Com ecossistema de startups em crescimento, Estônia busca talentos no Brasil
A expectativa do governo estoniano é ter mais de 50 mil profissionais trabalhando para atender um mercado aquecido e o Brasil é um país estratégico
A Estônia, pequeno país no norte da Europa, com apenas 1,3 milhão de habitantes, tem se tornado referência em inovação, construindo um ecossistema rápido e bem estruturado para criação e lançamento de startups.
O país é berço de algumas das marcas mais inovadoras do mundo, como Skype, Wise e Pipedrive. "Se você está procurando o banco de testes perfeito para sua próxima ideia de mudança mundial, não procure mais: é a Estônia", diz o Global Startup Ecosystem Report 2023, da Startup Genome.
a falta de trabalhadores altamente qualificados é o maior desafio para o ecossistema de startups da Estônia.
Segundo o levantamento, "uma palavra que capta a essência do ecossistema de startups da Estônia, seria 'velocidade'. Com uma cultura impregnada de curiosidade e eficiência, o país oferece um caminho sem atritos para o lançamento de uma startup preparada para enfrentar os maiores e mais complexos problemas do mundo".
Já o ranking do Startup Ecosystem Report 2023, elaborado pela StartupBlink, identifica o país como o 14º ecossistema de startups mais importante do mundo – o Brasil é o 27º – e com o maior número de unicórnios per capita do mundo – 10.
"Eu descreveria o ecossistema de startups da Estônia como vibrante, colaborativo e ativo. Há sempre muitos eventos e oportunidades, e quem você precisa contatar está provavelmente a um telefonema de distância", afirma Annika Järs, gerente do programa Startup Visa da Startup Estonia.
"As pessoas falam abertamente sobre seus erros; em vez de terem medo de falhar. Os fundadores preferem falhar rapidamente, aprender com isso e seguir em frente."
Startup Estonia é uma iniciativa governamental que visa criar mais histórias de sucesso no país com base em três pilares: disponibilidade de recursos humanos e capital; comunidade e serviços abertos e conectados; e infraestrutura regulatória transparente e simples.
A expectativa do governo estoniano é ter mais de 50 mil profissionais trabalhando no país nos próximos 10 anos, para atender um mercado aquecido. O Brasil é um país estratégico, estando em primeiro lugar no quesito realocações pelo Startup Visa em 2022.
"O Brasil é cada vez mais importante para o setor. Um número crescente de talentos brasileiros tem se mudado para a Estônia para trabalhar nas startups locais", explica Annika. "Sem o conjunto internacional de talentos, o ecossistema de startups do país não seria capaz de crescer. Nosso objetivo é manter o ecossistema tão diversificado quanto possível", acrescenta.
EXPANSÃO E FALTA DE PROFISSIONAIS
Segundo a gerente do Startup Visa, a falta de trabalhadores altamente qualificados é o maior desafio para o ecossistema de startups da Estônia. "Ele tem crescido tão rapidamente que tememos que a falta de especialistas em tecnologia da informação altamente qualificados impeça o crescimento nos próximos 10 anos. Por isso, tentamos ativamente melhorar o Startup Visa, de modo a tornar o processo para os talentos internacionais o mais simples possível."
A brasileira Nemailla Bonturi se mudou para a Estônia em 2016 para trabalhar como pesquisadora na universidade na qual desenvolveu parte da tecnologia utilizada em sua startup, a ÄIO, uma biotech focada na produção de gorduras e óleos saudáveis e sustentáveis.
"Como cientista, não tive nenhuma educação ou histórico em administração. Em 2021, dois estonianos bem conhecidos da área de startups quiseram entender melhor o campo da biotecnologia para encontrar novas oportunidades de negócios. Por meio deles conhecemos mais sobre suas aventuras, desafios e contextos", conta Nemailla. "Fomos 'mordidos pelo mosquito das startups' e decidimos expandir em janeiro de 2022."
De acordo com a empreendedora, a Estônia tem uma forte infraestrutura digital e sistema governamental eletrônico avançado, o que facilita que startups operem e conduzam seus negócios online.
"Além disso, é um país com pouca burocracia, conta com um sistema jurídico transparente e ainda oferece vários incentivos e programas para fomentar o empreendedorismo", afirma Nemailla. Um exemplo é o novo sistema de vistos para scale-ups, criado pela Startup Estonia, o Scale-up Visa.
O país tem o 14º mais importante ecossistema de startups do mundo, além do maior número de unicórnios per capita.
"Chegamos ao ponto em que as startups estonianas se tornaram tão bem-sucedidas que entraram na fase de expansão. Aquelas que continuarem a crescer rapidamente podem utilizar o Scale-up Visa para acessar talentos globais", explica Annika.
Para ela, o ecossistema brasileiro pode aprender muito com o do seu país. "Acredito que, na Estônia, a atitude positiva é algo que nos ajudou a ser tão bem-sucedidos. Construir uma sociedade digital é difícil, assim como fundar uma startup, pois há uma infinidade de coisas que podem dar errado. Nessas situações, a mentalidade é crucial", conta.
Segundo Annika, se o fundador de uma startup precisar de conselhos específicos, a pessoa certa, com a experiência certa, estará a um telefonema de distância. "Em vez de competir entre si, os jogadores do ecossistema tentam ajudar uns aos outros."
LIÇÕES DE LADO A LADO
Para a empreendedora Nemailla, o Brasil poderia trabalhar para agilizar seus processos de negócios e reduzir a burocracia para criar um ambiente mais favorável para startups.
"Simplificar as regulamentações, melhorar o acesso ao financiamento e fornecer estruturas legais transparentes pode atrair empreendedores locais e internacionais para investir no cenário de startups do Brasil", acredita.
A Estônia, além de oferecer oportunidades para talentos e startups brasileiras, também pode aprender com o país. Annika acredita que o Brasil tem um grande potencial e, por ser um país tão grande, os ecossistemas espalhados por seu território variam muito.
"Vi mais de perto os ecossistemas de Florianópolis e de São Paulo e eles são bem diferentes entre si. Florianópolis é mais parecida com o que vemos na Estônia – é amigável, todo mundo se conhece
o Brasil poderia trabalhar para agilizar os processos de negócios e reduzir a burocracia para criar um ambiente mais favorável para startups.
e muita coisa está acontecendo. São Paulo, por outro lado, me surpreendeu com a quantidade de colaboração que corporações e bancos fazem com startups. Não temos tantas corporações presentes na Estônia e, portanto, isso não é algo tão frequente por lá", afirma.
Já Nemailla acredita que a Estônia pode aprender a abraçar a diversidade e promover a inclusão, aproveitando um conjunto mais amplo de talentos e se beneficiando de diversas perspectivas e ideias.
"O Brasil conta com um grande mercado interno, mas também busca ativamente conexões com mercados internacionais. Diplomacia, comunicação e simpatia são habilidades muito importantes pelas quais somos conhecidos e que ajudam a abrir diversas portas."