Cultura K-pop inspira manifestantes pelo impeachment do presidente da Coreia
Vídeos viralizam após mostrar manifestantes usando light sticks, bastões de luzes coloridas populares entre fãs de K-pop
Não é de hoje que manifestantes sul-coreanos fazem uso de músicas, danças e palavras de ordem em seus protestos. Mas os light sticks, populares entre fãs de K-pop, estão surgindo como uma nova e eficaz ferramenta em manifestações que pedem o impeachment do presidente Yoon Suk-yeol.
Milhares de manifestantes enfrentaram temperaturas próximas a zero para se reunir em frente à Assembleia Nacional, na capital Seul, desde a tentativa fracassada de Yoon de declarar lei marcial, na semana passada.
“Renuncie, renuncie, renuncie, Yoon Suk-yeol”, gritavam os manifestantes ao ritmo de “Whiplash”, música techno mais recente do grupo de K-pop aespa.
Vídeos que mostravam os manifestantes entoando palavras de ordem e fazendo movimentos coordenados com os light sticks viralizaram nas redes sociais. Eles também erguiam bandeiras com mensagens e memes, principalmente os manifestantes mais jovens.
Os sul-coreanos estão agindo pensando no futuro, diz Shin Jae-yun – que saiu às ruas para protestar contra Yoon carregando um light stick da boy band de K-pop TREASURE, porque o protesto de rua “causa muito sofrimento” e não há garantia alguma de que as coisas vão melhorar no curto prazo.
“Para suportar uma dor como essa, é preciso encontrar alguma coisa que dê prazer, para que as pessoas mantenham a esperança por um longo tempo, mesmo quando a situação se prolonga”, afirma Shin.
Diversas playlists de músicas de protesto de K-pop famosas também estão sendo compartilhadas no X/ Twitter. Kim Byung-joo, parlamentar do principal partido de oposição, o Partido Democrático, aderiu à tendência e postou uma playlist na plataforma: “Fora Yoon Suk Yeol, líder da traição!... de canções folclóricas ao K-pop.”
A Coreia do Sul tem um longo histórico de protestos desde que a democracia foi estabelecida, nos anos 1980, após uma série de intervenções militares. Manifestações relacionadas a direitos trabalhistas, a ameaças da vizinha Coreia do Norte e a insatisfações com o governo já acabaram em violência no passado.
Lee Seul-gi, mulher de 36 anos e fã do grupo de K-pop ATEEZ, diz que as manifestações são mais amistosas agora. “Os protestos, antigamente, às vezes eram um pouco violentos, davam medo. Mas os light sticks e o K-pop diminuíram essa barreira”, comenta Lee.
MODERNIZAÇÃO DAS VELAS
Até 2016, as velas eram presença obrigatória em muitos protestos e desempenharam importante papel nas manifestações que levaram ao impeachment da ex-presidente Park Geun-hye. Ela foi destituída do cargo devido a um escândalo de corrupção e, mais tarde, presa, em um caso que revelou redes de corrupção que envolviam líderes políticos e conglomerados do país.
Stephanie Choi, pesquisadora da Universidade Estadual de Nova York, afirma que os light sticks ainda refletem a “força da solidariedade, sem deixar de transmitir o significado original de não violência.”
Embora homens e mulheres de todas as faixas etárias tenham saído às ruas para exigir que o parlamento destitua Yoon, a quantidade de jovens mulheres supera a de homens nos protestos.
Antes de assumir o cargo, Yoon prometeu abolir o Ministério da Igualdade de Gênero, o que fez a popularidade do candidato despencar entre as eleitoras na faixa dos 20 anos nas eleições presidenciais de 2022.
Yoon assumiu o poder em 2022 com a menor margem de vitória da história da Coreia do Sul, mas seu partido sofreu uma derrota esmagadora nas eleições parlamentares realizadas no início deste ano.
AS MULHERES DÃO O TOM
A indústria do K-pop é claramente apolítica, assim como as letras de muitas das músicas de K-pop tocadas nas manifestações a favor do impeachment. Na Coreia do Sul, celebridades que expressam opiniões políticas geralmente tornam-se alvo de críticas.
No entanto, especialistas dizem que os fãs têm consciência do poder do K-pop e das mensagens de empoderamento feminino que as músicas carregam nas entrelinhas.
“O K-pop é um espaço predominantemente feminino... então as demandas feministas moldaram a estética e as performances do K-pop de hoje”, afirma Choi,
Kim Da-in, 19 anos, fã do grupo virtual Plave, diz que os protestos a favor do impeachment estão unindo todos os fandoms de K-pop. “Aqui, sinto que somos cidadãos da Coreia do Sul acima de tudo, antes de sermos fãs de ídolos pop.”