Debate nos EUA: Kamala Harris dá aula de branding em cima de Trump

Inventando novas expressões e dominado a arte de criar imagens que viram memes, ela mostrou como deixar sua marca em um debate acalorado

Crédito: Fast Company Brasil

Joe Berkowitz 3 minutos de leitura

Donald Trump tem seu nome em prédios por toda Nova York. Também cunhou a famosa frase "você está demitido" em seu antigo programa de TV, "O Aprendiz". Mas em seu primeiro – e talvez único – debate contra a oponente Kamala Harris, foi ela quem deu uma aula magistral em branding.

Com sua performance calma e controlada durante um debate em que predominou a alta tensão, a candidata do Partido Democrata mostrou-se tão hábil quanto qualquer executivo de marketing ao criar frases e imagens impactantes.

Harris fez um branding épico no palco, tirando uma lição do manual do próprio Trump e apropriando-se do nome dele para criar expressões. Logo no início, durante uma pergunta sobre a economia, ela comparou a postura de seu oponente em relação a tarifas a um "imposto sobre vendas".

É uma ideia que ela já mencionou em comícios recentes, mas, nesse caso, foi além. Quando mencionou as tarifas propostas um momento depois, ela as chamou de "imposto sobre vendas de Trump", uma frase que rapidamente viralizou nas redes sociais.

Harris lançou sua expressão "trumpiana" de maneira leve, e isso o incomodou. O candidato republicano usou as primeiras palavras de sua resposta para declarar abruptamente: "eu não tenho um imposto sobre vendas!".

Na vez seguinte em que Harris vinculou uma ideia ao nome do ex-presidente, o impacto pode ter sido ainda mais significativo. Ao responder a uma pergunta sobre a reversão da decisão sobre o direito ao aborto, em 2022, ela se referiu às proibições agora em vigor em muitos estados dos EUA como "proibições de aborto de Trump".

Como demonstrado pelas eleições de meio de mandato de 2022, amplamente vistas como um referendo sobre a decisão da Suprema Corte, o aborto é talvez o ponto mais fraco de Trump. Vinculá-lo a isso pelo nome é um ataque devastador, novamente feito de maneira pretensamente casual.

UM JOGO DE CONTRASTES

Mais tarde, Harris buscou estabelecer ainda mais contraste entre Trump e ela mesma com um floreio retórico evocativo. Ela descreveu seus objetivos de liderança com a ideia de "elevar as pessoas", enquanto seu oponente, alegou, é um defensor de "derrubar as pessoas". Foi uma frase baseada em valores que, provavelmente, continuará a ser citada após a campanha.

Harris não só usou o discurso para marcar suas diferenças em relação a Trump como também mostrou uma compreensão mais aguçada do contexto, aproveitando o formato de tela dividida como uma oportunidade para criar uma distinção visual entre ela e seu oponente.

À medida que Trump ficava cada vez mais agitado, sempre olhando fixamente para a câmera, Harris reagia às respostas virando-se na direção dele, com uma série de sorrisos, ares de de desdém, sobrancelhas arqueadas de descrença e muitas outras expressões faciais que se tornariam gifs.

Crédito: Reprodução/ YouTube

Essa coleção de gestos, cada um dos quais parecia muito natural naquele exato momento, revela uma compreensão de como funciona o mundo dos memes.

Harris pareceu no comando de sua imagem durante toda a noite, enquanto criava vários novos potenciais slogans. Mesmo uma das tentativas de Trump de provocá-la dependia de inverter uma expressão que ela recentemente tornou famosa: "estou falando agora", disse Trump "Soa familiar?".

Embora tenha sido pensado como uma provocação com a frase, "estou falando" – que Harris usou recentemente ao ser interrompida durante um discurso –, isso só destacou o quanto as falas dela têm atraído atenção ultimamente.

Mas Trump não deve se preocupar muito com sua capacidade de criar frases. Durante o debate, seu novo bordão, "operações de mudança de sexo em imigrantes ilegais na prisão", começou a virar tendência no X/ Twitter.


SOBRE O AUTOR

Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais