Prefixado, pós ou híbrido: guia para definir seu investimento

Entenda o que está por trás de cada tipo de ativo e como suas características devem ser levadas em consideração na hora de montar uma carteira de investimentos

Prefixado, pós ou híbrido? O guia para escolher o título certo para sua carteira
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Paula Pacheco 7 minutos de leitura

Entender as características dos principais tipos de investimento é o primeiro passo antes de qualquer decisão sobre o que fazer com o dinheiro. Por exemplo, como escolher entre investimentos prefixados, pós-fixados e híbridos? Quais são suas diferenças, como alinhar seus objetivos e seu perfil à essa decisão, levando em consideração o cenário econômico?

O QUE MARCA OS PÓS-FIXADOS

Investimentos pós-fixados, prefixados e híbridos diferem pelo indexador e, portanto, pela sensibilidade aos ciclos de juros e inflação, sintetiza Caio Camargo, estrategista de Investimentos do Santander.

“O pós-fixado (normalmente atrelados a um indicador da economia, como CDI e/ou Selic) rende o que o índice render e oscila pouco, sendo ideal quando a taxa básica de juros brasileira, a Selic estiver em patamares mais altos e em certa estabilidade, em ambientes de incerteza ou para reservas de liquidez”, explica o estrategista.

Mais conhecidos entre os investidores brasileiros e normalmente escolhidos como o primeiro passo por aqueles que querem fazer uma aplicação, os pós-fixados. Como resume Julianne Simões, planejadora financeira e consultora de valores mobiliários, com certificação CFP®e integrante da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros, são títulos em que a rentabilidade só é conhecida depois do investimento, porque depende de como essas taxas vão se comportar ao longo do tempo.

“Se você é um investidor comum, a Selic ou o CDI funcionam como um guia. Como analogia, imagine quando alguém vai negociar um carro e consulta a tabela FIPE para ter uma referência de preços. Nos pós-fixados, a referência é a Selic ou o CDI. Hoje, por exemplo, a Selic está em 15% ao ano”, ilustra a especialista.

A LÓGICA DO PREFIXADO

No caso dos prefixados, segundo Camargo, a lógica é outra. “Aqui, a taxa é definida no momento da aplicação e não muda até o vencimento.”

Ou, em outras palavras, são investimentos com taxa definida de antemão. Por exemplo, 15% ao ano significa que, independentemente do que acontecer com a taxa de referência, o rendimento será esse até o prazo final, simplifica Julianne.

“Se usarmos a mesma analogia do carro, imagine que você comprou um carro pelo preço de hoje. No ano seguinte, a tabela FIPE caiu, mas nada muda no valor que você pagou, porque o preço foi definido no ato da negociação. Nos pré-fixados acontece a mesma coisa: a taxa contratada permanece até o vencimento. Esta taxa é utilizada para períodos em que os juros estão em eminência de queda”, completa a especialista.

Como o pré-fixado trava uma taxa hoje e se valoriza quando os juros caem, a tendência é que funcione melhor, segundo Julianne, em fases de desinflação com expectativa de cortes na Selic.

CARACTERÍSTICAS DO HÍBRIDO

Na definição do estrategista do Santander, o investimento híbrido (por exemplo, IPCA+ 7% ao ano) combina proteção do poder de compra com um prêmio real, com performance melhor quando a inflação está cedendo e os juros reais recuam, embora oscile mais em prazos longos.

Como regra geral, segundo Camargo, em momento de choques geopolíticos e de volatilidade elevada, a orientação é encurtar os prazos de vencimento (duration) dos títulos e privilegiar pós, manter híbridos mais curtos e ser seletivo no pré até haver mais clareza sobre o cenário.

“Em suma: mais visibilidade de queda de juros pode alongar a renda fixa da carteira, especialmente em prefixado e IPCA+. Já com menor visibilidade ou maior ruído, o melhor é encurtar a duration e privilegiar o pós-fixado”, sintetiza o estrategista do Santander.

COMO DECIDIR SOBRE O INVESTIMENTO MAIS ADEQUADO

Para definir os tipos de títulos na carteira, o investidor deve começar por três eixos, aponta Camargo: perfil de risco, horizonte/objetivo e liquidez. O que significa cada um:

- Perfil é a tolerância a oscilações sem “pular fora” no pior momento. Ou seja, se a volatilidade incomoda, concentre em pós-fixados e híbridos mais curtos.

- O horizonte dita a duration. Metas de curto prazo pedem vencimentos curtos e previsíveis e já objetivos de longo prazo admitem IPCA+ mais longos.

