Duolingo deleta vídeos no TikTok após polêmica sobre IA e demissões

A revolta nas redes sociais começou a tomar corpo quando usuários passaram a criticar o uso crescente de IA pela plataforma e as demissões

Crédito: pixelrobot/ Adobe Stock

Joe Berkowitz 3 minutos de leitura

Por dias, o silêncio foi ensurdecedor. E vindo do Duolingo – o aplicativo de ensino de idiomas mais popular do mundo e uma das presenças mais irreverentes nas redes sociais – esse silêncio dizia muito.

Após anunciar a nova política de “IA em primeiro lugar”, a empresa enfrentou uma enxurrada de críticas e decidiu apagar sua presença nas redes.

Neste fim de semana, o Duolingo deletou todos os conteúdos de suas contas no TikTok (com 6,7 milhões de seguidores) e no Instagram (4,1 milhões), além de interromper postagens em outros canais. O apagão veio após as redes serem inundadas por comentários negativos.

Na terça-feira (dia 20), após dias de completo silêncio, a empresa voltou a se manifestar com um vídeo enigmático – um conteúdo tão esquisito quanto difícil de interpretar.

No clipe, uma pessoa mascarada (usando uma fantasia da mascote Duo com três olhos) aparece em tom dramático, criticando “os chefes corporativos” que teriam arruinado o império construído pela equipe de redes sociais da Duolingo.

“Tudo desmoronou por causa de um único post sobre IA”, diz o personagem, em uma clara referência ao estopim da crise. Mas o problema não foi um post isolado, e sim uma série de decisões corporativas que geraram indignação pública.

A turbulência começou quando o CEO, Luis von Ahn, anunciou no LinkedIn que a empresa está encerrando contratos com colaboradores humanos e adotando a IA em áreas como contratação, avaliação de desempenho e produção de conteúdo.

“Novas vagas só serão abertas se a equipe não conseguir automatizar mais parte do seu trabalho”, afirmou.

O Duolingo vinha de um ano brilhante: em 2024, faturou US$ 748 milhões (crescimento de 41%), somava mais de 116 milhões de usuários ativos por mês e contava com 9,5 milhões de assinantes pagos.

A marca ainda emplacou sua campanha mais bem-sucedida até então, matando simbolicamente sua mascote em um acidente com um Cybertruck e “ressuscitando-a” duas semanas depois. Mas o bom humor da internet se virou contra a empresa.

A revolta começou a tomar corpo quando usuários passaram a criticar o uso crescente de IA e as demissões. Comentários nos vídeos seguiam um tom ácido: “mamãe, posso ter pessoas reais dirigindo a empresa?” e “que tal: sem IA, mantenham seus funcionários”.

Crédito: Duolingo

Diante da crise, a empresa optou pelo silêncio. “Digamos que estamos experimentando o silêncio”, disse um porta-voz à Fast Company. “Às vezes, a melhor forma de fazer barulho é desaparecer primeiro.”

A tática remete a um clássico conselho da série “Mad Men”: se não gosta do que estão dizendo, mude a conversa. E muitos especularam que o sumiço fazia parte de uma jogada viral. O novo vídeo parece confirmar essa tese, mas falha ao tentar equilibrar ironia e seriedade.

O Duolingo agora enfrenta o dilema clássico de marcas que se tornaram queridas nas redes por seu tom bem-humorado: quando a crise chega, qualquer resposta pode parecer cínica demais ou séria demais. Ignorar parece insensível. Encarar de frente, desajeitado.

corujinha verde mascote do Duolingo com olhos em  formato de X

A empresa ainda não abordou de forma clara as políticas que geraram o repúdio dos seguidores. A tentativa de suavizar tudo com uma narrativa “metalinguística”, na qual a própria equipe de redes sociais aparece como vítima, não convenceu.

No vídeo, o personagem de capuz preto até diz: “não podemos simplesmente seguir em frente como se estivesse tudo bem.” Mas o tom geral da peça parece dizer exatamente o contrário.

A julgar pelos comentários, o público não está comprando essa versão dos fatos. Afinal, não é preciso um app de idiomas para entender o que está sendo dito realmente nas entrelinhas.


SOBRE O AUTOR

Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais