Combinações de peptídeos, a mais nova onda viral no ramo do bem-estar

Fisiculturistas e adeptos do biohacking usam peptídeos há décadas. Mas agora o interesse explodiu nas redes sociais.

Créditos: Munro/ Getty Images Freepik

Eve Upton-Clark 2 minutos de leitura

O que pode ser melhor do que usar um peptídeo? Usar vários peptídeos ao mesmo tempo – ou pelo menos é isso que a internet quer fazer você acreditar.

A prática chamada “peptide stacking” (combinação de peptídeos) é a nova tendência viral das redes sociais, prometendo turbinar os treinos e melhorar a saúde de forma geral.

Peptídeos são pequenas cadeias de aminoácidos que ajudam na formação de proteínas.  Como o nome sugere, a ideia é combinar diferentes tipos desses suplementos – em comprimido, pó ou injeção – para potencializar os efeitos e atingir metas específicas, como aumentar a massa muscular, reduzir gordura, elevar os níveis de testosterona ou acelerar a recuperação física.

Fisiculturistas e adeptos do biohacking usam peptídeos há décadas. Mas agora o interesse explodiu nas redes: fóruns e plataformas estão cheios de usuários compartilhando – e vendendo – seus “combos” preferidos.

“POV: minha geladeira me vendo aplicar o 20º peptídeo do dia”, escreveu um usuário no TikTok (com direito a cupom de desconto na bio).

“Testei Semax + Dihexa e me senti no modo invencível por algumas horas”, postou um perfil no Reddit. “Depois percebi que não comi nada o dia inteiro e quase desmaiei. Foco: 10/ 10. Organização: 0/ 10.”

O fato de que muitos desses relatos vêm de pessoas que lucram com links e cupons promocionais já acende um sinal de alerta.

“O que mais preocupa, quando olhamos essas tendências nas redes, são as fontes que as pessoas usam para comprar os produtos – muitas vezes, farmácias de manipulação nada confiáveis”, alerta Brandon Dawson, cofundador da 10X Health System. “Além disso, a maioria dessas práticas não tem acompanhamento de profissionais de saúde ou equipes especializadas.”

Mais de 80 terapias com peptídeos já foram aprovadas no mundo. Medicamentos como Ozempic e Mounjaro são peptídeos, assim como a creatina, um suplemento bastante usado por quem treina.

Peptídeos são pequenas cadeias de aminoácidos que ajudam na formação de proteínas.

“A combinação de peptídeos pode ser uma estratégia poderosa em um plano de medicina funcional, mas não é uma fórmula mágica”, diz Dawson. “Sem cuidar do básico – sono, alimentação, saúde intestinal, exposição a toxinas –, os peptídeos não vão funcionar como deveriam. E, se mal utilizados, podem até fazer mal.”

Outro motivo de preocupação é a forma como esses produtos estão sendo promovidos a adolescentes nas redes sociais. Um relatório de 2023 da organização sem fins lucrativos Centro para o Combate ao Ódio Digital apontou a ligação entre os peptídeos e o universo do “looksmaxxing” – uma subcultura de suplementos e substâncias semelhantes a esteroides que se aproveita das inseguranças de jovens do sexo masculino.

“Você tá ficando pra trás, irmão”, dizia a legenda de um vídeo no TikTok postado recentemente. “Seja bem-vindo ao mundo dos peptídeos.”


SOBRE A AUTORA

Eve Upton-Clark é jornalista especializada em cultura digital e sociedade. saiba mais