A lua de mel entre Musk e Trump durou ainda menos do que se esperava

Bilionário da tecnologia e presidente dos Estados Unidos cortam os laços e trocam farpas em redes sociais

Crédito: Reprodução/ X/ Freepik

Redação Fast Company Brasil 5 minutos de leitura

O “bromance” entre Donald Trump e Elon Musk chegou ao fim. O bilionário e o presidente dos Estados Unidos deixaram a colaboração e os elogios de lado e passaram a trocar acusações e ameaças nas redes sociais.

Trump incitou a retirada dos contratos de Musk com o governo dos Estados Unidos; do outro lado, Musk disse que, sem sua intervenção, o republicano não teria vencido as eleições presidenciais. Sobrou até para os arquivos de Jeffrey Epstein.

É um fim de relacionamento ao mesmo tempo previsível e explosivo, como explicam especialistas.  O investidor Jim Chaos, entrevistado pela Fast Company, classificou o rompimento como "a separação mais previsível da história".

A briga pública aconteceu uma semana depois de o executivo anunciar sua saída do governo federal, em uma conferência fora do comum, Com um olho roxo, eles fez o comunicado ao lado do presidente Trump na Casa Branca, em uma coletiva de imprensa. 

Logo depois, Musk postou críticas a Trump em sua conta no X/ Twitter. Uma das postagem foi contra a nova lei orçamentária – que o presidente chamou de “grande e linda lei”. Musk classificou o projeto como uma "abominação nojenta". As críticas do bilionário sul-africano se seguiram durante a semana. 

Musk dobrou a aposta na crítica e disse que as tarifas de Trump  (que ele mesmo havia apoiado no começo do ano) causariam uma recessão até o final de 2025, além de compartilhar postagens antigas de Trump nas redes sociais criticando os republicanos por não lidarem com o crescente déficit público. 

Na quinta-feira (dia 5), Trump falou sobre o bilionário com repórteres na Casa Branca e se disse “muito decepcionado” com o ex-aliado e ex-apoiador. Também se disse surpreso pelas alfinetadas no projeto de lei orçamentária, uma vez que Musk teria lido o texto antes de ser enviado ao Congresso. “Elon e eu temos um grande relacionamento, não sei mais se teremos.”

A BATALHA NO CAMPO DAS REDES SOCIAIS

Após a fala de Trump, Musk entrou no modo “franco atirador” na rede social X (que ele comprou em 2022). Não é novidade o executivo usar sua conta para disparar desafetos. Segundo Ryan Mac, um dos autores do livro "Limite de Caracteres: Como Elon Musk Destruiu o Twitter", o feed de Musk é a melhor maneira de saber como está o seu humor.

Na quinta-feira, ele declarou: "sem mim, Trump teria perdido a eleição”, acusando o presidente de mostrar "ingratidão" após Musk financiar parte da campanha presidencial, com uma contribuição estimada em um quarto de bilhão de dólares.

Musk fez ainda acusações pessoais, alegando (sem provas) que o presidente estaria mencionado nos controversos "Arquivos Epstein", documentos relacionados ao pedófilo condenado Jeffrey Epstein.

O bilionário sugeriu que Trump seria a razão pela qual esses arquivos ainda não foram revelados. "Marquem esta postagem para o futuro. A verdade virá à tona", acrescentou o CEO da Tesla e da SpaceX.

Trump, por sua vez, usou sua própria rede social, a Truth Social, para rebater. Em uma das postagens, disse que sua relação com Elon estava “por um fio” e que foi decisão sua retirá-lo do governo. Musk respondeu chamando-o de mentiroso.

A coisa escalou e Trump subiu o tom das ameaças. "A maneira mais fácil de economizar bilhões e bilhões de dólares no orçamento é cancelar os subsídios e contratos de Elon com o governo. Sempre me surpreendi por Biden não ter feito isso antes!", publicou Trump no Truth Social.

Em resposta, Musk anunciou que a SpaceX começaria a desativar sua espaçonave Dragon, da qual a NASA depende fortemente para o transporte de pessoas e insumos até a Estação Espacial Internacional (mas depois voltou atrás).

Tudo isso em questão de três horas. 

A discussão continuou nesta sexta-feira. Em entrevista à rede de TV norte-americana ABC News, Trump descreveu Musk como “o homem que perdeu a cabeça”. Para a CNN, disse: “nem estou pensando sobre Elon. Ele tem um problema. O pobre rapaz tem um problema”.

E AGORA, ELON?

A ligação com Musk afetou a imagem de Trump perante muitos que acreditam que ele se tornou um fantoche do empreendedor sul-africano. A acusação de Musk sobre a ingratidão do presidente reforça essa percepção.

Além disso, Trump precisa lidar com o futuro do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), avalia Merici Vinton, ex-oficial do Serviço Digital dos EUA, em entrevista à Fast Company.

"A força motriz por trás do DOGE era o poder para Musk e seus amigos, não para o povo", diz ela. "Com o rompimento entre Elon e Trump, cada membro do DOGE que permanece no governo é leal a Musk, tornando o departamento uma ameaça à segurança nacional."

É um fim de relacionamento ao mesmo tempo previsível e explosivo.

Por outro lado, a Tesla, empresa de veículos elétricos de Musk, enfrenta uma forte queda nas vendas globais, pois os consumidores estão se desiludindo com sua postura combativa com o governo.

As ações da empresa caíram 15% em um único dia devido à briga pública de Musk com Trump nas redes sociais – e, até a publicação deste texto, continuavam em queda. Mais de US$ 150 bilhões foram perdidos do valor de mercado da Tesla devido ao conflito.

A lei tributária que Musk tanto critica, se aprovada, poderá acarretar bilhões em custos adicionais para suas empresas. E com cada tuíte incendiário publicado por ele, aumentam as chances de cancelamento dos contratos que elas mantêm com o governo.

"Não acho que nada do que Musk fez no último ano tenha valido a pena para ele", afirma Steven Buckley, pesquisador em política norte-americana e redes sociais na Universidade City St. George, em Londres.

"Em menos de um ano, Musk irritou todos os democratas, desperdiçou milhões de dólares em várias eleições estaduais, destruiu a imagem positiva da Tesla e agora parece ter criado uma grande divisão entre os republicanos", analisa.

Buckley observa que a única vantagem potencial para Musk em sua relação com Trump – os contratos governamentais favoráveis – agora parece estar seriamente ameaçada, com o próprio Trump ameaçando revogá-los. No longo prazo, a reputação de Musk pode ter sofrido danos permanentes.

"Nenhum democrata sensato vai querer trabalhar ou conceder contratos às empresas de Musk no futuro", diz Buckley. "E parece que muitos republicanos agora também pensam assim."

Com informações de Chris Stokel-Walker, da Fast Company


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