Tem investimento? Veja como ele pode virar garantia de empréstimo

Entenda a lógica desta modalidade de crédito, qual é o impacto nos juros e os pontos de atenção

Tem investimento? Veja como ele pode virar garantia de empréstimo
Meepian Graphic via Getty Images

Márcia Rodrigues 3 minutos de leitura

O crédito com garantia de investimento, também chamado de crédito para investidor, tem ganhado espaço entre clientes que precisam de liquidez rápida sem se desfazer das suas aplicações financeiras. Nessa modalidade, o banco utiliza ativos como previdência, CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letra de Crédito Imobiliário), LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), poupança ou fundos como garantia para liberar o empréstimo. Mas será que sempre vale a pena? Especialistas ouvidos pela reportagem apontam vantagens e pontos de atenção.

COM REGULAMENTAÇÃO PARCIAL, MODALIDADE JÁ É PRÁTICA DO MERCADO

O Conselho Monetário Nacional (CMN) já regulamentou o uso de previdência complementar aberta, seguros de pessoas e títulos de capitalização como garantia de operações de crédito.

Os investimentos como CDBs, LCIs, LCAs, fundos e consórcios, no entanto, ainda aguardam regulamentação oficial pelo CMN.

Porém, esses ativos já são utilizados como garantia por bancos e corretoras, quando estão custodiados na própria instituição.


TAXAS DE JUROS MAIS BAIXAS E RAPIDEZ NA LIBERAÇÃO

A grande atratividade deste tipo de operação está no custo. Segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, como os investimentos funcionam como um lastro seguro para a instituição financeira, as taxas de juros cobradas são bem menores do que no crédito pessoal.

“As taxas podem variar entre 1,1% e 3,5% ao mês, enquanto em empréstimos comuns podem superar 7% ao mês”, explica Lima.

Outro ponto positivo é que os ativos continuam rendendo mesmo bloqueados como garantia. O cliente não perde a rentabilidade, ainda que fique impedido de resgatar os recursos enquanto a operação estiver vigente. “Normalmente, o banco libera entre 80% e 95% do valor investido. O processo costuma ser rápido e simples”, acrescenta o analista da Ouro Preto Investimentos.

VANTAGENS E RISCOS

Este tipo de crédito faz sentido em situações específicas, como cobrir emergências, aproveitar oportunidades ou financiar despesas de curto prazo, como reformas ou educação. “É uma alternativa quando você precisa de liquidez sem interromper o rendimento dos seus investimentos”, afirma Lima.

Apesar das vantagens, o crédito com garantia de investimento não é livre de riscos. Em caso de inadimplência, o banco pode liquidar automaticamente os ativos dados em garantia, o que pode gerar perdas caso eles estejam desvalorizados.

Além disso, é essencial avaliar a relação entre juros e rendimento. “Se o custo do empréstimo for maior do que a rentabilidade do investimento, a operação pode não ser vantajosa”, alerta Lima. Ele também recomenda atenção ao Custo Efetivo Total (CET), que inclui IOF e outras tarifas.


RESGATAR PODE SER MELHOR

Para Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Anefac (Associação Nacional de Executivos), embora essa modalidade ofereça juros menores do que um crédito sem garantia, muitas vezes não compensa manter o dinheiro aplicado.

“Por mais que as taxas sejam mais baixas por conta da garantia, elas ainda são maiores do que o rendimento que o cliente terá no investimento. Ou seja, ele vai pagar mais juros do que recebe de volta”, argumenta Oliveira.

Na prática, o especialista recomenda avaliar a possibilidade de resgatar o investimento e usá-lo diretamente para a necessidade em questão. “O ideal seria retirar o recurso da aplicação e utilizá-lo, em vez de contratar um empréstimo que sai mais caro do que o rendimento obtido”, completa Oliveira.

VALE OU NÃO VALE A PENA?

O crédito com garantia de investimento pode ser uma alternativa interessante para quem não deseja resgatar suas aplicações e precisa de crédito em condições melhores do que as oferecidas no mercado tradicional. Porém, como destacam os especialistas, a decisão deve ser tomada com cautela.

De acordo com Lima, a modalidade é útil quando o custo é competitivo e a agilidade faz diferença. Já Oliveira reforça que, na maioria dos casos, resgatar o investimento pode ser financeiramente mais vantajoso.


SOBRE A AUTORA

Márcia Rodrigues é jornalista especializada em economia e empreendedorismo. Vegetariana e apaixonada pela defesa de causas sociais, am... saiba mais