Pronto para gastar mais, consumidor negro não se sente atendido

Pesquisa mostra que 61% planejam aumentar as despesas em 2025; maior descontentamento vem dos produtos de beleza

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Paula Pacheco 2 minutos de leitura

O otimismo do consumidor pode não ser generalizado, mas um segmento se mostra particularmente propenso a gastar, como mostra pesquisa "Black Consumers", feita pela Data Makers, agência de big data, e a Black Influence, agência especializada em conteúdo, cultura e influência.

Segundo o levantamento, feito com 744 pessoas que se identificam como sendo da raça preta ou parda (mesmo critério do IBGE), 61,19% estão dispostos a gastar mais nos próximos 12 meses e 34,24% dizem que pretendem manter os gastos.

Apesar do entusiasmo nos desembolsos nos próximos meses, esse público vê algumas condições que podem mudar a forma como se relacionam com as marcas.

Ao todo, 64,85% afirmam dar preferência a produtos e serviços que se identificam ou apoiam a causa negra. Mais da metade - 54,35% - já deixou de comprar por falta de apoio ou desrespeito em relação à questão racial e 57,41% pagariam mais caso percebessem uma identificação das marcas com a causa

IDENTIFICAÇÃO

De acordo com Fabrício Fudissaku, CEO da Data-Makers, os dados mostram a necessidade de as marcas olharem com mais atenção para esse consumidores. Ricardo Silvestre, CEO da Black Influence, completa: "Se eu não me vejo na marca, não compro. Estamos falando de pessoas com potencial de consumo".  

Uma forma de o ambiente de negócios avançar nas discussões, avalia André Athayde, agency partner na Meta|, é trazer as discussões sobre a importância da diversidade para dentro das empresas. A companhia tem ferramentas que medem o impacto das performances das campanhas de clientes. Com isso, foi possível confirmar que, quanto mais diversas, melhor o resultado. A empresa que não tem essa população incluída, afirma o executivo, está perdendo dinheiro e precisa ter em mente a diversidade na construção da sua marca.

No entanto, não basta ter atores ou influenciadores negros em campanhas para criar aderência com uma marca. Como mostra a pesquisa, 64,53% afirmam não se sentir representados na publicidade. A maioria (31,48%) gostaria de ver os negros sem nenhum tipo de estereótipo, ou seja da mesma forma que a população em geral.

ONDE AS MARCAS MAIS FALHAM

Apesar do aumento da oferta de produtos de beleza para esses consumidores, essa é a categoria que menos atende os negros (13,70%), à frente dos serviços financeiros (12,56%) e educação (11,10%).

A moda esportiva (4,33%) e o varejo (6,28%), por outro lado, são as que melhor se alinham às necessidades desses clientes. Ainda assim, para 73,74%, os produtos e serviços atuais do mercado atendem o consumidor preto.

Saiba mais sobre qual é o perfil pesquisado:

  • 23,01% se declaram pretos e 76,99% pardos.
  • A maioria (51,28%) tem entre 25 e 40 anos, é do Sudeste (46,81%) e é da classe C (34,94%).
  • 38,37% são católicos 36,07% são evangélicos e 3,96% são de religiões afrobrasileiras.
  • A maioria (51,90%) são mulheres; 54,90% são pessoas casadas.
  • 34,92% completaram o ensino médio e 32,19% têm o ensino superior completo.
  • 58,44% assistem a TV aberta diariamente, 45,04% a TV por assinatura, 42,65% ao streaming, 31,48% escutam rádio e 18,79% leem jornais.
  • A maioria faz suas compras pelo celular (42,05%).
  • 56,25% estimulariam outras pessoas a não comprarem produtos e serviços de uma marca por desrespeito à causa negra.
    Fonte: Black Consumers/2024

SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais