Tesouro Selic agora tem índice próprio: o que muda para quem investe nos títulos públicos
Com novo índice criado pela B3, o produto de renda fixa ganha mais transparência e comparação direta com outras aplicações

Os investidores ganharam uma ferramenta de peso para acompanhar o desempenho de títulos públicos, um dos principais investimentos na modalidade. A B3, a bolsa de valores brasileira, lançou o Índice Tesouro Selic, o primeiro indicador dedicado exclusivamente a títulos públicos federais atrelados à Selic (taxa básica de juros).
Até então, quem aplicava no Tesouro Selic não tinha um benchmark (índice de referência) claro para comparar o desempenho do seu investimento. Agora, passa a ter uma régua oficial que reflete o comportamento desse mercado, com mais transparência e padronização.
Segundo Bruno Corano, economista e CEO da Corano Capital, o novo índice é “um marco importante no mercado brasileiro”.
“É o primeiro índice da B3 voltado para títulos públicos. Isso já mostra uma evolução na forma como o investidor pode acompanhar a renda fixa”, afirma Corano.
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O economista explica que o índice considera os títulos mais líquidos e representativos, mostrando como anda o “mercado Selic” de forma consolidada e acessível.
POR QUE O ÍNDICE TESOURO SELIC IMPORTA
De acordo com Fábio Murad, CEO da Super-ETF Educação, o lançamento representa “um avanço importante para o investidor brasileiro e para a profissionalização do mercado de renda fixa”.
“Pela primeira vez, os títulos públicos pós-fixados atrelados à Selic passam a ter um benchmark oficial, que permite acompanhar com precisão o desempenho dessa classe de ativos”, afirma Murad.
Segundo o CEO da Super-ETF Educação, o CDI sempre foi uma referência teórica, mas não era um ativo acessível ao investidor comum. Agora, com o novo índice, é possível comparar resultados de forma prática e objetiva.
Murad destaca ainda que a criação do índice abre espaço para o desenvolvimento de novos produtos, como ETFs (Exchange Traded Fund, fundos negociados em bolsa) e fundos passivos de baixo custo que repliquem a performance do Tesouro Selic.
“Mais do que medir desempenho, o Índice Tesouro Selic educa o investidor e reforça a importância de usar dados objetivos na construção de uma carteira equilibrada e estratégica”, completa o executivo da Super-ETF Educação.
TRANSPARÊNCIA AJUDA DECISÕES TÉCNICAS
Na visão de André Matos, CEO da MA7 Negócios, o novo índice fortalece a transparência e a mensuração de resultados no mercado de renda fixa.
“Ter um benchmark claro ajuda tanto investidores quanto gestores a entenderem o real desempenho dessa classe de ativos”, afirma.
Matos observa que, em um cenário de custo de capital ainda alto e crédito mais seletivo, indicadores objetivos se tornam fundamentais para decisões mais técnicas e para a gestão de risco.
“Essa padronização traz previsibilidade e facilita a gestão, algo essencial também no mercado de créditos estressados, em que cada ponto percentual na taxa básica impacta diretamente o valor dos ativos”, completa.
COMO FUNCIONA?
Para Corano, o Tesouro Selic segue sendo o mesmo produto — seguro, líquido e pós-fixado —, mas agora com uma régua de comparação.
“Dá pra olhar o índice e dizer: ‘minha aplicação está rendendo mais ou menos do que o conjunto dos títulos do Tesouro?’”, explica. Essa referência permite acompanhar se a rentabilidade está dentro do esperado e avaliar o desempenho da carteira com base em dados concretos.
Além do novo índice, Corano lembra que a B3 já conta com diversos indicadores de referência. São eles:
- Ibovespa: mede o desempenho médio das ações mais negociadas.
- IBrX: amplia essa cesta para cem papéis.
- SMLL: é voltado para small caps.
- IDIV: acompanha empresas com alta distribuição de dividendos.
- IFIX: reflete o mercado de fundos imobiliários.
Segundo o CEO da Corano Capital, cada índice serve como um termômetro de um pedaço diferente do mercado. “Quando um investidor define que quer ter, digamos, 40% em renda fixa e 60% em ações, ele pode usar os índices correspondentes pra acompanhar o desempenho de cada parte. Se a parte em ações está abaixo do Ibovespa, ou se a renda fixa ficou atrás do Índice Tesouro Selic, isso ajuda a entender se o portfólio está performando bem ou se precisa de ajustes.”
ETFS E FUNDOS QUE REPLICAM O TESOURO SELIC
Apesar de não ser possível investir diretamente em um índice, ele serve como base para produtos que o reproduzem. Corano destaca que já surgem ETFs e fundos de investimento voltados para o novo indicador.
“O primeiro deles é o NCDI11, lançado pela Nu Asset, que permite investir, via bolsa, em uma cesta de títulos públicos atrelados à Selic, com liquidez diária”, diz.
Corano cita ainda o LFTS11, fundo de índice listado na B3, que busca acompanhar o desempenho do Índice Teva Tesouro Selic (ITBR Selic).
DESEMPENHO DOS TÍTULOS X TAXA SELIC
Com a queda da taxa Selic, o rendimento dos títulos pós-fixados naturalmente diminui. Ainda assim, Corano ressalta que o valor desses papéis está na estabilidade e liquidez, e o novo índice ajuda a acompanhar esse comportamento ao longo do tempo.
“Em momentos de queda de juros, quando o investidor tende a buscar ativos mais arriscados, o índice permite visualizar como o segmento de renda fixa está performando”, explica.
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Para Murad, essa transparência é essencial para equilibrar segurança, liquidez e retorno real, enquanto Matos reforça que a padronização dos dados ajuda a tomar decisões mais racionais e baseadas em evidências.
“Ele traz mais transparência, permite comparação e cria base para novos produtos financeiros. É um avanço que beneficia tanto o investidor iniciante quanto o gestor profissional e coloca a renda fixa, finalmente, no mesmo patamar de acompanhamento que a renda variável já tinha há décadas”, comenta Murad.