Férias de última hora? Veja como não extrapolar o orçamento

Apesar de ser mais caro viajar sem se planejar, dá para fazer escolhas sem desperdiçar seu dinheiro 

como calcular as despesas de viagem quando nao houve planejamento antecipado
ID Criativo: via Getty Images

Márcia Rodrigues 5 minutos de leitura

Julho costuma ser um das os opções de férias para quem tem filhos em idade escolar, mas há quem goste desta época do ano para aproveitar as temperaturas mais baixas no Brasil ou mais elevadas no Hemisfério Norte. Neste clima, decidir viajar de última hora, mesmo sem orçamento preparado previamente, pode ser irresistível para muitos, especialmente se bateu aquela vontade de sair da rotina, ou se o calendário finalmente abriu uma brecha.

MESMO SEM PLANEJAMENTO DÁ PARA ECONOMIZAR

Mas, para quem valoriza cada centavo, o improviso pode sair caro. A boa notícia? Dá para aproveitar sem transformar a empolgação em prejuízo. Abaixo, especialistas em finanças pessoais e turismo ensinam como economizar, mesmo sem ter feito um orçamento prévio com o planejamento de cada fase da viagem.

1 - DEFINA UM TETO DE GASTOS ANTES DE TUDO

Começar pela empolgação do destino é um erro comum e perigoso. Quem decide a viagem e só depois tenta encaixar os custos corre sério risco de gastar mais do que devia. Para o CEO do Férias & Co., Bruno Carone, o ideal é fazer o caminho inverso: “divida o orçamento total em blocos: 50% para hospedagem, 30% para transporte, 15% para alimentação e 5% para imprevistos. Isso dá clareza antes de qualquer busca”.

Carlos Braga Monteiro, do Grupo Studio, recomenda uma divisão semelhante e prática: 40% para hospedagem, 30% para transporte, 20% para alimentação e 10% para extras. “Usar planilhas e simuladores online pode ajudar”, diz ele.

2 - EVITE TRANSFORMAR FÉRIAS EM DÍVIDA

Mesmo quem tem uma renda alta deve manter o equilíbrio das contas. "Gastos com férias não devem ultrapassar 30% da renda líquida mensal ou 10% do patrimônio financeiro", afirma Monteiro.

Theo Braga, da SME The New Economy, sugere outro parâmetro: destinar até 10% da renda anual ao lazer, distribuído ao longo do ano. E, caso a viagem não tenha sido planejada, nada de usar a reserva de emergência. “Ela é para imprevistos, não para oportunidades”, alerta.

3 - O QUE PRIORIZAR E ONDE FLEXIBILIZAR

Transporte e hospedagem são os grandes vilões do orçamento. "São itens que afetam diretamente a experiência e a segurança, por isso devem ser definidos com cuidado", diz Braga.

Por outro lado, dá para economizar sem perder qualidade. Reduzir um ou dois dias da viagem, voar no meio da semana ou se hospedar em bairros menos turísticos faz diferença. “Hotel boutique, casa de temporada ou pousada bem avaliada mantêm o conforto com preço mais acessível”, diz Monteiro.

Para Clay Gonçalves, planejadora financeira da Planejar, a priorização pode variar bastante com o tipo de viajante. “Se quem viaja espera uma experiência de luxo, a hospedagem será uma prioridade e, possivelmente, o item mais caro da viagem.” O mesmo vale para alimentação. “Para uma viagem de experiências gastronômicas, certamente esta deve ser uma prioridade do orçamento. Já para uma viagem de experiências com paisagens, a alimentação poderá ser uma alimentação menos sofisticada”, comenta", exemplifica.

4 - USE MILHAS, CASHBACK E PONTOS COM INTELIGÊNCIA

Com passagens aéreas caras para quem não reservou de última hora, milhas e pontos se tornam ainda mais valiosos. “Elas funcionam melhor exatamente nesses momentos”, explica Monteiro. Além disso, benefícios como upgrades, salas VIP e seguros ajudam a reduzir custos indiretos.

