Acordo dos roteiristas de Hollywood aponta novos rumos para a indústria

Além de aumento de salário, a categoria conseguiu o estabelecimento de normas para o uso de IA nas produções para cinema e TV

Crédito: Damian Dovarganes/ AP

Andrew Dalton 3 minutos de leitura

O fim da greve dos roteiristas de Hollywood, anunciado na noite desta terça-feira (26 de setembro), após quase cinco meses, marca uma nova etapa nas relações entre artistas e estúdios que deve repercutir por toda a cadeia do setor audiovisual e além, alcançando até a indústria de games.

Válido por três anos, o acordo inclui conquistas significativas nas principais áreas pelas quais os roteiristas lutaram, como remuneração, duração do emprego, tamanho das equipes e controle da inteligência artificial.

Na questão salarial, a demanda era por aumento de 5% a 6%, dependendo da posição do roteirista. Os estúdios queriam entre 2% e 4%. O percentual acordado ficou entre 3,5% e 5%.

Algumas das mesmas questões envolvidas na greve que atingiu as produções de cinema e TV afetam os artistas que trabalham com videogames.

O sindicato também negociou novos pagamentos residuais com base na popularidade de programas de streaming. Os roteiristas receberão bônus por fazerem parte dos programas mais populares na Netflix, Max e outros serviços – proposta inicialmente rejeitada pelos estúdios.

No que diz respeito à inteligência artificial, os roteiristas conseguiram vitórias em termos de regulamentação e controle da tecnologia. Segundo o acordo firmado, enredos gerados por IA não serão considerados "material literário" (termo usado para definir roteiros e outros formatos de conteúdo).

Isso significa que os profissionais não terão que competir com máquinas por créditos na tela. As histórias geradas por IA também não serão consideradas "material de origem", ou seja, romances, jogos de vídeo ou outras obras originais que são adaptadas para cinema ou TV.

Os roteiristas têm o direito de usar ferramentas de inteligência artificial em seu processo de criação, desde que a empresa para a qual estão trabalhando concorde e que outras condições sejam atendidas. No entanto, as empresas não podem exigir que um roteirista use IA para fazer seu trabalho.

PARALIZAÇÃO DOS ATORES CONTINUA

Membros ainda em greve do sindicato dos artistas de rádio e TV, o Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA) voltaram a realizar piquetes após a divulgação do acordo firmado entre roteiristas e estúdios.

Piquete em frente ao estúdio da Netflix em Los Angeles (Crédito: Damian Dovarganes/ AP)

“Por um breve momento, achei que isso ia continuar até o ano que vem", disse Marissa Cuevas, atriz que participou de seriados de TV como Kung Fu e The Big Bang Theory. "Saber que pelo menos parte dos trabalhadores da indústria conseguiu um bom acordo dá muita esperança de que nós, atores, também conseguiremos.”

As linhas de piquete dos roteiristas haviam sido suspensas, mas eles foram incentivados a apoiar o movimento dos atores e muitos participaram dos protestos. “Jamais teríamos a vantagem que tivemos se os atores não tivessem entrado em greve", disse Matthew Weiner, criador da série Mad Men, da HBO. "Eles foram muito corajosos.”

Os atores também votaram para expandir a greve no sentido de incluir o lucrativo mercado de videogames. Essa medida pode exercer nova pressão sobre os estúdios de Hollywood para que cheguem a um acordo com os artistas que fazem dublagem e atuam como dublês nas filmagens para games.

Algumas das mesmas questões envolvidas na greve que atingiu as produções de cinema e TV afetam os artistas que trabalham com videogames, principalmente no que diz respeito a remuneração, medidas de segurança e proteções no uso de inteligência artificial.

As empresas envolvidas incluem gigantes da indústria de games como Activision, Electronic Arts, Epic Games, Take 2 Productions, além das divisões de jogos da Disney e da Warner Bros.

“É hora de as empresas de videogame pararem de brincar e levarem a sério a negociação", disse a presidente da SAG-AFTRA, Fran Drescher. Porta-voz das empresas, Audrey Cooling disse que elas "continuam a negociar de boa fé".

Colaboraram Leslie Ambriz e Krysta Fauria, da Associated Press.


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