Pagar dívida, investir ou gastar: o que fazer com a restituição do IR
Veja em quais circunstâncias cada um destes cenários é mais vantajoso e aproveite o dinheiro extra da forma mais inteligente

Receber a restituição do Imposto de Renda costuma ser um alívio no orçamento. Mas o que fazer com esse dinheiro extra? Quitar dívidas, aplicar em investimentos ou usar em gastos pessoais são três caminhos possíveis. Cada um deles pode ser mais vantajoso dependendo do momento financeiro de quem recebe.
DÍVIDAS: PRIORIDADE NÚMERO UM
As planejadoras financeiras Rejane Tamoto CFP® e Viviane Ferreira CFP® explicam qual é a melhor estratégia para usar a restituição de forma inteligente.
Se a pessoa tem dívidas, segundo Rejane, a prioridade deve ser quitá-las, especialmente se envolvem linhas de crédito caras, como cheque especial ou rotativo do cartão de crédito.
“Se a dívida for relacionada ao uso do cheque especial, rotativo do cartão ou parcelamento da fatura, será necessário quitá-la de forma imediata”, afirma Rejane. São linhas são onerosas. Segundo o Banco Central, em abril, a taxa média de juros do rotativo do cartão era de 443,3% ao ano e do cheque especial chegava a 135,5% ao ano.
Mesmo o crédito pessoal — considerado mais barato — tem custo médio de 106,2% ao ano. Já o Tesouro Selic, uma aplicação de baixo risco, rende hoje cerca de 15% ao ano. O percentual é menor do que o pago em um empréstimo consignado, que em média é de 27,2% ao ano. “Ou seja, mesmo os investimentos conservadores rendem muito menos do que o que se paga de juros em dívidas. Por isso, o melhor uso da restituição é para quitá-las”, diz Rejane.
Viviane reforça a análise de Rejane. “as dívidas geralmente têm uma taxa de juros mais alta do que a taxa que se teria com retorno de investimento. Só não vale a pena pagar se for uma dívida com juros baixos, e se a pessoa tiver controle suficiente para aplicar o dinheiro e ir quitando aos poucos”.
Rejane, porém, faz uma ressalva. “Em uma situação na qual as dívidas não estejam comprometendo o orçamento. Ou seja, em que exista capacidade de pagamento das parcelas em dia, além das contas fixas de consumo e variáveis, pode ser uma opção adequada investir a restituição para formar uma reserva de emergência ou acumular para outros projetos.”
QUANDO INVESTIR É MELHOR
Para quem não está endividado ou já tem o orçamento sob controle, a restituição do Imposto de Renda pode (e deve) ser direcionada a investimentos, principalmente para compor ou reforçar a reserva de emergência.
“Ter uma reserva de emergência é uma proteção contra o endividamento. Por isso, recomendo reforçá-la antes de gastar a restituição com itens de consumo”, orienta Rejane. Ela destaca ainda que o Tesouro Selic é uma boa alternativa para essa finalidade, especialmente por seu baixo risco e rendimento atual em torno de 15% ao ano.
Viviane segue na mesma linha. “Eu priorizaria que esse dinheiro fosse para construção da reserva de segurança ou aposentadoria, algo nessa linha, em vez de gastar o dinheiro. A verdade é que a gente gasta muito mais quando vê o dinheiro na conta, e muitas vezes de forma desnecessária”.
Outra possibilidade apontada por Rejane é aplicar o valor em previdência privada, especialmente para quem faz aportes anuais em planos PGBL para reduzir a base de cálculo do IR. “É uma forma de manter a eficiência fiscal e ainda aumentar os investimentos para aposentadoria”, diz.
PODE GASTAR? PODE, MAS COM CRITÉRIO
Ainda que o ideal seja pagar dívidas ou investir, nem todo gasto é proibido, desde que seja consciente, planejado e realmente necessário.
“Se for algum gasto que a pessoa realmente precisa fazer agora e conseguir um bom desconto pagando à vista, pode valer a pena. Mas eu não inventaria um gasto desnecessário só porque o dinheiro caiu na conta”, alerta Viviane.
Já Rejane sugere que o consumo seja programado, sempre que possível. “Uma ideia interessante é planejar compras de maior valor para o período de liquidações, como a Black Friday, e até lá manter a restituição investida em reserva”, diz.
Além disso, ressalta Viviane, há gastos sazonais que podem ser antecipados com a restituição — como os de janeiro, particularmente pesados. “Dá para guardar esse dinheiro para pagar IPVA, material escolar e outras contas típicas de começo de ano.”
UM PASSO DE CADA VEZ: COMO DECIDIR
Para tomar a melhor decisão, é essencial ter clareza sobre o próprio orçamento. “Organize o fluxo de caixa, registre receitas e despesas dos últimos meses e avalie sua capacidade de pagamento”, orienta Rejane.
Esse mapeamento evita decisões precipitadas, como contratar novos empréstimos com garantia (como o consignado), sem ter certeza sobre a capacidade de pagamento. “Acompanhamento de um profissional de planejamento financeiro nessa etapa pode evitar que se coloque em risco bens como o imóvel, o carro ou até o próprio salário”, completa a especialista.
Ou seja, a escolha entre pagar dívidas, investir ou gastar depende de fatores como endividamento, controle orçamentário e objetivos de curto e longo prazo. A restituição do IR pode ser uma oportunidade de reorganizar as finanças, e não um convite para gastar por impulso.