- Liquidez é seu paraquedas: uma reserva de 6 a 12 meses de receitas em pós-fixado evita vendas forçadas, mantem a o resgate imediato em situações emergenciais.

“Some-se a isso a qualidade de crédito do emissor, tributação (IR regressivo, isenções em LCI/LCA/debêntures incentivadas) e custos de fundos. Por fim, diversifique indexadores (CDI/Selic, Pré e IPCA+) para reduzir riscos específicos de cenário e o ideal é nunca buscar um único caminho, mas diversificar entre eles”, alerta o especialista do banco.

Antes de direcionar para um ativo financeiro específico, alerta Julianne, o mais prudente é ir além das respostas de um questionário de perfil (API). Esse retrato inicial, segundo ela, ajuda, mas não conta toda a história. A decisão deve considerar fatores da vida do investidor, como a expectativa de uso do recurso, o momento de vida e a familiaridade com o mercado de investimentos. Após essa primeira análise, também é importante ponderar o cenário econômico.

COMO MONTAR A CARTEIRA

Uma das dúvidas de quem quer investir é como compor a carteira. O primeiro ponto a ser compreendido é que, quando se trata de percentuais na carteira, não há um único caminho válido para todos os investidores, ressalta Julianne. O que costuma trazer mais tranquilidade é equilibrar duas necessidades. São elas, segundo a especialista:

- Ter segurança e acesso rápido ao dinheiro no curto prazo. 

- Buscar ganho real no longo prazo.

Na avaliação da especialista, na prática, a disponibilidade imediata pede mais espaço para os títulos pós-fixados (Selic, CDI).

Os pré-fixados podem ser interessantes quando há expectativa de queda nos juros, mas exigem cautela: se a inflação subir, o ganho real pode ser comprometido. Já os híbridos atrelados à inflação (IPCA) costumam dar mais confiança em planos de longo prazo, porque ajudam a preservar o poder de compra ao longo do tempo.

Camargo, do Santander, levanta outros pontos que o investidor deve considerar e ensina um passo a passo. Veja o que levar em consideração:

- A montagem pode seguir “três “baldes”: curto prazo (0–2 anos), metas intermediárias (2–5 anos) e longo prazo (5+ anos).

- No primeiro “balde”, use essencialmente pós-fixado (Tesouro Selic, títulos bancários de liquidez diária, fundos DI).

- Já no segundo ‘balde’, misture pós-fixado com prefixado com vencimento de curto/médio prazo e IPCA+ intermediário, casando vencimentos com as metas.

- No caso do terceiro ‘balde’, IPCA+ longo prazo é o pilar para preservar poder de compra, com espaço para prefixado quando o ciclo de queda de juros nominais estiver em curso.

- Mantenha um pouco de pós-fixado para ter liquidez. Use uma “escada” de vencimentos, reavalie semestralmente e ajuste taticamente.

- Lembre-se que cortes de Selic favorecem subir pré/duration. A queda de juros reais favorece IPCA+. O cenário nebuloso pede mais pós e prazos menores.

CONHEÇA OS ERROS MAIS COMUNS E FUJA DELES

Além de entender a lógica dos investimentos pré, pós e híbridos, é importante entender quais são os erros mais comuns para evitá-los. Como descreve a planejadora financeira, de uma forma geral é comum que o investidor se deixe levar pelo “ativo da vez” e acabe misturando objetivos e prazos. Nessas situações, quando surge uma emergência, o dinheiro pode estar todo preso em investimentos de longo prazo.

Já o estrategista do Santander cita os seguintes erros quando se trata e investir em títulos prefixados, pós e híbridos:

- Confundir taxa contratada com retorno no meio do caminho.

- Alongar prazos sem colchão de liquidez.

- Perseguir “taxas altas” ignorando crédito e impostos.

“Muitos vendem no susto quando o preço cai por marcação a mercado (processo de ajuste diário dos preços de investimentos, como ativos de renda fixa ou de renda variável), esquecendo que a taxa subiu e o carregamento futuro melhorou. Outro tropeço é montar uma carteira buscando apenas um indexador” (só CDI ou só IPCA), aumentando a dependência de um único cenário”, lista Camargo.

Há ainda, segundo o especialista, o descasamento de prazos: investir o dinheiro do carro de daqui a 12 meses em IPCA+ longo pode forçar uma venda ruim. O excesso de concentração em emissores também pode comprometer a relação risco e retorno. O antídoto, segundo ele, é: balde de liquidez primeiro, diversificação por indexador e emissor, duration coerente com as metas e disciplina de rebalanceamento.


SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais