Trump confirma tarifaço, lista exceções e adia início da cobrança

Anúncio foi feito pela Casa Branca dois dias antes da data sinalizada por Trump; Brasil ganha prazo para seguir com negociações com EUA

Trump confirma tarifaço, lista exceções e adia início da cobrança
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Paula Pacheco 6 minutos de leitura

Nesta quarta-feira, 30, a Casa Branca publicou em seu site a ordem executiva para a implementação de uma tarifa adicional de 40% sobre o Brasil. O percentual se soma aos 10% anunciados anteriormente pelo governo dos Estados Unidos. Com isso, a taxação sobre as exportações brasileiras, na onda do tarifaço, chega a 50%.


 

694 EXCEÇÕES NA LISTA DO TARIFAÇO

O novo anúncio, feito depois de Trump publicar uma carta em sua rede social endereçada ao governo brasileiro, em 9 de julho, se por um lado insiste na sanção comercial ao país (motivada por questões ligadas ao Poder Judiciário), por outro estende o prazo de negociação e ainda traz outra novidade: uma lista de 694 exceções que escaparão da nova tarifa. Ao todo, o Brasil vende para os Estados Unidos em torno de 4 mil itens.

Em vez de entrar em vigor na próxima sexta-feira (dia 1º de agosto), a nova tarifa passa a valer a partir de 6 de agosto. Ou seja, o presidente Donald Trump adiou a validade da medida por sete dias.

Entre os itens que ficaram de fora do tarifaço de Trump estão os aviões da Embraer, peças aeronáuticas (tais como motores, pneus e turbinas), suco de laranja, castanhas, uma série de insumos de madeira, celulose. Também fazem parte da lista equipamento elétricos, ferro-gusa, minério de ferro, fertilizantes e o petróleo – este já tem ficado de fora das listas de tarifas americanas EUA para os países.

Na prática, na análise de Tiago Feitosa, CEO da T2 Educação (instituição que prepara analistas do mercado financeiro), o impacto da tarifa foi mais positivo do que o previsto. “O mercado reagiu de forma otimista à decisão. A Embraer, que foi contemplada entre as exceções, registrou alta de 10%, refletindo a confiança dos investidores frente à medida”, destaca.

Apesar do respiro com a lista de exceções, ela não resolve o problema dos exportadores brasileiros. Café, frutas e carne estão entre os itens que, por ora, serão sobretaxados.

Willian Andrade, sócio da Kaya Asset, aponta que o tarifaço proposto pelos EUA representa um risco relevante para setores exportadores brasileiros e pode desacelerar ainda mais o Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Para investidores, avalia, o momento exige cautela e revisão de portfólio, com foco em ativos menos expostos ao comércio exterior e maior diversificação frente ao cenário geopolítico incerto.


EXCEÇÕES REPRESENTAM 43,4% DAS EXPORTAÇÕES PARA OS EUA

A partir de dados oficiais da Comissão de Comércio Internacional dos EUA (USITC), a Amcham (a American Chamber of Commerce, maior câmara americana de comércio fora dos EUA) calculou que a lista de exceções publicada pela Casa Branca representa US$ 18,4 bilhões em exportações brasileiras em 2024. O valor representou 43,4% do total de US$ 42,3 bilhões exportados pelo Brasil para os EUA.

Para a entidade, embora as minimizem os efeitos da tarifa de 50%, ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia brasileira. “Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor”, declarou por meio de nota. 

Ainda segundo a Amcham, a decisão do governo americano representa uma “medida que fragiliza as relações econômicas e comerciais entre os dois países, afetando negativamente a competitividade de suas empresas, o emprego de seus trabalhadores e o poder de compra de seus consumidores”, criticou.

A Amcham lembrou que pesquisa recente (feita entre 24 e 30 de julho) mostrou que mais da metade das empresas exportadoras no Brasil estimam que o aumento tarifário em seus setores poderá resultar na interrupção total ou acentuada (superior a 50%) das vendas para os EUA. 

LOBBY PODE TER AJUDADO

Conselheiro e sócio-fundador da consultoria BMJ, Welber Barral diz não ter visto muita lógica nos produtos que fizeram parte da lista de exceções. “Os produtos que conseguiram fazer lobby, isso é o caso claro da Embraer e talvez do suco de laranja, conseguiram ficar de fora”, analisa.

Ainda segundo Barral, que foi secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços (MDIC), entre as saídas possíveis para os exportadores brasileiros estão os recursos judiciais dentro dos EUA.

Outro caminho seria um pedido de exclusão dentro do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) quando houver a Seção 232 (trecho da Lei de Expansão Comercial de 1962, que autoriza o presidente dos EUA a restringir ou ajustar as importações de bens que representem uma ameaça à segurança nacional).

“Uma alternativa é buscar novos mercados e tentar vender para o mercado interno, o que vai depender muito do setor. No caso das commodities, fica mais fácil. Mas os produtos industriais vão sofrer muito”, explica Barral.

Se os americanos vão pagar uma conta mais alta com a importação de produtos sobretaxados, no Brasil, ao menos em um primeiro momento, segundo o sócio da BMJ, pode haver uma redução de preços, principalmente no caso do café e da carne, que são grandes commodities. “Mas logo haverá um ajuste, não será um efeito permanente”, completa o especialista em comércio exterior.

CAFÉ, EMPREGOS E CONSUMO

Por meio de nota, a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) lembrou que os EUA são o principal mercado importador da produção nacional, com a compra de cerca de 2 milhões de sacas, gerando uma receita superior a US$ 550 milhões ao ano.
 
“Tal medida, se mantida, impactará a comunidade do café especial e os segmentos envolvidos com cafés de qualidade em todo o mundo, principalmente o Brasil, como maior fornecedor, e os EUA, maiores consumidores do produto”, informou a entidade.
 
A BSCA cita ainda que indústria cafeeira americana emprega mais de 2 milhões de pessoas e movimenta valor superior a US$ 340 bilhões ao ano - equivalente a 1,2% do PIB dos EUA. O Brasil é o principal fornecedor do produto a esse mercado.

SERVIÇOS ESTÃO POUPADOS

Até agora, todas as questões de tarifas dos EUA são focadas em produtos físicos, o que deixa de fora empresas do setor de serviços, explica Guilherme Stefanini, CEO da Stefanini Marketing.

“Além disso, nossa exportação aos EUA de serviço foca muito de outros países da Ásia, Europa e Latam, principalmente México, não afetando o grupo de maneira significativa”, disse à FastCo Money.

ÍNDIA AMEAÇADA POR RELAÇÕES COM A RÚSSIA

Antes da surpresa em relação ao Brasil, Trump avisou que vai aplicar uma multa e ainda taxar a Índia em 25%. Segundo o republicano, a multa seria uma maneira de penalizar o país por comprar energia e equipamentos militares dos russos. O presidente americano, no entanto, não detalhou de quanto seria o valor da multa.

Em uma publicação em sua conta na rede social Truth Social, Trump declarou:"Embora a Índia seja nossa amiga, ao longo dos anos fizemos relativamente poucos negócios com eles porque suas tarifas são altíssimas, entre as mais altas do mundo, e eles têm barreiras comerciais não monetárias mais rigorosas e incômodas do que qualquer país".

Ainda segundo Trumo, a Índia sempre comprou a grande maioria de seus equipamentos militares e de energia da Rússia, juntamente com a China. O presidente dos EUA reforçou que o comércio entre os dois países acontece mesmo em um momento em que há um apelo para que os russos cessem a guerra contra a Ucrânia.

A estratégia de Trump foi clarificada logo depois. O assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, disse em entrevista a jornalistas que o presidente do EUA se sentia frustrado com o ritmo das negociações comerciais com a Índia. Ele afirmou acreditar que a tarifa ajudará a destravar as negociações.


SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais