Amazon foca na Alexa, Echo e outras “modernidades” para cortar custos
Os problemas vão muito além das altas despesas com pesquisa e desenvolvimento
Quando o CEO da Amazon, Andy Jassy, anunciou que a empresa faria demissões, se dirigiu a uma equipe em particular: a de dispositivos e livros, responsável por produtos como a assistente virtual Alexa, o leitor Kindle, os alto-falantes inteligentes Echo, os tablets Fire, as campainhas Ring e por um robô doméstico conhecido como Astro.
Em um memorando enviado aos funcionários, Jassy falou sobre a “difícil decisão de eliminar vários cargos em nossos negócios de dispositivos e livros”. Essa notícia chegou logo depois do anúncio de que a Amazon interromperia a contratação incremental para funções corporativas. No total, espera-se que a empresa elimine 3% de sua força de trabalho, cerca de 10 mil pessoas.
Analistas dizem que o setor de dispositivos da Amazon é um alvo fácil para cortes de pessoal porque trabalha com produtos experimentais, que ainda não conquistaram os consumidores. Eles também se perguntam se esses dispositivos estão ajudando a impulsionar a famosa estratégia da Amazon de engajamento em sua plataforma de vendas e se alguns dos aparelhos mais populares, como o Echo, podem ser monetizados. A companhia não quis comentar o assunto.
A área de dispositivos cresceu ao longo dos anos, em uma operação em expansão. De acordo com o "The New York Times", o setor estava perdendo US$ 5 bilhões por ano até 2018, quando contava com 10 mil engenheiros.
COMPLEXIDADE CUSTOSA
De acordo com algumas estatísticas, a investida agressiva da Amazon em dispositivos, como parte de um esforço mais amplo para entrar no mercado das casas inteligentes, tem sido um enorme sucesso. A Consumer Intelligence Research Partners, que realiza pesquisas de mercado, constatou que a empresa domina o mercado de alto-falantes inteligentes, por exemplo.
Em uma pesquisa conduzida pela CIRP em junho, 69% dos entrevistados que compraram algum alto-falante inteligente no ano passado disseram ter comprado um Echo. O Google Home alcançou 25% de participação de mercado, enquanto o Apple HomePod (5%) e o Portal do Facebook (1%) ficaram muito atrás.
Mas a Amazon não tem apenas a versão "clássica" do Echo. Ele vende uma variedade estonteante de Echos, Echo Dots e Echo Dots para crianças, todos em várias gerações de lançamento. No catálogo, cada categoria (por exemplo, alto-falantes inteligentes) contém uma infinidade de opções. Esse tipo de complexidade torna-se cara para projetar, fabricar e comercializar.
Ao mesmo tempo, algumas inovações de dispositivos muito anunciadas, como a capacidade de fazer pedidos na Amazon via Alexa, não conseguiram conquistar um público fiel. Em outras palavras, a Alexa não parece estar impulsionando as vendas no varejo de maneira significativa.
A Amazon também tem sofrido para transformar certos aparelhos de queridinhos do pessoal de P&D (pesquisa e desenvolvimento) em sucessos de hardware. No mês passado, por exemplo, a empresa anunciou que descontinuaria o Amazon Glow, um dispositivo de videochamada projetado para ajudar crianças a jogar com seus avós, que estava no mercado há apenas um ano.
“Achei o Amazon Glow fantástico, meu filho adora. Mas é muito difícil explicar o que ele faz e por que alguém deveria comprá-lo”, diz o analista de tecnologia Avi Greengart, presidente da Techsponential, que avaliou o Glow na época do lançamento.
“É uma plataforma intergeracional de interação de jogo, mas a Amazon não conseguiu fazer com que os consumidores entendessem o que era e comprassem.”
CONCORRÊNCIA DE STARTUPS
Em algumas categorias de dispositivos, a empresa agora enfrenta startups ágeis, que transformaram as fraquezas percebidas na Amazon em vantagens.
A Yoto, por exemplo, fabrica dispositivos de narração de histórias em áudio para crianças. Eles têm alto-falante, mas não microfone. Em vez de responder à voz de uma criança, Yoto usa um sistema baseado em cartas para seleção de histórias que ecoa os princípios Montessori em torno do jogo físico.
Ben Drury, fundador e CEO da Yoto, diz que essa abordagem permitiu competir com gigantes como a Amazon mesmo sem dispor dos recursos para investir em tecnologia de reconhecimento de fala. No fim das contas, isso também é o que os pais preferem.
"Perguntamos a muitos pais se eles estavam confortáveis em ter uma Alexa no quarto dos filhos e muitos dizem não", afirma Drury. “Não é necessariamente porque eles acham que a Amazon está espionando as crianças, mas porque não há rede de segurança, não há controle.”
Drury acredita que a Yoto tenha somado “bem mais de $ 1 milhão” em vendas na Black Friday.