para os produtos do país entrarem no mercado americano. Além disso, os indonésios se comprometam a comprar cerca de US$ 15 bilhões em produtos dos EUA nos próximos dois anos e a eliminar parte das barreiras técnicas e sanitárias que limitavam a entrada de produtos americanos. Produtos exportados do país do sudeste asiático serão taxados em 19%.

O acerto entre os governos das Filipinas e dos EUA fixou uma tarifa de 19% sobre as exportações do país do sudeste asiático. No entanto, os produtos americanos exportados às Filipinas terão isenção total de tarifa. Está previsto também um compromisso de cooperação militar.

No caso do Vietnã, foi fixada a tarifa de 20% - abaixo dos 46% anunciados previamente pela Casa Branca. O governo vietnamita aceitou ainda conceder aos EUA acesso total aos seus mercados comerciais e se comprometeu a não taxar as importações de produtos americanos.

RETROSPECTIVA E IMPACTOS NO BRASIL

Desde 2 de abril, quando Trump anunciou a primeira onda de tarifas contra vários países, até agora, o Itamaraty diz ter participado por dez rodadas de negociações com o governo americano, sem sucesso. O anúncio de tarifa de 50% foi publicado na rede social de Trump em 9 de julho.

Entre os itens mais expostos com a sobretaxa americana estão o suco de laranja, o café, a carne bovina, as frutas e os pescados.

De janeiro a junho, as exportações do agronegócio brasileiro para os americanos chegaram a  um total de US$ 6,63 bilhões – é o equivalente a 8% do total exportado pelo setor na primeira metade do ano, como mostram dados do Agrostat ( sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro, gerido pelo governo federal).

Ainda segundo o Agrostat, produtos florestais (US$ 1,762 bilhão, 26,6%), café (US$ 1,063 bilhão, 19,54%), carnes (US$ 1 063 bilhão, 16%) e sucos (US$ 743 milhões, 11,21%) encabeçam a pauta de produtos do agronegócio comercializados com os EUA.

A estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) é que o agronegócio brasileiro pode deixar de exportar US$ 5,8 bilhões para os EUA se a sobretaxa de 50%, anunciada por Trump, for confirmada. A projeção da entidade considera uma queda de 48% nos embarques de produtos do agronegócio ao mercado americano ante os US$ 12,1 bilhões comercializados em 2024.


SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais