Artista visual realiza performance em Porto Alegre com interferência NFT
Na área da economia criativa, artistas do mundo todo estão descobrindo as oportunidades de vender e investir nas criptomoedas com NFTs. Os tokens não fungíveis são uma espécie de certificado digital de posse e autenticidade estabelecido via blockchain para bens digitais — e já são vistos por muitos artistas como um modelo de monetização promissor.
A tecnologia é destaque nas exposições da 34ª edição do Festival de Arte de Porto Alegre apresentadas pela artista visual e performer Andressa Cantergiani em Abrigo 2021. Nesta quarta-feira (3), às 19h, a performance/instalação ocorre no Átrio (Espaço Ceia) do Farol Santander Porto Alegre, com transmissão ao vivo no espaço da Galeria de Arte Mamute na SP-Arte Viewing Room.
A idealização do NFT como mídia e linguagem do projeto Abrigo 2021 foi concebida por Cantergiani e Lalai Persson, Head de Criação do estúdio criativo Menta Land, contando com a colaboração da curadora de criptomoedas DUX Cripto e a empresa de educação financeira cripto Financial Move para se tornar realidade.
Na primeira apresentação, em 21 de outubro, quatro NFTs da performance foram disponibilizados na plataforma de cripto ativos OpenSea. Dois deles garantiam acesso a um conteúdo individual e intransferível para o comprador que poderia, então, integrar um espaço restrito da exposição. O convite por meio do NTF, de certa forma, faz alusão à fantasia de um ticket dourado que leva o participante a se materializar em uma conversa com a artista por cerca de 10 minutos. Hoje, novamente, os interessados puderam adquirir os NFTs que dão direito a comparecer virtualmente na mostra e receber o vídeo da interação montado na tecnologia blockchain como registro oficial da performance. Serão criados também 4 NFTs de fotos e um NFT único com o vídeo da exposição completa.
Esses tokens estarão em leilão com regras a serem definidas, junto com outro NFT da trilha sonora completa, composta por Stefanie Egedy, produtora musical brasileira radicada em Berlim.
O projeto Abrigo 2021 acontece a partir da instalação de uma pequena casa de acrílico equipada com sensores luminosos de LED na base, que alternam entre as cores vermelho e verde à medida que os visitantes do Farol Santander se aproximam a até um metro e meio de distância da casinha onde está a artista. A proposta é retratar a experiência do atravessamento da pandemia como um tempo desconectado de um lugar.
A casa de acrílico, projetada com a ajuda de Edu Saorin da Urbanauta, não possui ventilação interna, fazendo com que seja questão de tempo até que a superfície esteja embaçada. A performer atravessa a sensação sufocante para lançar ao público o questionamento das políticas de cuidado com o outro, necessárias para sobrevivermos juntos aos desafios que se apresentam na crise.
Doutora em Poéticas Visuais pela UFRGS e Hannover University (Alemanha), a gaúcha Alessandra Cantergiani estuda cobertores de alumínio desde 2018. O material serve para proteger, aquecer e salvar vidas em situações emergenciais, e seria utilizado pela artista na performance Abrigo 2020. Imaginada como uma instalação participativa onde os visitantes pudessem usar as mantas de alumínio num espaço de diálogo seguro, a mostra foi interrompida pela pandemia em março e não contou com a participação do público. Por fim, foi exposta na Galeria Mamute, em Porto Alegre, na mostra Flutua: Em diálogos ressonantes, com curadoria de Paula Boher.
Em 2021, Cantergiani dá continuidade a performance que agora se consolida em tempo real, online e presencial. Além da ideia de sufocamento, a principal reflexão é a coletividade do abrigo como o conjunto de ações coletivas em uma situação limítrofe e emergencial. Ao convidar os visitantes a vestir “a mesma capa” juntos, a artista chama atenção para a temporalidade dos eventos históricos, e como as pessoas sentem e vivenciam o tempo de uma forma desvinculada ao tempo cronológico do relógio.
Para proporcionar uma experiência sensorial, por meio das luzes e da sonoridade metálica no espaço, a performer capturou a sensação que teve ao chegar na cidade de Berlim, onde mora na Alemanha, depois de ficar um ano e meio isolada em Porto Alegre. O sentimento de lacuna temporal, é descrito por ela como a ocupação de um não-lugar, como se sua vivência do tempo no Brasil não existisse e ela nunca tivesse partido de Berlim.
“Essa lacuna temporal de se sentir em algum lugar que não existe, que não é nem Berlim, nem Porto Alegre, tem a ver com essa situação limítrofe de estar com excessos de cortisol e em estado de alerta constante, o que afeta totalmente a forma com que sentimos e vemos o tempo. A outra coisa é estarmos habitando o mesmo ambiente por muitos e muitos dias, muitas horas, gerando esse pulos temporais e desconexões. Na performance a gente viaja pelo passado, presente e futuro, na arte é um pouco assim, conectamos memórias através de relações empáticas com o público, e geramos registros, marcas que ficam e podem transformar a percepção do mundo de quem vê.”, ela destaca.