Casos de sarampo crescem nos EUA em meio a ceticismo em relação à vacina

Nova pesquisa da Gallup aponta que o apoio à vacinação infantil caiu consideravelmente no país nos últimos cinco anos

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Shalene Gupta 4 minutos de leitura

A confiança da população dos EUA nas vacinas está diminuindo, tendência que vem acompanhada de um rápido aumento em algumas doenças. Recentemente, o Oregon experimentou o maior surto de sarampo no estado em cinco anos: 30 casos, todos entre pessoas que não foram vacinadas.

Até meados de agosto, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) confirmaram 219 casos de sarampo nos Estados Unidos, em comparação com 59 no ano passado – um aumento de 271%.

De acordo com uma nova pesquisa da Gallup, o percentual de norte-americanos que dizem que vacinar seus filhos é essencial caiu de 58% em 2019 para 40% em 2024. Apenas 51% acreditam que o governo deve exigir que as crianças sejam vacinadas, em comparação com 62% em 2019.

Um relatório do CDC aponta que as taxas de vacinação entre as crianças do jardim de infância durante o ano letivo de 2019-2020 caíram de 95% para 93% dois anos depois. Dois por cento pode não parecer muito, mas, para doenças como o sarampo, a imunidade de rebanho fica ameaçada quando a taxa de vacinação cai abaixo de 95%.

Corriveau, professora de medicina de família e saúde comunitária no Sistema de Saúde da Universidade do Kansas acredita que a pandemia de Covid-19 pode ter feito algumas pessoas questionarem as vacinas. “Houve muita desinformação e informações erradas de fontes da internet como TikTok, Reddit etc.,” diz ela.

As vacinas têm feito um excelente trabalho no controle de surtos de várias doenças, de modo que as gerações mais jovens esqueceram o que está em jogo. Steven Furr, médico de família no Alabama e presidente da Academia Americana de Médicos de Família, observa que hoje, muitas pessoas não viram as doenças que as vacinas previnem.

“Eu costumava ter que entubar crianças por epiglotite”, disse Furr. “Graças às vacinas, não vejo um caso há 25 anos.”

Ele viu o mesmo padrão durante a pandemia no Alabama: “as pessoas estavam relutantes em se vacinar até que as taxas de Covid aumentaram. Quando começaram as mortes, elas se vacinaram. As taxas caíram, e então as pessoas pararam [de se vacinar].”

Nos Estados Unidos, a maioria das vacinas recomendadas, especialmente para crianças, são gratuitas ou de baixo custo para os pacientes. Isso é possível graças a programas como o Vaccines for Children (VFC), que fornece vacinas gratuitas para crianças sem seguro de saúde ou cujo seguro não oferece esse tipo de cobertura.

Para adultos, muitas vacinas também são cobertas pelo seguro de saúde, incluindo o Medicare e o Medicaid. Para quem não tem seguro, algumas podem ter um custo, mas existem programas e clínicas que oferecem vacinas gratuitas ou a preços reduzidos, especialmente durante campanhas de vacinação pública.

MÉDICO DA FAMÍLIA

Além de reduzir a crença da população nas vacinas, a Covid-19 também enfraqueceu as redes de distribuição no país, tornando mais difícil para as pessoas conseguirem vacinas ou obterem informações de seus médicos.

“As famílias se acostumaram a ir ao pronto-socorro em vez de fazerem acompanhamento com o médico da família ou de tomar vacina na escola”, disse Furr. Isso significa menos oportunidades para os médicos acompanharem os pacientes e informá-los sobre a importância da vacinação.

hoje, muitas pessoas não viram as doenças que as vacinas previnem.

O problema vai além das consultas médicas ou da vacinação nas escolas. Furr observa que, à medida que a tecnologia das vacinas melhorou para que possam combater várias doenças, elas também se tornaram mais caras.

Agora, os médicos que oferecem vacinas no próprio consultório têm que desembolsar uma quantia significativa para estocá-las, pois precisam pagar por elas antes de serem reembolsados pelo seguro.

Ainda assim, Corriveau e Furr veem o relacionamento médico de família-paciente como a chave para aumentar as taxas de vacinação no país. Furr observa que essas taxas aumentaram quando os médicos de sua clínica aproveitaram as visitas aos pacientes para perguntar se estavam com as vacinas em dia.

    Corriveau vê o clima atual como uma oportunidade para os médicos ouvirem as preocupações das pessoas, educá-las e mostrar onde obter informações baseadas em evidências sobre vacinas. Ela enfatiza a importância de ouvir.

    “Os médicos são, na maioria, muito pró-vacina”, diz ela. “As pessoas precisam se vacinar... mas precisamos dar a elas tempo e oportunidade para discutir as decisões em torno das vacinas, para que se sintam confiantes em tomá-las.”


    SOBRE A AUTORA

    Shalene Gupta é jornalista e escritora, co-autora do livro "The Power of Trust: How Companies Build It, Lose It, Regain It". saiba mais