Calor extremo afeta estrutura metálica de ponte em Nova York
A ponte ficou emperrada porque sua estrutura de aço dilatou com o calor. A expectativa é que transtornos desse tipo sejam cada vez mais frequentes
Quando a temperatura em Nova York chegou a 35ºC na semana passada, a cidade registrou o dia mais quente do ano até agora. O calor teve um efeito colateral inesperado: fez com que o aço da Ponte da terceira Avenida, no Bronx, se dilatasse, forçando a ponte levadiça a ficar presa na posição aberta e impedindo o tráfego de veículos em plena hora do rush.
Essa é só uma das maneiras como o calor extremo vem afetando a vida cotidiana e é só mais um exemplo dos impactos que a mudança climática pode ter sobre a infraestrutura urbana.
Essa ponte, que liga a ilha de Manhattan ao Bronx, às vezes se abre para permitir a passagem de navios que trafegam pelo rio Harlem. Depois que ela ficou emperrada nessa posição, as autoridades precisaram borrifar água na estrutura para resfriá-la. A ponte ficou bloqueada por volta das 16h e só foi reaberta ao tráfego por volta das 18h30.
O fato de o aço se expandir em altas temperaturas não é novidade. Os engenheiros levam isso em consideração quando constroem pontes e outras obras de infraestrutura. As juntas de expansão acomodam a possibilidade de o comprimento de uma ponte mudar em função da temperatura – mais longa devido ao calor e mais curta quando se contrai no frio.
Só que as temperaturas estão ficando cada vez mais altas, e as mudanças climáticas estão tornando o calor extremo e as ondas de calor mais frequentes e intensas. Essa realidade pode ser conflitante com os padrões de construção que estão em vigor há décadas.
"As diretrizes dos projetos indicam a quantidade [de expansão ou contração] que se deve esperar", diz Masoud Ghandehari, professor de engenharia civil e urbana da Universidade de Nova York. "Essas diretrizes vão precisar ser alteradas por causa do calor extremo que estamos enfrentando."
CALOR EXTREMO E INFRAESTRUTURA
O problema não para nas pontes: o calor também afeta os trilhos, que têm linhas de aço que podem, em situações extremas, ficar 10 graus mais quentes do que a temperatura do ar ambiente. O calor extremo pode fazer com que os trilhos se dobrem – as chamadas "torções" do sol – e se separem, aumentando a probabilidade de descarrilamentos.
Os sistemas de alternância e controle também enfrentam problemas de desempenho e, quando as temperaturas estão altas, os trens são forçados a viajar em velocidades mais lentas.
Nem as estradas são poupadas. Quando exposto à luz do sol em um dia quente, o asfalto pode atingir temperaturas de até 82ºC. Quando o asfalto fica quente assim, amolece e pode se deformar. "Quando se passa por cima dele, o resultado é um dano extremo – grandes depressões, valas – porque o asfalto é macio, se deforma e não volta à forma anterior", explica Ghandehari.
Além disso, há a questão dos fios, seja para ferrovias eletrificadas ou linhas de transmissão de energia. Os fios são projetados para o calor, porque a eletricidade que passa por eles é quente. Quando ficam quentes, eles expandem.
as mudanças climáticas estão tornando o calor extremo e as ondas de calor mais frequentes e intensas.
Mas, se acrescentarmos uma onda de calor com temperaturas extremas vindas do ar ambiente, eles ficam ainda mais deformados e frouxos. Esse é outro motivo pelo qual os trens geralmente precisam viajar mais devagar – porque os fios aéreos ficam caídos.
O calor afeta ainda a forma como os helicópteros de resgate e até os aviões comuns conseguem decolar. E, é claro, há toda uma série de efeitos do calor sobre a saúde humana sobre as quais os cientistas ainda estão aprendendo.
Conforme as ondas de calor forem se tornando mais frequentes e mais extremas, provavelmente veremos ainda mais impactos que afetarão de tudo, de carros a computadores.
Embora a ponte da cidade de Nova York que ficou emperrada por causa do calor tenha voltado a funcionar em poucas horas, interrupções causadas pela mudança climática podem ter impactos importantes no tráfego – que já custa à economia dos EUA mais de US$ 120 bilhões por ano – ou nos atrasos dos trens, que também custam milhões aos passageiros.
"O dano colateral é alto", avalia Ghandehari. Sem contar o preço dos reparos. A mudança climática já está custando aos Estados Unidos US$150 bilhões por ano em impactos diretos, como danos à infraestrutura, além de ferimentos em trabalhadores e perdas agrícolas.