Inflação em alta traz oportunidades para investidores

Conheça os ativos financeiros que têm sua performance atrelada direta ou indiretamente ao aumento de preços e aprenda a identificar as melhores oportunidades

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Maira Escardovelli 7 minutos de leitura

No dia a dia, o aumento de preços preocupa quem vai ao supermercado e tem pago uma conta mais alta. Para os profissionais que olham com lupa as perspectivas para a economia, a previsão não é de melhora no curto prazo, com a expectativa de alta da inflação.

Ainda assim, é possível aproveitar oportunidades de ganho com o avanço dos preços no país quando se olha para os ativos atrelados, direta ou indiretamente, à inflação.

O boletim Focus do Banco Central (BC), divulgado nesta segunda-feira (03), mostrou um aumento da expectativa da inflação pelos analistas em relação à semana anterior. As projeções do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) para este ano passaram de 5,50% para 5,51%. Para 2026, o esperado é de 4,28%.

Na visão dos especialistas, a taxa de câmbio depreciada, que pressiona o preço de bens alimentícios e industrializados, e a atividade mais aquecida estão entre os principais motivos para as projeções maiores.

COPOM USA SELIC COMO ANTÍDOTO

Na última quarta-feira (29), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic (a taxa básica de juros) em 1 ponto percentual, saindo de 12,25% para 13,25%. O BC persegue a meta de inflação de 3%, com 1,5 ponto de tolerância para cima (4,5%) ou para baixo (1,5%).

Diante desse cenário, analistas indicam que investimentos atrelados à inflação tendem a continuar sendo beneficiados, como o Tesouro IPCA+ e os ativos de crédito privado. Entre eles, debêntures, CRIs (Certificado de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio).

“Vale apostar nos títulos atrelados pelo IPCA+ com uma taxa de juro real que no momento se encontra muito atrativa (acima de IPCA + 7%) e são bem mais satisfatórios que o CDI", explica Victor Furtado, Head de Alocação da W1 Capital. Nos últimos 15 anos, o certificado não chegou a entregar 3% de juro real.

OPORTUNIDADE COM O CRÉDITO PRIVADO

Com o aumento da taxa Selic (principal instrumento para controlar a alta da inflação), os analistas afirmam que também há boas possibilidades para títulos de crédito privado. Isso porque existe a possibilidade de ganho na marcação a mercado se o título for levado até o vencimento, com a remuneração da taxa prefixada.

“E se os juros começarem a ter um cenário de queda, o investidor já passa a rentabilizar mais ganhos nessas aplicações sem necessariamente esperar até o vencimento”, pontua Thiago Carone, Head Comercial na Nova Futura Investimentos.

Entre os setores de títulos privados, são apontados como atrativos aqueles que oferecem serviços que dificilmente terão uma diminuição de consumo, independente do momento econômico, como energia e saneamento, e que também conseguem repassar para os investidores a inflação no custo de seus produtos.

Carone indica uma alocação entre 25% e 35% para os ativos de renda fixa no momento da composição da carteira. Mas, considerando emissões bancárias que também pagam uma variação do IPCA, a porcentagem da composição pode ser ainda maior, chegando a 40% em um montante saudável.

O restante deve ser diversificado em fundos multimercados ou imobiliários, renda variável e outros investimentos.

A ESCOLHA DOS PRAZOS

Apesar da definição dos prazos de vencimento dos títulos ser balizada pela reserva que o investidor tem, de fato, para aplicar, é recomendado que o investimento não seja feito em um horizonte muito longo. Da mesma forma, não é aconselhado que o recurso seja inteiramente alocado nesses rendimentos, dado a incerteza que o contexto de inflação provoca.  

“Principalmente quando pensamos em títulos de emissão bancária, como os CDBs, NCIs e NCAs. Pode ser que esse cenário piore ainda mais e o investidor consiga taxas melhores lá na frente”, explica Carone.

“Então, ele pode tentar fazer uma composição em crédito privado, um pouco em renda fixa de [títulos] bancários ou fundos, separando valores para alguns momentos específicos, uma parte para a reserva de oportunidades futuras”, indica Carone.

ALTA DA INFLAÇÃO

Na visão de Carone, o prazo de um ou dois anos pode ser interessante para os investimentos atrelados à inflação, para que se entenda melhor o cenário que pode mudar constantemente.

