Bilionários líderes de big techs estão formando uma nova “broligarquia”

Para os membros da nova elite tecno-bilionária dos EUA, não basta apoiar o presidente Donald Trump – eles fazem questão de imitá-lo

Crédito: Fast Company Brasil

Joe Berkowitz 4 minutos de leitura

Mais cedo ou mais tarde, políticos que admiram Donald Trump acabam começando a imitá-lo. Homens, em particular, costumam adotar seu estilo: ternos azul-marinho, gravata vermelha e até sua postura característica.

Mas essa influência não se limita apenas aos políticos. Muitos bilionários da tecnologia, que recentemente passaram a demonstrar apoio mais aberto ao atual presidente dos EUA também parecem, de certa forma, estar se espelhando nele – formando o que está sendo chamado de “broligarquia” (junção de “bros”, irmãos/ amigos em inglês, com oligarquia) 

Na semana passada, por exemplo, a já conhecida rivalidade entre Elon Musk e Sam Altman – ambos ex-integrantes do conselho da OpenAI antes da saída de Musk, em 2018 – ganhou contornos de espetáculo no estilo Trump.

Tudo começou quando o atual presidente anunciou um ambicioso projeto de US$ 500 bilhões envolvendo OpenAI, Oracle e SoftBank. Musk, no entanto, foi rápido em minimizar o anúncio. Em resposta a uma publicação oficial da OpenAI sobre o projeto Stargate, o dono do X/ Twitter disparou: “eles não têm esse dinheiro”. 

Altman respondeu à altura, convidando Musk para visitar o primeiro local do projeto, supostamente em desenvolvimento, e ainda provocou: “entendo que o que é bom para o país nem sempre é o melhor para suas empresas”, escreveu, “mas espero que, na sua nova função, você coloque os interesses dos EUA em primeiro lugar.”

Mais tarde, Altman tentou amenizar a crítica, acrescentando: “tenho um enorme respeito pelas suas conquistas e o considero o empreendedor mais inspirador de nosso tempo”. Mas, quando bilionários começam a trocar farpas, é difícil reverter a situação. A broligarquia não é tão "bro" assim.

BROLIGARQUIA NA SEGUNDA ERA TRUMP

Musk foi o primeiro dos grandes nomes da tecnologia a começar a imitar Trump. Ele parece ter entendido, durante o primeiro mandato, que estar no centro das atenções – online e no mundo real – é uma forma poderosa de influência.

Talvez Musk tenha percebido que, mesmo que Trump tenha perdido a reeleição, há poder em oferecer um espetáculo constante ao público, ainda que isso signifique ser tão odiado quanto admirado.

Embora Musk já fosse uma figura pública bem conhecida e polêmica, no início dos anos 2020, ele intensificou sua presença na mídia, gerando manchetes praticamente todos os dias. Seja ao criticar pronomes de gênero, promover criptomoedas ou zombar do design do foguete da Blue Origin, de Jeff Bezos, sempre encontrava um jeito de virar notícia.

A partir da esquerda: Mark Zuckerberg (Meta), Lauren Sanchez (jornalista e apresentadora), Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google) e Elon Musk (Tesla/ SpaceX/ Starlink). Crédito: Getty Images

Também passou a atacar jornalistas que discordavam dele, frequentemente utilizando um dos termos favoritos de Trump: “fake news”. Não é surpresa que agora os dois sejam aliados próximos.

Bezos também seguiu os passos de Musk na guinada ao trumpismo. Em outubro do ano passado, ele impediu que o “The Washington Post”, jornal de sua propriedade, publicasse um editorial apoiando Kamala Harris. Assim como Musk, Bezos parece ter incorporado a teatralidade que é marca registrada de Trump.

Após seu divórcio de Mackenzie Scott, em 2019, ele começou a aparecer ainda mais nas manchetes – seja exibindo seu foguete da Blue Origin ou adotando um estilo mais chamativo, com roupas justas e visual “art déco”.

Essa versão pós-divórcio de Bezos parece à vontade sob os holofotes, sempre pronta para dar ao público algo sobre o que falar. Durante a posse de Trump, ele foi flagrado sorrindo na área VIP, como se estivesse se sentindo completamente em casa – como os demais membros da nova broligarquia.

MUDANÇAS COSMÉTICAS E ESTRATÉGICAS

O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, também passou por uma transformação. Trocou os famosos moletons por camisetas mais soltas, passou a usar uma corrente no pescoço e adotou o corte de cabelo “brócolis”, popular entre a geração Z.

A nova aparência veio acompanhada de uma guinada à direita, com apoio financeiro a Trump e críticas a temas como checagem de fatos e políticas de inclusão.

De acordo com uma reportagem do “The New York Times”, essa mudança não é apenas uma estratégia para proteger a Meta, mas uma evidência pública de que “as posições políticas do bilionário mudaram radicalmente para a direita desde 2020”. Ao longo desse período, Zuckerberg deixou pistas dessa transformação.

Muitos bilionários da tecnologia, que passaram a apoiar Trump, também parecem estar se espelhando nele, formando o que está sendo chamado de “broligarquia”.

O momento mais "trumpista" de Zuckerberg foi, talvez, a melhor cobertura da imprensa que ele teve desde sua era de menino prodígio. Em 2023, quando a Meta se preparava para lançar o Threads – sua aposta para tomar o lugar do X/ Twitter –, Musk fez uma piada sobre a possibilidade de uma luta no octógono (o ringue das lutas de MMA) contra Zuckerberg.

Musk na certa não esperava o que aconteceu em seguida. Zuckerberg entrou em contato com Dana White, CEO do Ultimate Fighting Championship (UFC) e aliado próximo de Trump (agora membro do conselho da Meta) e pediu que ele intermediasse o combate.

Antes de cancelar a luta, seis semanas depois, Zuckerberg conseguiu parecer descolado ao expor a bravata do oponente. Musk pode ter iniciado a conversa sobre a luta, mas foram os novos instintos de showman do CEO da Meta que reconheceram a situação como uma oportunidade de autopromoção.

Em 2023, era fácil – e até divertido – acompanhar brigas entre CEOs e escolher um lado. Agora, a “broligarquia” parece estar toda do mesmo lado, competindo entre si para ver quem consegue se parecer mais com Trump.


SOBRE O AUTOR

Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais