Leite vegetal na cesta básica? Se depender da Nude, sim! 

Giovanna Meneghel, cofundadora da foodtech, uma das empresas líderes no segmento de leite vegetal, defende igualdade de condições tributárias com o leite de vaca

Nude, bharath kumar/Unsplash

Maira Escardovelli 6 minutos de leitura

Hoje, estas são as regras no Brasil: um leite vegetal que tem impacto ambiental até 10 vezes menor do que o leite de vaca, mas que paga 27% a mais na tributação. Reverter esse cenário é uma das principais pautas para 2025 da foodtech Nude.

A Nude foi lançada há cinco anos e se concentra no segmento de produtos alimentícios de origem vegetal, sob o apelo de gerar uma baixa pegada de carbono.

SETOR ORGANIZADO

Ao lado das empresas NotCo, Positive Company (da marca A tal da Castanha), Vida Veg e Natural One, a Nude criou em 2023 a associação Base Planta para ampliar a discussão e promover uma condição tributária igualitária com o leite de vaca, que hoje é isento de imposto. 

Os associados da Base Planta representam 55% do mercado brasileiro que produz bebidas vegetais. Os alimentos à base de plantas são tributados pelo Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de acordo com cada estado, e pelo PIS/COFINS de 9,25%. 

A Nude seria uma das beneficiadas por uma possível revisão tributária. Seu portfólio tem no centro da produção, atrelada à baixa emissão de carbono. 

POTENCIAL DO LEITE VEGETAL

O Brasil é um país onde ainda há muito espaço para crescimento da categoria de leite vegetal, avalia Giovanna Meneghel, CEO e cofundadora da marca. No segmento de leite de vaca, a versão vegetal consegue ter uma penetração de 2% entre esses os consumidores. Na Europa, este número está em 10% e nos Estados Unidos em 20%.

A Nude não abre dados de faturamento nem de volumetria, mas afirma ter chegado a um crescimento de 70% em 2024. A tributação é o principal desafio para a expansão. Na visão de Giovanna, uma paridade tributária ampliaria o acesso por conta da redução do preço. A produção, com o ganho de escala, também poderia conseguir chegar a um custo menor.

Na França, por exemplo, o imposto do leite de vaca e do leite vegetal é o mesmo (5,5%), assim como em Portugal (6,6%).  

“O leite de vaca está na cesta básica e é um alimento que faz sentido estar quando falamos de um país como o Brasil. Mas, por que não o leite vegetal também?", questiona a empresária. "Estamos falando de um produto em que pessoas, que talvez tenham uma condição de saúde que não podem tomar o leite de origem animal, hoje não conseguem ter acesso”. 

NÃO É SÓ PARA OS INTOLERANTES

Cerca de 51% da população brasileira tem predisposição para desenvolver intolerância à lactose, o açúcar do leite, de acordo com o estudo “O perfil do DNA do brasileiro na saúde e bem estar”, do laboratório Genera. A pesquisa analisou dados de 200 mil DNAs de todas as regiões do país. 

A empreendedora lembra que já ouviu que seu produto é para quem tem intolerância, com um tamanho de mercado restrito, um nicho. No entanto, a fundadora da Nude acredita que é uma mudança de como se vê o negócio.

"Afinal, quem tem intolerância pode tomar o leite vegetal. Da mesma forma, quem não tem intolerância também. Eu posso atender todo mundo, ele (o leite de vaca) só atende um pedaço", ressalta Giovanna. 

INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

A Nude conseguiu em cinco anos chegar a 5 mil pontos de venda no Brasil, além de exportações para Uruguai, Chile e Colômbia. A marca está ampliando a sua linha de produtos sustentáveis à base de aveia de olho nas possibilidades de alcançar um público maior.

Neste ano, chegam aos supermercados o Nude Kids Chocolate e o Nude Barista Baunilha, desenvolvido para o processo de vaporização da bebida e uso combinado com café, matchá, golden milk e chai latte. 

Outra aposta é o cereal upcycling, feito com a biomassa resultante da filtragem da base do leite de aveia. O produto, rico nutricionalmente, foi premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) durante a Conferência das Mudanças Climáticas (COP 29), em 2024. 

“Foi uma inovação que surgiu da mudança de olhar para a nossa cadeia de produção. Queríamos voltar a nossa atenção para o que a gente podia fazer nesse lugar para diminuir a pegada de carbono e o nosso impacto”, comenta Giovanna.

AVANÇO NO ESCOPO 3

A iniciativa faz parte da estratégia de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) do escopo 3, originadas de operações comerciais por fontes que não são de propriedade ou controladas diretamente por uma organização. É o caso da cadeia de suprimentos, transporte, uso ou descarte de produtos.

“Atualmente, os leites de aveia de um litro representam o maior volume dentro do nosso portfólio. É exatamente deles que extraímos o resíduo do processo de filtragem utilizado em nosso cereal e, assim, reduzimos as emissões do escopo 3”, explica a fundadora da Nude.

“A redução nessa cadeia é o mais difícil. Tanto é que muitas empresas que falam que vão se tornar neutras até 2030 só estão considerando os escopos 1 e 2”, analisa. 

Em 2023, a marca deixou de emitir 8.238 toneladas de dióxido de carbono. Os dados do ano passado estão em fase de certificação.

PEGADAS DE CARBONO

Muitas empresas, seja por vocação ou por pressão do mercado (consumidores, setor financeiro, governos) têm anunciado nos últimos anos o compromisso de contribuir para a redução das emissões de GEE. O caminho da maioria é a neutralização. Ou seja, os gases são emitidos e a emissora compra créditos de carbono para neutralizar sua pegada.

A Nude optou por ter uma operação que emite o mínimo possível de carbono. “Vimos que nosso investimento seria muito mais efetivo se a gente colocasse na mitigação, não na neutralização, que é pegar um dinheiro e comprar o crédito. O esforço tem de garantir que aquele crédito realmente existe. Mas, se todo mundo for neutralizar, não existe crédito”, afirma a CEO da marca.

Todas as caixinhas dos produtos estampam a pegada de carbono. Por ora, a foodtech não chegou a 100% de mitigação.

PROCESSO CERTIFICADO

O lançamento Nude Barista, por exemplo, tem uma pegada de apenas 0,54kg CO2e/kg. Os cálculos dos alimentos da marca são elaborados e analisados pela Future Climate Group.  

A Nude também faz parte do Programa Brasileiro GHG Protocol desde 2020, com três inventários Selo Prata disponíveis no Registro Público de Emissões.

“A gente acredita muito que, estampando esse número na embalagem, estamos empoderando o consumidor para que ele possa fazer escolhas mais sustentáveis e consumir produtos de menor impacto. A grande missão da Nude é ajudá-lo nessa transição para uma economia de baixo carbono”, comenta Giovanna. 

Dessa motivação nasceu a campanha #MostraSuaPegada, que convida outras empresas a compartilharem suas emissões de carbono. 

Marcas como Natura, Grupo Malwee, Movida e Hering aderiram ao movimento.


SOBRE A AUTORA

Maira Escardovelli vive entre palavras, números e uma boa dose de poesia. É jornalista e gosta de ter um olhar atento para o que a soc... saiba mais