Startups do Oriente Médio buscam fundos para enfrentar os desafios do clima

Mesmo com o aumento das temperaturas no Oriente Médio, falta investimento em startups focadas no clima. Como mudar essa situação?

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Javeria Khalid 4 minutos de leitura

O Oriente Médio está enfrentando uma grave crise climática. A região está aquecendo duas vezes mais rápido do que a média global, com temperaturas ultrapassando os 50ºC no Kuwait, Arábia Saudita e Irã. Com o aumento das temperaturas, a área se tornou o epicentro das mortes causadas por ondas de calor.

Mas este ano tem sido particularmente brutal: em junho, durante o Hajj – peregrinação islâmica anual a Meca, na Arábia Saudita – mais de 1,3 mil pessoas morreram devido ao calor escaldante.

Além das mortes relacionadas ao calor, o Oriente Médio é uma das regiões mais vulneráveis do mundo aos impactos das mudanças climáticas, incluindo escassez de água, altas temperaturas, secas e inundações.

Embora países como Qatar e Kuwait tenham investido bilhões para atrair turistas, o investimento em startups focadas no clima na região começou a diminuir. O investimento em tecnologia climática no Oriente Médio caiu mais de 80% em 2023, para US$ 152 milhões, comparado a cerca de US$1 bilhão em 2022.

Sulaiman Amin, diretor-geral da aceleradora de startups limpas Catalyst, com sede em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, atribui isso, em parte, a investidores avessos ao risco que desejam um retorno mais rápido do que muitos empreendimentos climáticos podem oferecer.

“Você não pode simplesmente ter um serviço de software e esperar resolver as mudanças climáticas. Precisa de engenheiros que realmente constroem coisas para fazer isso acontecer”, argumenta.

POUCO DINHEIRO, MUITOS DESAFIOS

Embora fundadores de startups concordem que existe uma lacuna de investimento, também dizem que o cenário está começando a melhorar com o aumento dos esforços internacionais para combater as mudanças climáticas. 

Em dezembro, por exemplo, os Emirados Árabes Unidos sediaram a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP28), que reuniu líderes mundiais e especialistas em clima em Dubai para impulsionar o investimento em tecnologia climática.

Karan Khimji, cofundador da 44.01, empresa que usa um processo chamado mineralização para capturar CO2 da atmosfera, diz que a COP28 atraiu a atenção necessária de investidores. Mas o que existe atualmente “é uma pequena quantidade de capital em comparação ao desafio que enfrentamos”.

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Uma quantidade considerável do apoio vem da Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (ADNOC, na sigla em inglês), que, no início deste ano, alocou US$ 23 bilhões em projetos de descarbonização e de menor emissão de carbono, incluindo a 44.01.

O investimento permitiu à empresa lançar seu projeto piloto no Emirado de Fujairah, na costa leste do país, onde o dióxido de carbono será permanentemente mineralizado dentro de formações rochosas.

Buscando estimular a inovação, a incubadora de startups Hub71, de Abu Dhabi, criou o Hub71+ ClimateTech, uma iniciativa focada em ajudar startups climáticas a se expandirem globalmente, fornecendo suporte financeiro e mentorias.

Com um investimento de 2,5 milhões de AED (cerca de R$ 3,8 milhões) da ADNOC, o programa oferece aos participantes um incentivo inicial de 250 mil AED (aproximadamente R$ 382 mil) em troca de participação acionária, além de outros incentivos.

A Hub71 também tem uma parceria com a Catalyst para fornecer serviços – desde assistência na criação de apresentações até ajuda contábil – que apoiam startups de tecnologia climática em suas fases de crescimento, que Sulaiman chama de “momento decisivo” para essas empresas.

No entanto, o executivo ressalta que o suporte do Catalyst vai muito além do investimento de capital. Além de fornecer mentoria extensa e acesso a uma rede global de especialistas em clima e parceiros comerciais, as empresas têm acesso a escritórios e espaços de produção sem custo.

o cenário está começando a melhorar com o aumento dos esforços internacionais para combater as mudanças climáticas. 

As diversas iniciativas verdes da Arábia Saudita também estão levando investimentos para startups do setor da tecnologia climática. Com os planos do país de atingir emissões líquidas zero até 2060, seus empreendimentos climáticos atraíram US$ 68 milhões em investimentos de capital de risco entre 2018 e o primeiro semestre de 2023.

A Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah (KAUST) é uma das principais responsáveis por isso. Através de seu ecossistema tecnológico, a KAUST acelera startups em estágio inicial com financiamento, treinamento e mentoria.

“O objetivo é preencher a lacuna desde o ponto de vista da propriedade intelectual até colocá-la nas mãos de pessoas que realmente farão uso dela”, explica Nawaf Al Gain, diretor de ecossistemas de inovação da universidade.

    Mas Sulaiman defende que, para a tecnologia climática decolar na região, será necessário um esforço dos governos. “É apenas uma questão de tempo até que todas as nossas empresas de tecnologia climática realmente decolem”, diz ele. “[Mas] vamos precisar do apoio do governo para impulsionar políticas e regulamentações para a adoção de novas tecnologias climáticas.”


    SOBRE A AUTORA

    Javeria Khalid é jornalista especializada na cobertura de negócios, tecnologia e clima. saiba mais