Como o abacaxi (isso mesmo) virou um código para encontros sexuais

De sinônimo de riqueza a substituto dos aplicativos: o passado e o presente das conotações de uma fruta icônica

Crédito: Freepik

Grace Snelling 4 minutos de leitura

Um novo tipo de pegação está surgindo na Espanha – e envolve uma ida ao supermercado.

No TikTok, uma rápida busca por “Mercadona” (uma rede de supermercados espanhola) resulta em centenas de vídeos de jovens consumidores passeando pelo corredor de frutas – sempre entre as 19h e 20h – com um abacaxi de cabeça para baixo no carrinho. 

Para quem está vendo de fora, essa tendência com códigos super específicos parece um grande surto coletivo. Mas para os participantes, o gesto simboliza um objetivo muito específico: eles estão querendo ficar com alguém. 

A febre dos encontros amorosos à base de abacaxis parece ter sido desencadeada pela tiktoker Vivy Lin,  que no dia 20 de agosto postou um vídeo que viralizou, no qual ela brincava dizendo que “o horário para ficar com alguém na Mercadona é das 19h às 20h”. 

Desde que a tendência estourou, o movimento nas lojas cresceu muito nesse horário e um verdadeiro caos se instalou, o que levou pelo menos uma loja da rede a esconder os abacaxis antes que os clientes em busca de amor pudessem encontrá-los.

Em uma época na qual a geração Z e os millennials se esforçam ao máximo para evitar encontros online, a moda do abacaxi é mais uma maneira de os jovens evitarem passar o dia rolando a tela de seus celulares.

No entanto, muitas pessoas talvez vejam o abacaxi de cabeça para baixo como um símbolo sexual – mais onipresente em cruzeiros e em resorts de férias – usado para indicar interesse na prática do swing.

DIAMANTES, BAILES DE GALA E… ABACAXI?

Antes de o abacaxi se tornar um símbolo sexual, ele representava um tipo diferente de luxúria: a riqueza excessiva. O abacaxi foi originalmente importado para a Europa da ilha de Guadalupe, no Caribe, no século 15.

Daquele momento até o final do século 19, como a fruta só podia ser importado das colônias espanholas, sua raridade a tornou um símbolo de status altamente valorizado entre a elite europeia.

Alguns argumentam que o duplo significado vem do fato de a fruta servir como símbolo de hospitalidade no Havaí.

Registros da época mostram que os aristocratas costumavam apresentar a fruta em festas quando estavam quase apodrecendo, e surgiu um mercado de aluguel de abacaxis para aparições sociais. A fruta recebeu até mesmo o apelido de “King Pine”. 

Quando o abacaxi passou a ser transportado com mais facilidade para a Europa por meio de navios a vapor, ficou muito mais barato e acessível tanto para a classe média quanto para a baixa, perdendo, assim, sua conotação de luxo.

O PASSADO SEXUAL DO ABACAXI

A transformação do abacaxi de um símbolo de riqueza em um símbolo de não monogamia é difícil de determinar. Já em 1629, o autor John Parkinson escreveu que o fruto proibido da tentação no Jardim do Éden era, na verdade, um abacaxi. 

Alguns argumentam que o duplo significado vem do fato de a fruta servir como símbolo de hospitalidade no Havaí. Mas, na prática, o abacaxi de cabeça para baixo parece ter ganhado força nos anos 90 e no início dos anos 2000. 

De acordo com  uma reportagem da Men’s Health, a primeira aparição de “abacaxi de cabeça para baixo” no Urban Dictionary pode ser rastreada até 2006, seguida por uma definição oficial em 2017. 

“O abacaxi representa hospitalidade e boas-vindas”, diz o verbete. “Um abacaxi é colocado na varanda ou na caixa de correio para indicar que uma festa de swinger está acontecendo. Um abacaxi é virado de cabeça para baixo quando uma pessoa está procurando uma festa de swing. Originalmente, ele ficava virado de cabeça para baixo no carrinho de compras da pessoa”.

Nesse mesmo artigo da "Men's Health", um entrevistado que se identificou como swinger relatou ter usado com sucesso a estratégia do abacaxi de cabeça para baixo no carrinho de compras para descobrir uma festa na cidade de Nova York.

A atual moda do TikTok na Espanha, ao que parece, é uma nova versão de uma tendência que já existia, só que agora mais voltada para a concepção de uma geração mais jovem sobre a cultura de encontros.

Com exceção da atual febre dos supermercados, atualmente o lugar mais comum para encontrar abacaxis de cabeça para baixo é em um cruzeiro marítimo. Várias publicações de cruzeiros editaram guias dedicados ao tema, orientando os passageiros sobre as conotações da fruta.

“Não, não é apenas uma decoração tropical bonita”, diz um desses guias da revista "Cruise" sobre o símbolo do abacaxi. “Se você vir um, é porque os passageiros da cabine estão tentando transmitir uma mensagem muito específica, que não tem nada a ver com sobremesa.”


SOBRE A AUTORA

Grace Snelling é colaboradora da Fast Company e escreve sobre design de produto, branding, publicidade e temas relacionados à geração Z. saiba mais