É importante checar o que oferece cada bandeira do cartão e cada instutição financeira para garantir que mesmo na hora da despesa você consiga acumular ganhos, como cashback, que podem ser convertidos em outros benefícios no futuro - quem sabe uma viagem.

A planejadora financeira da Planejar lembra que até usar milhas exige planejamento, mas que, na ausência dele, ainda é melhor resgatá-las do que gerar endividamento.

5 - PARCELAR OU PAGAR À VISTA?

"Evite comprometer o orçamento futuro ou contar com receitas que ainda não existem"

Theo Braga, da SME The New Economy

Com juros altos, decidir pelo pagamento à vista ou parcelado vai depender do contexto. Se houver desconto real, pagar à vista é melhor. Caso contrário, o parcelamento sem juros pode preservar o caixa, desde que não comprometa as próximas faturas. “Evite comprometer o orçamento futuro ou contar com receitas que ainda não existem”, alerta Braga.

O CEO do Férias & Co. recomenda que os parcelamentos não se estendam por mais do que seis meses.

6 - NÃO CAIA EM ARMADILHAS DISFARÇADAS DE PROMOÇÃO

Desconfie de ofertas com urgência artificial, sem política de cancelamento clara ou taxas escondidas. Segundo Monteiro, uma promoção verdadeira terá preço competitivo frente a plataformas consolidadas e avaliações recentes.

Clay reforça: “compare o mesmo pacote em diferentes sites e consulte diretamente o hotel e a companhia aérea. Muitas vezes, o barato sai caro”.

7 - COMO ECONOMIZAR SEM PERDER A EXPERIÊNCIA

Trocar restaurantes turísticos por locais bem avaliados, priorizar atrações culturais gratuitas e planejar refeições com antecedência ajuda a manter o orçamento sob controle. “Evite comer fora em todas as refeições ou contratar tours fechados por impulso”, recomenda Braga.

Além disso, segundo Carone, escolher destinos com atrações naturais, trilhas ou festivais locais pode garantir experiências memoráveis com baixo custo.

8 - EXAGEROU? DÁ PARA RECUPERAR

Se você gastou mais do que devia, a primeira providência é revisar o orçamento, cortar despesas não essenciais e evitar novos parcelamentos. “Um mês de ajuste já ajuda a reduzir boa parte do impacto”, afirma Monteiro.

A planejadora financeira da Planejar destaca que quem tem um orçamento mais comprometido vai precisar fazer concessões maiores. “Deixar de sair, trabalhar mais ou adiar outros planos. Mas o mais importante é aprender para a próxima vez”.

9. NUNCA USE A RESERVA DE EMERGÊNCIA

Os especialistas são unânimes ao dizer para nunca usar a reserva de emergência.

“A reserva de emergência não para lazer. Usá-la em viagens sinaliza desequilíbrio financeiro. Se for viajar, que seja com capital fora dessa reserva”, diz Braga.

Para Clay, ela pode ser encarada como um seguro, que é acionado em situações inesperadas de curto prazo, um acidente pessoal ou doméstico, uma queda ou falta total de renda no curto prazo, uma condição de saúde inesperada, mas passageira. “Portanto, usar a reserva de emergência para a viagem é um risco para este seguro, caso alguma situação inesperada ocorra.”

ESCOLHAS CONSCIENTES, E BOAS FÉRIAS

Viajar de última hora pode parecer prazeroso. Mas isso não significa jogar dinheiro fora. Com escolhas conscientes, priorização de gastos e o uso inteligente de benefícios financeiros, é possível descansar sem carregar dívidas na mala.

Afinal, férias boas são aquelas que deixam lembranças, não boletos.


SOBRE A AUTORA

Márcia Rodrigues é jornalista especializada em economia e empreendedorismo. Vegetariana e apaixonada pela defesa de causas sociais, am... saiba mais