Barreira “estilosa” evita o despejo de 16 toneladas de lixo no mar

Tecnologia desenvolvida pela The Ocean Cleanup recolhe o lixo dos rios antes que o material seja despejado no oceano

Crédito: The Ocean Cleanup

Adele Peters 3 minutos de leitura

Quando uma forte chuva atingiu a cidade de Los Angeles, em novembro último, o lixo das ruas foi parar direto no córrego Ballona, um riozinho com15 quilômetros de extensão que deságua na baía de Santa Monica, no litoral da Califórnia.

Normalmente, uma tempestade que cai depois de meses de tempo seco acaba carregando uma montanha de restos e lixo para o mar. Porém, um mês antes daquela chuvarada, uma nova barreira flutuante foi colocada na altura da foz do Ballona.

Conforme o lixo ia sendo arrastado pela chuva para dentro do riacho, era represado pela barreira e transportado por uma esteira rolante (movida a energia solar) para fora da água. Automaticamente, o equipamento ia enchendo as caçambas instaladas em uma barcaça que levava o material para a terra, onde seria separado e enviado para reciclagem.

Crédito:The Ocean Cleanup

Ao longo de dois dias, foram coletadas cerca de 16 toneladas de lixo. Quando a chuva intensa finalmente parou, trabalhadores retiraram as barreiras, abrindo caminho para a passagem dos caiaques que costumam transitar pelo local.

 A tecnologia, batizada de Interceptor (interceptador) é a mais nova criação da The Ocean Cleanup, organização sem fins lucrativos com sede na Holanda. A entidade já conta com diferentes versões do equipamento em 10 rios no mundo todo (o de Los Angeles é o  primeiro nos Estados Unidos). Em alguns locais, como no riacho Ballona, ele consegue bloquear quase metade do lixo na água antes que ele chegue ao mar.

Crédito: The Ocean Cleanup

O ideal, é claro, seria que o lixo não fosse parar nos rios, em primeiro lugar. Mas não parece que isso vá acontecer tão já, na visão de Boyan Slat, CEO da The Ocean Cleanup.

Segundo ele, as barreiras podem servir como incentivo ao desenvolvimento de soluções sistêmicas. Na República Dominicana, por exemplo, onde um desses equipamentos está em operação, a instalação da barreira estimulou o debate sobre o uso excessivo de plástico.

Crédito: The Ocean Cleanup

Em Los Angeles, onde já existe  todo um sistema de reciclagem, ter uma barreira desse tipo que seja visível por quem passa por ali pode incentivar  mais pessoas a pensar em como evitar o acúmulo de lixo nos rios. A administração municipal colocou placas no local explicando o funcionamento daquela tecnologia para que o público possa se informar melhor.

“Estamos aproveitando o fato de se tratar de uma novidade e também de ser um dispositivo muito elegante”, diz Keion Lee, representante da administração local. “É um ponto de partida para discussão que estamos usando para ‘guiar’ as pessoas no sentido de uma mudança de comportamento.”

Outros métodos já são usados para tirar o lixo do córrego, como uma rede colocada mais acima da foz. Mas o material recolhido tem que ser retirado manualmente, e em dias de chuva muito forte pode transbordar para fora da contenção.

Crédito: The Ocean Cleanup

O Interceptor consegue resgatar o material que escapa e conta com um mecanismo automatizado para transportá-lo para a caçamba. O sistema avisa ao operador quando ela está cheia e pronta para ser transferida para um píer em terra, onde é feita a triagem. O lixo orgânico, como galhos e folhas, vai para compostagem. Plásticos e outros materiais reaproveitáveis são encaminhados para reciclagem.

Até aqui o equipamento tem se mostrado “excepcional em termos de eficiência”, afirma Slat. Mas cada rio tem características próprias e não dá para garantir que um mesmo modelo de interceptador funcione bem em diferentes partes do mundo.

Crédito: The Ocean Cleanup

Em Los Angeles, o equipamento deve continuar em operação pelos próximos dois anos, em um projeto-piloto que servirá para testar seu bom funcionamento e garantir que não provoque impactos negativos no ecossistema local nem para os moradores das imediações. Se tudo der certo, pode virar uma solução permanente.

À medida em que vai instalando seus equipamentos em mais lugares, a The Ocean Cleanup planeja focar em rios que sejam ao mesmo tempo muito poluídos e nos quais a tecnologia possa ter o melhor aproveitamento possível. Também há planos de expansão para países como a Indonésia, onde essa tecnologia já está em funcionamento.

Vale lembrar que a Indonésia é um dos pontos críticos do mundo em termos de desperdício de plástico, com quase cinco milhões de toneladas do material despejadas no meio ambiente a cada ano.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais