Aumenta o volume de golpes com Pix em anúncios pagos na Meta

Pesquisa do NetLab mostra alta de 234% no uso de vídeos falsos do deputado federal em fraudes digitais

Crédito: Peshkov/ Getty Images

Redação Fast Company Brasil 3 minutos de leitura

Aquele post patrocinado no Facebook ou no Instagram com o vídeo de uma figura conhecida pode ser golpe. Nova pesquisa do NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revela um crescimento de 35% no número de golpes com Pix nas plataformas da Meta.

Entre os dias 10 e 21 de janeiro de 2025, 1.770 anúncios fraudulentos foram identificados, utilizando desinformação sobre as novas regulamentações do Pix para enganar brasileiros. 

O volume de anúncios de golpes aumentou após a revogação da norma da Receita Federal que previa maior monitoramento de transações via Pix. Segundo o NetLab, não só os golpistas estão ficando mais sofisticados – usando inteligência artificial e desinformação – como também o ecossistema da Meta se tornou um terreno fértil para crimes financeiros. 

A campanha de desinformação utilizou IA para manipular falas de figuras públicas, criando vídeos nos quais políticos e jornalistas supostamente incentivavam a população a acessar links fraudulentos para resgatar valores inexistentes.

Entre as personalidades mais exploradas estavam figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O estudo mostrou que houve aumento de 234% no uso de deep fakes de Ferreira entre 10 e 21 de janeiro. O deputado federal foi figura central na pressão pela revogação da medida e fez alguns vídeos criticando o governo. Os anúncios fraudulentos usaram partes do início dessas gravações e depois alteravam a voz do deputado.

GOLPES COM PIX POTENCIALIZADOS

Dos 1,7 mil anúncios fraudulentos, 95% usavam figuras políticas e símbolos de instituições federais para divulgar supostos “direitos a saques” com o Pix. Pouco mais de 40% dos anúncios se passavam por canais oficiais do governo, usando logotipos da Caixa Econômica Federal, Receita Federal e Banco Central.

Segundo o NetLab, a utilização do deepfake para reforçar a credibilidade de fraudes evidencia como a desinformação evoluiu para formas mais sofisticadas, desafiando não apenas a capacidade de moderação das plataformas, mas também a alfabetização digital dos usuários.

O estudo mostra que os golpistas usaram as ferramentas de publicidade da Meta para segmentar vítimas com base em interesses, localização e comportamento online.

Outro fator agravante é a falta de transparência da Meta. Enquanto a empresa aplica um controle mais rigoroso sobre anúncios políticos nos Estados Unidos, no Brasil as regras são mais frouxas. Nenhum dos anúncios fraudulentos foi classificado como político pela plataforma, o que impede sua rastreabilidade no repositório de publicidade da empresa.

Os pesquisadores do NetLab sugerem que há um padrão de governança diferenciado entre regiões, no qual países do Sul Global recebem menos atenção e proteção regulatória do que mercados desenvolvidos.

E AGORA, MARK?

A coexistência de anúncios fraudulentos e campanhas oficiais do governo nas plataformas da Meta cria um cenário confuso para o usuário. Após a revogação da norma do Pix, o governo lançou sua própria campanha de informação sobre o sistema de pagamentos, mas o ambiente poluído por fake news minou sua credibilidade. 

Essa sobreposição de conteúdos prejudica o discernimento da população sobre o que é uma comunicação legítima e o que é um golpe digital.

Os pesquisadores do NetLab lembram que a recente declaração de Mark Zuckerberg sobre a mudança na política de moderação de conteúdo da Meta torna os achados deste estudo mais preocupantes.

“A falta de medidas de moderação, verificação, controle e transparência de anúncios faz com que audiências vulneráveis sejam facilmente exploradas em plataformas de redes sociais de forma velada", escreveram os autores da pesquisa.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Conteúdo produzido pela Redação da Fast Company Brasil. saiba mais