Mattel e OpenAI: vem aí a nova era dos brinquedos com IA?

A parceria entre as duas empresas pode marcar a aceleração do uso de inteligência artificial nos itens para crianças; mas qual seria o limite?

Mattel se junta à OpenAI para uma parceria estratégica de inteligência artificial
Crédito: Fast Company Brasil

Paula Pacheco 5 minutos de leitura

O anúncio recente da parceria entre a Mattel e a OpenAI foi chamado no comunicado oficial de uma “colaboração estratégica para oferecer suporte a produtos e experiência com tecnologia de inteligência artificial (IA) baseados nas marcas”. Mas a iniciativa aponta para uma direção: como a fabricante de brinquedos como Barbie e Hot Wheels pode acelerar os passos e, assim como concorrentes dos EUA, China e Índia, mudar a forma de as crianças brincarem.

ACORDO DE GENTE GRANDE

O acordo entre a líder global do segmento de brinquedos e entretenimento infantil e a empresa comandada por Sam Altman terá como uma das missões desenvolver projetos de IA para jogos.

 No projeto de colaboração, as duas companhias prometem enfatizar “a segurança, a privacidade e a proteção nos produtos e experiências”, que desenvolverem juntas – mensagem endereçada aos pais, preocupados com o acesso à IA pelas crianças.

O primeiro produto deve ser anunciado ainda este ano. As duas parceiras confirmaram que a Mattel irá incorporar as ferramentas avançadas de IA da OpenAI, como o ChatGPT Enterprise, em suas operações comerciais para, segundo promessa, aprimorar o desenvolvimento de produtos e a concepção criativa, impulsionar a inovação e aprofundar o engajamento com seus consumidores.

“Por meio da OpenAI, a Mattel terá recursos avançados de IA que podem impulsionar o desenvolvimento e as operações de produtos e experiências de consumo”, declararam as companhias.

MATTEL MIRA LIDERANÇA EM INOVAÇÃO

“Com a OpenAI, a Mattel tem acesso a um conjunto avançado de recursos de IA, além de novas ferramentas para permitir produtividade, criatividade e transformação em escala em toda a empresa”, disse Brad Lightcap, diretor de Operações da OpenAI, por meio de nota.

Já do lado da Mattel, segundo declarou na mesma nota o diretor de Franquias, Josh Silverman, é alavancar novas tecnologias para consolidar a liderança da companhia em inovação e desenvolver novas formas de brincar”.

Como a divulgação do acordo entre Mattel e OpenAI não trouxe muitos detalhes sobre o que se deve esperar nas prateleiras das lojas de brinquedos, ainda não é possível cravar qual será o impacto no setor. O fato é que os lançamentos para o público infantil já têm incluído itens com IA embarcada.

IA DE BRINQUEDO-ROBÔ APRENDE HABILIDADES

Uma das marcas que conseguiu popularizar seus produtos é a Miko, com sede na Índia, fundada em 2015. A empresa é dedicada a projetos voltados ao desenvolvimento de robôs educativos para crianças.

A empresa informa em seu site ser líder no mercado global de robôs interativos de aprendizagem, com 700 mil unidades vendidas.

O principal produto - o robô Miko 3, lançado em 2021 - combina recursos de conversas baseadas em IA com um conjunto de conteúdo educacional. Assim como a Alexa, da Amazon, o Miko 3 é acionado por voz.

Com a capacidade de interação com o usuário, o brinquedo pode ser 100% controlado pelos pais das crianças. Eles encontram recursos como a possibilidade contextualizar os assuntos para que o Miko comece a se envolver em mais conversas sobre temas pré-estabelecidos voltados ao desenvolvimento de determinadas habilidades, como as sociais.

Nas chamadas trocas entre a criança e o robô, Miko aprenderá como a criança responde, bem como seus interesses e nível de engajamento, disse vice-presidente sênior de crescimento da empresa, Ritvik Sharma, em entrevista concedida ao canal americano de TV Fox News, em julho de 2023.

"É uma experiência muito personalizada, combinada com muita IA e tecnologia avançada", explicou Sharma. O executivo ressaltou na ocasião que o brinquedo com IA não possibilita que a criança tenho acesso direto à internet.

O QUE DIZEM OS CHINESES?

A exemplo do que faz o robô Miko, os brinquedos integrados a grandes modelos de IA têm permitido novas experiências interativas na hora de as crianças se divertirem. Por exemplo, indo além da compreensão dos padrões de linguagem da criança ao aprender e se adaptar de forma inteligente com base nas reações. Como resultado, é possível contar com serviços interativos personalizados.

O novo momento da indústria de brinquedos está atrelado à popularização de recursos de IA. No caso da China, gigante do setor, a expansão do DeepSeek – com sua promessa de uma inteligência artificial com um custo menor do que o da concorrência do Ocidente - deu à indústria local condições de acelerar ainda mais o desenvolvimento de produtos com este tipo de tecnologia embarcada.

Segundo a imprensa oficial chinesa, uma das empresas que tem se destacado na aceleração do processo de inovação em IA é a startup FoloToy, de Xangai. A empresa usou chips de IA chineses e o DeepSeek para transformar brinquedos fofinhos em formato de animais em tutores interativos de inglês e companheiros diários para crianças, nas palavras de Wang Le, fundador e CEO, à agência Xinhua.

De acordo com a agência, a FoloToy começou entrou no mercado de brinquedos com integração de IA em 2023. No ano passado, a empresa vendeu mais de 20.000 unidades por meio de plataformas de comércio eletrônico como Tmall e Amazon.

Outro caso curioso é o de Sun Lijuan, proprietário e designer de uma loja de brinquedos na cidade de Yiwu, província de Zhejiang, no leste da China. Trata-se de um importante centro global de comércio varejista de brinquedos. A cadeia industrial altamente eficiente da localidade permite que novos produtos passem do conceito à produção em apenas um dia, aumentando a vantagem competitiva dos fabricantes.

"Projetamos bonecas inteligentes que falam árabe para o mercado do Oriente Médio, com cerca de 70% dos nossos pedidos recentes vindos da região", disse Sun Lijuan à agência oficial.

FUTURO PROMISSOR PARA GENTE GRANDE

Dados mais recentes divulgados pelo governo chinês apontam para planos de investimento em IA da ordem de 10 trilhões de yuans (cerca de US$ 1,4 trilhão) nos próximos 15 anos.

As projeções de recursos para projetos de inteligência artificial na segunda maior economia do mundo mostram que os brinquedos com esses recursos fazem parte de um jogo muito maior, que vai acelerar diferentes setores. Quando se trata do presente e do futuro da IA, a brincadeira é de gente grande.


SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais