25 anos de pesquisa revelam a mágica que faz as pessoas envelhecerem bem

Os chamados superidosos não seguem a mesma dieta nem o mesmo estilo de vida, mas têm uma característica em comum – que está ao alcance de qualquer pessoa

O que faz envelhecer bem
Créditos: Ivan Skalkin via Getty e freepik.com

Jessica Stillman 4 minutos de leitura

Muita gente diz que quer viver bastante. Mas, no fundo, não é bem isso. O que a maioria das pessoas quer mesmo é chegar à velhice com saúde, tanto física quanto mental. Alguns poucos conseguem. São os chamados superidosos: pessoas que passam dos 80 anos não só com boa saúde física, mas também com a mente tão afiada quanto a de alguém 30 anos mais jovem.

Como eles conseguem isso? Essa é a pergunta que pesquisadores da Universidade Northwestern tentam responder há 25 anos. Ao longo desse tempo, eles analisaram o cérebro e os hábitos de vida de quase 300 superidosos.

Leia também: Veja hábitos de longevidade que você pode adotar ainda hoje

8 hábitos comprovados pela neurociência para fortalecer o cérebro

Como era de se esperar, os dados mostram que nascer com uma genética favorável ajuda. Os neurocientistas encontraram diversas diferenças físicas entre o cérebro desses superidosos e o da maioria das pessoas.

Mas a boa notícia é que também identificaram uma diferença comportamental clara naqueles que seguem ativos e lúcidos aos 80 anos ou mais. E é algo que qualquer um pode incluir na sua vida.

O CÉREBRO DOS SUPERIDOSOS É DIFERENTE

Quando analisamos imagens do cérebro de superidosos, as diferenças ficam evidentes. Cérebros considerados “comuns” costumam apresentar algum acúmulo de placas e emaranhados de proteínas, característicos da doença de Alzheimer. Já nos superidosos, esses sinais são muito menos frequentes.

O estudo também mostrou que, enquanto a camada externa do cérebro – o córtex – costuma afinar com o passar dos anos, nos superidosos ela permanece espessa. Além disso, eles apresentam uma composição diferente de tipos de células cerebrais.

“Nossos resultados mostram que manter uma memória excepcional na velhice não só é possível, como está ligado a um perfil biológico específico do cérebro. Isso abre espaço para novas formas de preservar a saúde mental por mais tempo”, explica Sandra Weintraub, professora de psicologia da Northwestern e uma das pesquisadoras do estudo.

"O grupo se destacou por ser muito sociável e por valorizar atividades fora das obrigações do dia a dia."

Essas descobertas chamam muito a atenção de cientistas que buscam tratamentos capazes de nos manter saudáveis por mais tempo. Weintraub chega a descrevê-las como “transformadoras”. Para o resto de nós, porém, elas não oferecem soluções práticas imediatas. Não existe como retirar proteínas problemáticas do cérebro nem “engrossar” o córtex por conta própria.

Para complicar ainda mais, os superidosos também não tinham rotinas parecidas. Alguns faziam atividade física com frequência. Outros eram sedentários assumidos. Alguns bebiam. Outros fumavam. Tinham dietas e hábitos muito diferentes. Mas todos tinham uma característica em comum: eram extremamente sociáveis.

“O grupo se destacou por ser muito sociável e por valorizar atividades fora das obrigações do dia a dia. Em comparação com pessoas da mesma idade, mas com desempenho cognitivo médio, eles avaliavam seus relacionamentos de forma mais positiva e se descreviam como mais extrovertidos”, relataram os pesquisadores em um artigo recente.

FOCO NAS RELAÇÕES

Isso pode soar estranho para quem acha que envelhecer bem depende apenas de treinos intensos e uma alimentação cheia de folhas. Mas não é novidade para quem estuda o tema. O Harvard Study of Adult Development acompanha a vida de centenas de pessoas – e agora também de alguns de seus descendentes – desde 1938.

O estudo mostra que o fator mais importante para uma vida longa e saudável não é biológico, é social. Quanto melhor a qualidade das relações, maiores são as chances de envelhecer bem. Você tem pouco controle sobre coisas como colesterol, mas tem controle direto sobre sua vida social.

Quanto melhor a qualidade das relações, maiores são as chances de envelhecer bem.

Para o diretor do estudo, Robert Waldinger, esse é um aspecto que podemos – e devemos – priorizar. “Costumamos tratar a saúde física como algo que precisa de prática contínua. A vida social funciona do mesmo jeito – é um sistema vivo e precisa de cuidado e manutenção”, afirmou ao “Harvard Gazette.

Manter amizades ativas contribui para um envelhecimento mais saudável, mas não é só isso. Continuar aprendendo também é fundamental. Pesquisas mostram uma forte relação entre manter o cérebro estimulado e preservar a capacidade cognitiva ao longo dos anos.

Carol Romano lança livro Por que as relações importam (tanto)?

Um estudo observou que o simples fato de se matricular em um curso para aprender uma nova habilidade ou hobby já foi o suficiente para melhorar o desempenho mental dos participantes a ponto de parecer que tinham 30 anos a menos. Outro, realizado pela Universidade Stanford, não encontrou sinais de declínio cognitivo em pessoas que continuaram mentalmente ativas mesmo depois da aposentadoria.

No fim, quanto mais cultivamos nossas relações e mantemos a mente estimulada, maiores são as chances de ganhar não apenas mais anos de vida, mas mais anos com saúde, autonomia e clareza mental. 

Este artigo foi publicado originalmente na “Inc.”, publicação parceira da Fast Company.


SOBRE A AUTORA