A morte da rainha Elizabeth e o movimento antimonarquia
O movimento republicano britânico para abolir a monarquia já vinha crescendo, especialmente entre os jovens. O que acontece agora?
A rainha Elizabeth II do Reino Unido morreu na última quinta-feira (dia 08/09), aos 96 anos, no Castelo de Balmoral, em sua propriedade nas Terras Altas da Escócia. Tendo sido a monarca com o reinado mais longevo da história britânica, era especialmente adorada pelo seu povo.
Ela assumiu o trono em 1952 e reinou por sete décadas, ostentando um dos índices mais altos de aprovação quando comparada a qualquer outro membro da família real do Palácio de Buckingham. No início dos anos 2000, sua aprovação chegou a 90% e, em uma pesquisa de 2012, foi eleita a terceira mulher mais admirada do mundo.
Após sua morte, jornais de todo o mundo lamentaram a perda da monarca, que descreveram como um ícone de graça e dignidade, o “espírito da Grã-Bretanha”.
Mas, agora, essa perda pode ser o presságio de uma mudança em curso, já que os olhos do público recaem sobre uma monarquia que sofre pressão. São tempos difíceis: os demais membros da casa de Windsor não são tão amados quanto a rainha. De uns anos para cá, o próprio conceito de realeza britânica vem perdendo aquele apoio amplo de que gozava há duas décadas.
O apoio da população à monarquia se manifesta principalmente entre as gerações mais velhas e diminui com a idade.
Em novembro de 2021, apenas alguns meses antes do Jubileu de Platina da rainha – que comemorou seu 70º ano de governo –, uma pesquisa da Ipsos descobriu que apenas 60% dos britânicos eram a favor da permanência da monarquia na Grã-Bretanha. Esse número representa a maior baixa percentual vista nos 30 anos de história da pesquisa. O próprio Jubileu foi contestado em uma conferência internacional antimonarquia, que propagou o slogan: “Que Elizabeth seja a última”.
Durante o fim de semana do Jubileu, em junho, uma pesquisa do YouGov revelou que 62% dos britânicos eram a favor da monarquia. Mas um detalhamento mostrou que esse apoio se manifesta principalmente entre as gerações mais velhas (77% dos entrevistados favoráveis têm mais de 65 anos) e que ele diminuía com a idade (apenas 33% das pessoas de 18 a 24 anos declararam apoiar a monarquia, enquanto 31% defenderam um governo eleito).
Ou seja: a tendência é que o sentimento antimonárquico cresça com o tempo. Quando perguntados se eles acreditavam que a monarquia ainda existiria em 100 anos, os britânicos ficavam em cima do muro, com 39% dizendo que sim – abaixo dos 67% de uma década atrás – e 41% dizendo que não.
BECO SEM SAÍDA
A ascensão do filho mais velho da rainha, o rei Charles III – ex-príncipe Charles – poderia, inclusive, arruinar a monarquia bem antes do prazo de um século. Desprezado depois da implosão de seu casamento com a princesa Diana de Gales – que talvez fosse ainda mais popular que a rainha –, o próprio Charles parecia resistente à perspectiva de se tornar rei, tendo chamado isso de um “beco sem saída".
O movimento Republic faz campanha para derrubar o governo e transformá-lo em uma república com um chefe de estado eleito.
Enquanto isso, seus críticos ridicularizavam tudo, desde seu hábito de falar com plantas até seu fascínio por arquitetura. Sua coroação relutante agora ameaça lançar o país em mais turbulência política.
Quem tem carregado a bandeira do movimento pela abolição da monarquia é o Republic, maior grupo de lobby para os chamados republicanos do Reino Unido, que faz campanha para derrubar o governo e transformá-lo em uma república com um chefe de estado eleito.
O argumento dos republicanos é que a monarquia de mil anos não tem lugar na sociedade moderna e que sua riqueza custa milhões de libras por ano aos contribuintes. A plataforma já viu aumentar o número de apoiadores conforme vários escândalos mancharam a antiga imagem pública impecável da família real. Outros críticos argumentam que a majestosa fachada do Palácio de Buckingham esconde um legado feio de imperialismo e colonialismo.
Além do Reino Unido, cidadãos de outros países que fazem parte da comunidade das nações sob o domínio da coroa – grupo que abrange o Canadá, a Jamaica e a Nova Zelândia –, também começaram a pedir o fim da autoridade real.
A Fast Company entrou em contato com a Republic para comentar a morte da rainha Elizabeth, e atualizaremos nossos leitores assim que recebermos uma resposta. Mas uma declaração feita no início do ano por seu executivo-chefe, Graham Smith, é bastante reveladora.
“A rainha é o sinônimo da monarquia para a maioria das pessoas”, disse Smith à imprensa. “Depois que ela morrer, o futuro da instituição estará correndo sério risco… Charles pode até herdar o trono, mas não herdará a deferência e o respeito concedidos à rainha."