Para Furtado, a inflação deve ser vista como um produto de médio e longo prazo, principalmente quando se fala de aplicações de IPCA+.

O especialista da W1 Capital recomenda que, se o investidor quiser se proteger no curtíssimo prazo, o CDI costuma ser suficiente, já que o certificado estará alto em momentos de inflação também alta.

“Mas quando olhamos para o longo prazo, só o IPCA + e o investimentos dolarizados mostram um potencial acima da média”, pontua Furtado.

Já os títulos de crédito privado, por terem uma ampla negociação no mercado secundário, podem ser atrativos em um horizonte mais longo. Carone afirma que um bom momento para vender as debêntures pode estar no contexto do recuo da inflação e da perspectiva de queda da Selic. 

COMO FICAM OS RISCOS?

Entre os pontos de atenção estão, principalmente, a definição incorreta do prazo de investimento e do conhecido “default” dos títulos de crédito privado - quando a empresa descumpre o compromisso e não paga as dívidas ou juros.

Há, ainda, a própria classificação de risco dessas companhias privadas. Segundo Carone, existem empresas que estão emitindo 11% ou 12% mais IPCA, enquanto emissores sólidos estão pagando 7% ou 8% mais IPCA.

A questão é importante, já que, diferentemente dos títulos bancários, o crédito privado não tem a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para o investidor.

Já nos fundos de investimentos, Carone pontua que vale se atentar também à estratégia dos gestores.

“É preciso entender o que eles [os gestores] estão utilizando dentro do fundo para gerar rentabilidade, porque alguns têm um prazo de resgate mais longo. E, em um cenário pior, o investidor pode precisar daquele recurso e não conseguir ter o valor no momento”, afirma Carone.

O analista Furtado observa o “risco de reinvestimento”, ou seja, a etapa em que um título de renda fixa vence e o investidor não consegue encontrar uma opção de aplicação com a mesma taxa de juros.

OUTROS INVESTIMENTOS ATRATIVOS

Para além das aplicações atreladas à inflação, existem outras opções que podem trazer rendimentos atrativos no cenário de oscilação alta dos preços.

O economista da W1 Capital, cita, por exemplo, ter uma parcela relevante do patrimônio aplicada em dólar - seja comprando a moeda ou investindo em renda fixa americana -, que nos últimos anos teve retorno acima do IPCA.

Como a cesta brasileira é muito afetada pela variação da moeda, os analistas explicam que o investimento americano é uma forma de se proteger de possíveis desvalorizações cambiais e da oscilação de preços.

OLHO NO OURO

O ouro é outro ativo interessante para o momento, segundo Thiago Carone, da Nova Futura Investimentos,. Em 2024, o ativo atingiu recordes históricos, subindo mais de 30%.

Existem fundos com uma boa rentabilidade referenciados no metal, pontua Carone. Segundo o especialista, é uma aplicação que os investidores procuram historicamente em momentos de incerteza. É o caso atual de cenário de inflação alta, "já que não é natural que [o consumo] se mantenha com um patamar de preços muito elevado por muito tempo”.

Na visão do analista, para um horizonte de médio ou longo prazo, o mercado de renda variável também oferece boas oportunidades. Isso porque, com o cenário de fuga de capital no Brasil provocado pela alta de juros, os investidores costumam exigir um prêmio de risco maior para a aplicação.

“Nesse momento de dificuldade [econômica], embora os investidores procurem alguma coisa mais confortável e segura, o mercado de renda variável abre muitas possibilidades”, afirma Carone.

Entre elas, o analista indica ativos no setor de saneamento e as elétricas, além de companhias que trabalham com commodities

Vale lembrar que ativos atrelados à renda variável pode levar a perdas. É importante lembrar ainda que, além do contexto e das condições futuras, o investidor deve levar em consideração qual é o seu perfil. São eles o moderado, agressivo e conservador. Além disso, é preciso considerar qual é a meta, ou seja, qual é o objetivo que se tem para determinado investimento.


SOBRE A AUTORA

Maira Escardovelli vive entre palavras, números e uma boa dose de poesia. É jornalista e gosta de ter um olhar atento para o que a soc... saiba mais