Brasileiros ganham mais de empresas estrangeiras, mas preferem ficar no país

Pesquisa aponta que, apesar de ganharem em média R$ 29 mil por mês, esses trabalhadores preferem aproveitar o custo de vida daqui

Crédito: Viktor Gladkov/ iStock

Rafael Farias Teixeira 3 minutos de leitura

Trabalhar para empresas de qualquer lugar do mundo, hoje, é uma realidade para muitos brasileiros. Além de conseguirem uma remuneração acima da média de boa parte dos seus conterrâneos, esses “trabalhadores globais” ganharam muito espaço: a quantidade de global workers brasileiros praticamente quintuplicou entre 2020 e 2022.

"A pandemia impulsionou a experiência do trabalho remoto para muitas empresas, sobretudo na área de tecnologia. Com o retorno aos escritórios, o trabalho presencial se tornou mais um fator que influencia a escolha dos profissionais brasileiros por vagas internacionais", explica Tiago Santos, CEO da Husky.

A fintech, especializada em facilitar transferências internacionais, ouviu1.629 pessoas em fevereiro para a primeira edição da pesquisa "Global Workers 2023 - Panorama sobre os profissionais brasileiros que trabalham para o exterior". O estudo revelou as características dessas pessoas que trabalham remotamente, viajam e procuram vagas em qualquer país.

Fonte: Pesquisa Global Workers 2023 - Panorama sobre os profissionais brasileiros que trabalham para o exterior/ Husky

Segundo o levantamento, a maioria (81,5%) são homens, sem filhos e com idade média de 31 anos, que moram com seus parceiros (67,9%) e têm nível superior de escolaridade (94,9%), com destaque para a área de Exatas e cursos ligados à tecnologia (75,7%).

A motivação principal para se tornar um global worker é a remuneração: 90% consideram o salário mais atrativo do que o oferecido pelas empresas no Brasil. Acrescente-se a isso o fato de que oito em cada 10 deles recebem em dólar. De acordo com a pesquisa, um global worker brasileiro ganha em média R$ 29 mil por mês.

"Descobrimos que eles também se preocupam com o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. O fenômeno da 'fuga de cérebros', ou fuga de talentos para o exterior tende a aumentar se as empresas não se mostrarem competitivas diante das propostas internacionais", diz Santos.

Fonte: Pesquisa Global Workers 2023 - Panorama sobre os profissionais brasileiros que trabalham para o exterior/ Husky

Entretanto, um terço dos entrevistados afirma que o pacote de benefícios das empresas estrangeiras é pior quando comparado aos dos empregadores brasileiros.

DIFERENÇAS CULTURAIS

Grande parte (87%) é contratada como pessoa jurídica (PJ). Embora a maioria prefira esse tipo de contrato, também existem aqueles que atuam no modelo CLT ou como freelancers.

Um dos grandes desafios identificados são as diferenças culturais entre as organizações brasileiras e estrangeiras, acentuadas quando há times compostos por pessoas de diversas nacionalidades. Para as empresas, a questão é contratar pessoas que operam em fusos horários diferentes, o que torna a rotina síncrona mais complexa.

Mesmo com a possibilidade de trabalhar remotamente de qualquer lugar, o global worker prefere ter residência fixa. Apenas um em cada cinco se considera nômade digital. A maioria (98,1%), inclusive, prefere permanecer no Brasil.

Fonte: Pesquisa Global Workers 2023 - Panorama sobre os profissionais brasileiros que trabalham para o exterior/ Husky

A razão é um combinado de custo-benefício com comodidade: 41,5% querem estar próximos do seu círculo de relações e 33,2% aproveitam a vantagem de viver no Brasil sendo remunerado com uma moeda mais valorizada que o real.

"Os dados reforçam o quanto esses profissionais valorizam relações de trabalho mais flexíveis, nas quais possam conciliar experiências pessoais e profissionais com viagens e momentos de lazer, sem deixar de lado a parte financeira”, diz Santos.

SALÁRIO EM MOEDA ESTRANGEIRA

Sobre as áreas de atuação, no topo do ranking aparecem ciência da computação, seguida de sistemas de informação e engenharia da computação. Segundo uma pesquisa anterior da Husky, a maioria dos profissionais que têm uma carreira remota no exterior trabalha no segmento de tecnologia, atuando principalmente como desenvolvedores de software.

A motivação principal para se tornar um global worker é a remuneração.

Ainda em termos de carreira, a maioria se formou há menos de 10 anos, o que derruba o mito de que é preciso ser um profissional sênior ou especialista em alguma área para ser contratado por empresas de fora.

Vale destacar que 37,4% foram prospectados por recrutadores em plataformas como o LinkedIn, sem que precisassem se candidatar às vagas. Outros 25,7% foram indicados por alguém para ocupar a vaga atual. "Isso mostra a importância do networking e uma tendência de que mais brasileiros sejam contratados por indicação de seus conterrâneos", aponta Santos.


SOBRE O AUTOR

Rafael Teixeira Farias tem mais de 14 anos de carreira em jornalismo e marketing digital, além de sete livros de ficção já publicados. saiba mais