Quatro estratégias para ganhar com a alta do dólar
Não há previsão de a moeda americana arrefecer, o que pode representar oportunidade para quem tem dinheiro para investir
O dólar não dá sinais de recuo e chegou a máximas históricas nas últimas semanas, refletindo questões domésticas, como a necessidade de corte de gastos públicos, e internacionais, como o corte da taxa de juros dos Estados Unidos, pelo Federal Reserve (o Fed, o banco central americano) e a chegada de Donald Trump à Casa Branca.
Com esse cenário no radar, muitos brasileiros buscam maneiras de aproveitar a valorização do dólar para seus investimentos. No entanto, como qualquer ativo atrelado à moeda estrangeira, os riscos também estão presentes.
Para quem deseja diversificar o portfólio e ganhar exposição ao dólar, a analista de alocação da Empiricus Gestão, Yasmin Orozimbo, diz que no mercado brasileiro há diversas opções disponíveis, cada uma com suas características e níveis de risco, com exposição internacional e cambial, incluindo fundos de investimento, ETFs, BDRs e ações de empresas dolarizadas (com receita em moeda estrangeira), que permitem aos investidores aproveitarem as variações cambiais e econômicas globais.
OPÇÕES E RISCOS
1. BDRs (Brazilian Depositary Receipts)
Os BDRs são títulos lastreados em ações de empresas estrangeiras listadas na Bolsa de Valores brasileira. Eles permitem ao investidor brasileiro ganhar exposição às ações de empresas com receita em dólar, como grandes players do setor de tecnologia ou energético nos EUA. Segundo o consultor financeiro Rodrigo Dolabella, investir em BDRs é uma forma de diversificar, especialmente em tempos de alta do dólar, já que essas companhias têm seus resultados incluenciados pela moeda americana.
2. ETFs internacionais
Os Exchange Traded Funds (ETFs) internacionais seguem índices globais, como o S&P 500, Nasdaq ou outros que incluem ativos denominados em dólar. Eles permitem uma exposição ampla ao mercado internacional com diversificação de setores e geografias, o que é vantajoso para investidores que desejam surfar no crescimento da economia americana. Os ETFs internacionais são uma excelente opção para quem busca uma abordagem mais passiva e diversificada, mas precisa estar ciente das oscilações do mercado cambial.
3. Ações de empresas exportadoras
Empresas brasileiras com receitas atreladas ao dólar, como exportadoras, sofrem diretamente os efeitos da variação cambial. Isso porque, quando o real se desvaloriza, suas receitas em moeda estrangeira se tornam mais vantajosas. Setores como agronegócio, mineração e tecnologia têm grande aderência à moeda americana. Investir nessas ações pode ser uma estratégia interessante, mas é necessário acompanhar as mudanças regulatórias e o cenário global.
4. Mercado futuro de moedas
Para os investidores mais arrojados, o mercado futuro de moedas oferece a oportunidade de negociar contratos com base na expectativa de valorização ou desvalorização do dólar. “É um mercado volátil, mas com potencial para altos retornos. Contudo, exige uma análise técnica aprofundada e um perfil mais agressivo”, adverte Dolabella.“
DIVERSIFICAÇÃO
Apesar da recente valorização da moeda americana, a sua persistência como moeda forte, ampliada pelo excepcionalismo americano, reforça a importância de incluir ativos vinculados ao dólar no portfólio no longo prazo, independentemente das flutuações recentes”, observa Orozimbo.
A dinâmica do câmbio global é amplamente influenciada por políticas econômicas e conflitos geopolíticos, que frequentemente aumentam a busca por segurança financeira, consolidando o dólar como a principal moeda de reserva mundial. Um dos fatores determinantes para essa valorização é a movimentação nas taxas de juros nos Estados Unidos, que alteram o retorno de investimentos atrelados à moeda americana.
Um exemplo recente é a eleição de Trump, cujas promessas de desregulação e redução de impostos visam criar um ambiente mais favorável para a economia americana. Essas medidas podem não apenas atrair mais capital ao país, mas também fortalecer canais alternativos de geração de riqueza, como o sistema financeiro paralelo, contribuindo para a valorização do dólar em um cenário global cada vez mais instável.
RISCOS
A volatilidade cambial surge como um dos principais entraves para investidores, especialmente em cenários de desvalorização do dólar frente ao real. Esse movimento pode impactar de forma adversa os rendimentos de ativos denominados em moeda estrangeira.
Além disso, mudanças nas condições de mercado provocadas por riscos geopolíticos aumentam a imprevisibilidade, dificultando a performance de investimentos. Para mitigar esses efeitos, especialistas recomendam estratégias de hedge, como o uso de instrumentos derivativos, entre eles opções e contratos futuros.
Esses mecanismos podem oferecer maior proteção contra movimentos inesperados, ajudando a preservar o valor dos ativos em períodos de incerteza. “É importante diversificar os investimentos entre diferentes ativos dolarizados e implementar estratégias de balanceamento em conjunto com a carteira local. Essas ações ajudam a criar uma carteira mais resiliente, capaz de absorver choques e manter um desempenho estável”, afirma a analista.
PERFIL DE INVESTIDOR
A alocação em ativos dolarizados pode ser uma estratégia eficaz para diversificar riscos, adaptando-se aos diferentes perfis de investidor.
Para aqueles com perfil moderado, a exposição a ativos em dólar proporciona diversificação sem um grau excessivo de volatilidade. Nesse caso, opções como fundos de renda fixa global oferecem uma alternativa com menor risco, permitindo exposição internacional de forma mais conservadora.
Já investidores arrojados podem ampliar a participação de ativos dolarizados no portfólio, explorando veículos de maior potencial de retorno, como criptoativos, fundos de ações internacionais e fundos multimercados globais. Embora atrativos, esses investimentos exigem maior tolerância ao risco devido à sua natureza volátil.
Especialistas sugerem que a alocação internacional ideal fique em torno de 30% do portfólio, podendo variar conforme o apetite ao risco e a composição dos ativos.
Para Rodrigo Dolabella, essa abordagem permite equilibrar o potencial de crescimento e a proteção contra incertezas no cenário doméstico. “Investidores mais conservadores podem escolher o menor limite da faixa, enquanto os mais ousados podem ajustar para uma exposição ligeiramente maior. O fundamental é manter um portfólio equilibrado, aproveitando as oportunidades da exposição internacional sem prejudicar sua estabilidade”, diz.