O que significa o recorde de pontos na bolsa de valores

A bolsa paulista tem registrado bons desempenhos e atingido as melhores performances históricas; saiba como isso afeta os seus ganhos com ações

Gráfico mostrando tendência de alta
Olena Koliesnik via Getty Images

Márcia Rodrigues 5 minutos de leitura

A recente alta do Índice Bovespa (o Ibovespa), que ultrapassou os 140 mil pontos pela primeira vez na história, tem sido celebrada por analistas e investidores como um marco relevante. Mas, afinal, o que essa pontuação quer dizer na prática? O que muda na vida de quem investe – ou quer começar a investir? E mais: existe um componente psicológico envolvido nesses momentos?

O QUE SIGNIFICA A PONTUAÇÃO DA BOLSA?

Os especialistas Pedro Galdi, analista de investimentos da AGF, e Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, explicam o que o recorde representa, os possíveis impactos para o investidor pessoa física e os principais pontos de atenção para quem quer tomar decisões com mais racionalidade.

O número divulgado no noticiário econômico, como os 140 mil pontos atingidos pelo Ibovespa, não representa um valor em reais, mas sim um índice de desempenho das ações mais negociadas da B3, explica Galdi.

Criado em 1968, o Ibovespa hoje reflete a média do desempenho de 87 ações de 84 empresas brasileiras, com pesos diferentes conforme o volume negociado por cada uma.

Na prática, o índice serve como um termômetro do sentimento do mercado, indicando o desempenho médio das ações mais representativas do país, acrescenta Serra.

POR QUE OS 140 MIL PONTOS SÃO UM MARCO?

Embora seja apenas uma “marca numérica”, superar esse patamar indica ao mercado um novo nível de confiança e otimismo. Marcos como esse costumam virar “âncoras” para decisões econômicas, funcionando como zonas de suporte ou resistência, de acordo com Serra.

Além disso, os 140 mil pontos representam a maior pontuação nominal da história do índice, reforçando o apelo do recorde, completa o analista de investimentos da AGF.

O QUE MUDA PARA O INVESTIDOR PESSOA FÍSICA?

Para quem já investe, a alta pode significar valorização da carteira, mas também pode ser o momento de reavaliar a estratégia, considerar uma realização parcial de lucros e reforçar a diversificação, diz Serra. Apesar do recorde, segundo o analista da AGF, “nada muda”, especialmente para quem investe com foco no longo prazo e no fluxo de dividendos.

Já para aqueles que ainda estão de fora, ambos os analistas são unânimes: é preciso cautela. Entrar na euforia pode levar a decisões impulsivas.

“O ideal é ter clareza sobre objetivos, perfil de risco e adotar uma estratégia de entrada gradual, com foco no longo prazo”, afirma o analista da Toro Investimentos. “Se a visão for aumentar posições por anos, nada muda”, reforça Galdi.

A EUFORIA PODE ATRAPALHAR?

Querer surfar em um momento de euforia do mercado é arriscado. Ambos os analistas apontam que recordes como o atual podem gerar comportamentos impulsivos e de manada.

“A quebra de recordes pode gerar euforia, medo de ficar de fora e viés de confirmação”, explica o analista da Toro Investimentos.

Porém, Galdi destaca que esse tipo de marco pode criar a falsa impressão de que a Bolsa está “cara”, o que nem sempre é verdade.

Para manter a racionalidade, os especialistas recomendam foco no tripé fundamentos, carteira diversificada e estratégia de longo prazo.

“Escolher ações com bons fundamentos e políticas consistentes de dividendos ajuda a neutralizar o efeito de oscilações de curto prazo”, diz o analista da AGF.

Serra ressalta a importância de seguir um plano de investimentos alinhado ao perfil de risco e evitar decisões baseadas em boatos ou modismos.

O QUE ESPERAR AGORA?

O recorde do Ibovespa é um marco importante, mas não deve ser o único critério para tomar decisões de investimento. Para o investidor pessoa física, o mais relevante continua sendo o tripé "planejamento, foco no longo prazo e disciplina".

Como resume o analista da AGF: “para quem busca uma carteira previdenciária, só seguir sua estratégia de alocação constante.”

Serra, da Toro Investimentos, reforça: “recordes não garantem lucros futuros. Investir é uma maratona, não uma corrida de 100 metros.”

A BOLSA REFLETE A ECONOMIA REAL?

Uma dúvida frequente é se o desempenho das ações negociadas na bolsa reflete o comportamento da economia real. A resposta é: em termos.

A pontuação do Ibovespa antecipa expectativas sobre empresas e economia, mas não representa toda a realidade brasileira, como o mercado informal, pequenas empresas ou desigualdade social, pontua o analista da Toro Investimentos.

Galdi complementa que, com a globalização, outros indicadores e notícias externas – como guerras ou mudanças na política monetária dos EUA – também impactam fortemente o desempenho da Bolsa brasileira.

RESULTADO GERA OTIMISMO PARA O BRASIL

Os especialistas avaliam que os dados geram uma visão positiva para o país, impulsionada por fatores como expectativa de queda de juros, bons resultados corporativos e entrada de capital estrangeiro.

No entanto, Galdi alerta que qualquer deslize do governo em seus planos econômicos pode mudar o humor do mercado rapidamente.

COMO SÃO FEITAS AS PROJEÇÕES DA BOLSA?

As previsões para o Ibovespa envolvem diferentes métodos: desde o tradicional valuation das empresas que compõem o índice até técnicas como projeção de múltiplos, fluxo de caixa descontado e análise técnica gráfica.

Entre os indicadores analisados, estão PIB (Produto Interno Bruto), inflação (medida pelo IPCA), juros (Selic, a taxa básica de juros), câmbio, lucro corporativo, fluxo de caixa e preços de commodities.

O QUE ESPERAR PARA 2025?

As últimas projeções para o Ibovespa variam entre 150 mil e 160 mil pontos. Apesar do otimismo, os especialistas recomendam acompanhar o fluxo de notícias e rever estratégias conforme o cenário evolui. Não se trata de cautela excessiva, mas de estar informado e preparado para ajustar a rota, se necessário.

“O Departamento Econômico do Santander Brasil revisou recentemente a projeção para o índice no ano, fundamentado na redução do custo de capital. Ainda assim, no curto prazo, é possível que vejamos volatilidade, especialmente diante de incertezas tanto no mercado interno quanto externo, o que exige cautela por parte dos investidores e foco em horizontes de longo prazo”, pontua Serra.


SOBRE A AUTORA

Márcia Rodrigues é jornalista especializada em economia e empreendedorismo. Vegetariana e apaixonada pela defesa de causas sociais, am... saiba mais