Era Ozempic: o desafio da indústria de alimentos de tornar proteínas atraentes

Medicamentos que diminuem o apetite tornam os consumidores mais seletivos na hora de decidir o que vai para o prato

avanço dos medicamentos para controlar o apetite desafiam a indústria de proteínas
Deagreez eJDawnInk via Getty Images

Redação Fast Company 3 minutos de leitura

Há uma transformação silenciosa em andamento na forma como as pessoas se alimentam. Ela não está sendo liderada por chefs, influenciadores ou ativistas climáticos. A mudança está sendo impulsionada por uma nova classe de produtos farmacêuticos que está mudando a maneira como milhões de pessoas se relacionam com a comida em si.

NOVOS PADRÕES DE CONSUMO DE ALIMENTOS

Medicamentos com GLP-1, como Ozempic e Wegovy, funcionam por meio da alteração dos sinais de fome no cérebro. Eles não apenas ajudam as pessoas a se sentirem saciadas mais rapidamente.

São medicamentos que estão remodelando os padrões de consumo em geral. Quando a fome muda, tudo, desde o tamanho das porções até os hábitos de lanche e as preferências de sabor, acompanha.

NOVA DEFINIÇÃO PARA PROTEÍNA

A nova era trazidas pelos medicamentos para conter a fome está alimentando uma redefinição mais ampla de como a sociedade pensa a proteína. O que costumava ser uma categoria alimentar principalmente associada à construção muscular ou dietas, agora está no centro de uma mudança cultural e metabólica.

Estamos entrando em uma nova fase em que as pessoas estão comendo menos, mas esperando mais do que comem. É por isso que a proteína está aparecendo em lugares inesperadosmolhos para massas, misturas para panquecas, condimentos e até mostarda. Sim, mostarda proteica.

Parte disso parece marketing desonesto. É como se as pessoas pensassem "quanto tempero preciso comer antes que isso afete minha ingestão de proteína?". Mas a tendência subjacente é real. As pessoas querem porções menores com maior impacto.

COMO FICA O HAMBÚRGUER E O CHOCOLATE?

Essa mudança rompe com o pensamento convencional de que alimentos indulgentes (como hambúrgueres, sorvete e chocolate) devem inerentemente carecer de valor nutricional, enquanto opções mais saudáveis ​​(saladas de couve ou tofu simples) não podem oferecer verdadeiro prazer. O GLP-1 quebra essa barreira, enfatizando a necessidade de indulgência e nutrição coexistirem.

Os novos padrões são especialmente visíveis no corredor de lanches. Um artigo recente do Wall Street Journal destacou como os lanches ricos em proteína estão ganhando popularidade à medida que os consumidores buscam saciedade e nutrição em formatos menores. Não se trata mais de indulgência. Trata-se de otimização.

FARMACÊUTICAS DE OLHO NA INOVAÇÃO ALIMENTAR

Até as empresas farmacêuticas estão percebendo. A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e do Wegovy, financiou recentemente uma pesquisa sobre proteínas vegetais menos processadas na Universidade de Copenhague.

É um forte sinal de que a inovação alimentar está começando a orbitar em torno de um novo centro gravitacional: a mudança de apetite.

Para a indústria alimentícia, não se trata apenas de reduzir o tamanho das porções ou colocar "rico em proteína" no rótulo. Trata-se de repensar o que a proteína pode significar quando a fome parece diferente. Ela pode ser mais leve e ainda assim satisfatória? Pode ser mais sustentável sem perder sua ressonância emocional? Pode se tornar algo que as pessoas buscam, não pela saciedade, mas pela realização?

Na era do GLP-1, as pessoas não comem para se sentirem satisfeitas. Elas comem para se sentirem nutridas, energizadas e no controle.

Então a verdadeira questão não é "quanta proteína este produto contém?", mas sim "como esta proteína conquistou seu lugar?". (Por Didier Toubia, o CEO e cofundador da Aleph Farms)


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