Cálculo da rematrícula: vale trocar o investimento pelo desconto?
Especialistas explicam quando o desconto da rematrícula vale a pena, quando é melhor preservar o caixa e por que a reserva de emergência não deve ser usada para antecipar o pagamento

Começou a temporada de rematrícula escolar e, junto dela, a dúvida sobre como pagar: aproveitar os descontos de até 20% no pagamento à vista ou manter o dinheiro aplicado e preservar a reserva de emergência?
Economistas e mães de alunos dão dicas para ajudar na decisão.
QUANDO O DESCONTO VALE A PENA
Quando o abatimento é de 15% a 20% no valor da rematrícula, geralmente já compensa mais do que deixar esse dinheiro guardado ou até aplicado em renda fixa no Brasil hoje, mesmo com juros alto, entrega algo próximo de 10% a 12% ao ano. “Afinal, o desconto escolar é imediato, garantido e sem risco”, segundo a economista Natale Papa.
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Bruno Corano, economista e CEO da Corano Capital, reforça que o cálculo deve considerar o cenário econômico atual. “Um desconto de 1,5% ao mês já justificaria pagar a rematrícula com essa antecipação. Se a escola adianta em três ou quatro meses e dá 20% de desconto, o ganho real é superior a 12%.”
Já Adenauer Rockenmeyer, delegado do Corecon-SP (Conselho de Economia de São Paulo), acredita que “o desconto só compensa quando é significativamente superior ao retorno que você obteria na renda fixa”.
Para a economista Cilene Cardoso, que também é professora da Universidade São Judas, a avaliação precisa ir além da comparação financeira. “Se a família tiver planejamento, pode ser interessante pagar com desconto que supere a inflação.”
O QUE DIZEM AS MÃES?
A funcionária pública Andreia Ueda, é mãe da Sabrina, aluna do ensino fundamental. Ela conta que todos os anos se programa para aproveitar o desconto oferecido pela escola para fazer a rematrícula. Neste ano, o abatimento foi de 20% para quem pagasse a parcela até 30 de setembro. O valor passou de R$ 1.930 para R$ 1.544.
Andreia conta que nunca cogitou fazer o pagamento do valor total do ano escolar à vista porque não vê atratividade, mesmo com um possível desconto. “O valor da mensalidade entra no fluxo dos meus gastos fixos, por isso não vejo vantagem em sacar o dinheiro de algum investimento para antecipar o pagamento.”
Outra mãe que aproveitou o desconto para quitar a rematrícula foi a dona de casa Rosângela Mendes Almeida, mãe do Daniel, que também cursa o ensino fundamental. “Nós controlamos os gastos mensais para reservar o valor da rematrícula para anteciparmos o pagamento e aproveitarmos o desconto, que sempre é vantajoso”, diz. Assim como Andréia, ela também teve desconto de 20% no valor da parcela.
TIRAR OU NÃO O DINHEIRO DA APLICAÇÃO
Cilene diz que é importante entender que, no caso de investimentos em renda fixa (pré ou pós-fixado), a rentabilidade está assegurada se mantê-lo até o dia do vencimento do título e são atrelados à inflação e taxa de juros, por exemplo.
A melhor estratégia, para a maioria das famílias, na opinião de Natale, é esperar a entrada do 13º salário e utilizá-lo para aproveitar o desconto sem mexer na segurança financeira.
FAZER EMPRÉSTIMO COMPENSA
Pagar a rematrícula parcelada, mesmo que ainda sem desconto, é a melhor opção do que pedir empréstimo. “Qualquer crédito/empréstimo pessoal no sistema financeiro terá juros mais elevados do que um desconto. Hoje um crédito pessoal não consignado gira em torno de 92% ao ano. Essa conta não fecha”, analisa Cilene.
Rockenmeyer concorda que pegar crédito para esse tipo de antecipação não é vantajoso. “Além dos juros altos, que aumentam o custo total do crédito, isso pode comprometer a renda futura, reduzindo sua capacidade de pagamento em meses seguintes.”
Natale enfatiza que “o custo dos juros bancários costuma ser maior do que o benefício do desconto, o que no fim gera prejuízo”.
USAR OU NÃO A RESERVA DE EMERGÊNCIA?
Todos os especialistas foram unânimes: não é indicado usar a reserva de emergência para pagar matrícula ou mensalidade.
“Ela existe justamente para cobrir despesas inesperadas, como desemprego ou problemas de saúde. Usá-la para a escola não é a melhor escolha”, diz Cilene.
Corano pondera que pode ser viável se houver reposição rápida: “Vale desde que o percentual de desconto se justifique e a família tenha certeza de que conseguirá recompor a reserva com os ganhos extras do fim do ano”.
PAGAR O ANO INTEIRO À VISTA
A lógica é semelhante à da rematrícula. “Vale a pena quando a família não fica descoberta financeiramente”, pontua Cilene.
“Se o abatimento for maior que 10% e a reserva de emergência for preservada, compensa”, defende Natale.
“Qualquer desconto que supere a taxa de juros anual já é vantajoso. Um desconto de 20%, por exemplo, seria uma ótima troca”, avalia Corano.
COMO ORGANIZAR FINANÇAS PARA APROVEITAR DESCONTO
O segredo está no planejamento, dizem os especialistas. “É importante mapear as finanças, criar metas de poupança e ajustar o orçamento para ter uma reserva voltada a pagamentos antecipados”, comenta Rockenmeyer.
Para Natale, separar mensalmente uma quantia destinada à educação e reservar parte do 13º salário são boas práticas. “O ideal é se organizar desde o início do ano. Separar mensalmente um valor destinado à educação ou criar uma reserva programada permite chegar ao fim do ano com os recursos já preparados para a rematrícula.”
Corano reforça a importância de pensar a longo prazo: “Menos de 1% das famílias no Brasil têm planejamento financeiro estruturado. Sem isso, fica quase impossível aproveitar de forma saudável os descontos”.
ERROS COMUNS DAS FAMÍLIAS
Entre os deslizes mais frequentes estão:
- Não ter reserva de emergência;
- Comprometer a liquidez financeira;
- Entrar em dívidas para conseguir o desconto;
- Aceitar descontos pequenos, sem considerar o custo do dinheiro; e
- Ignorar despesas sazonais, como IPTU, IPVA e material escolar.