Eleições nos EUA: país espera uma onda ainda mais forte de desinformação

Aprender a identificar a interferência russa, chinesa e iraniana em outros países pode ajudar os EUA a se prepararem para as eleições de 2024

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Bruce Schneier 4 minutos de leitura

Eleições em todo o mundo estão enfrentando uma ameaça cada vez maior: a interferência de atores estrangeiros. E agora eles têm uma nova arma: a inteligência artificial.

Os países que tentam influenciar as eleições entraram em uma nova era em 2016, quando a Rússia iniciou uma série de campanhas de desinformação nas redes sociais, visando às eleições presidenciais dos EUA.

Nos sete anos seguintes, diversos países – em especial China e Irã – passaram a usar essas plataformas para interferir em eleições estrangeiras, tanto nos EUA quanto em outros lugares. E não há motivo para acreditar que em 2023 e 2024 será diferente.

71% dos cidadãos que vivem em democracias terão a oportunidade de votar em uma eleição nacional até o final do ano que vem.

O problema é que, agora, existe um elemento novo: a IA generativa e os grandes modelos de linguagem. Essas tecnologias são capazes de produzir rapidamente grandes volumes de texto sobre qualquer tópico, em qualquer tom e de qualquer perspectiva. São ferramentas particularmente eficazes para a propaganda da era da internet.

E tudo isso é muito recente. O ChatGPT surgiu em novembro de 2022 e sua versão mais avançada, o GPT-4, foi lançada em março de 2023. Outras IAs de produção de texto e imagem têm aproximadamente a mesma idade.

Ainda não está claro como essas tecnologias vão mudar a disseminação da desinformação, quão eficazes serão ou quais serão seus efeitos. Mas estamos prestes a descobrir.

O CALENDÁRIO ELEITORAL

O período eleitoral está prestes a começar em grande parte do mundo democrático: 71% dos cidadãos que vivem em democracias terão a oportunidade de votar em uma eleição nacional entre agora e o final do ano que vem.

Muitas delas são de grande importância para os países que já tentaram influenciar os resultados através das redes sociais no passado. A China, por exemplo, está muito interessada em Taiwan, Indonésia e Índia, enquanto a Rússia tem interesse no Reino Unido, Polônia, Alemanha e na União Europeia como um todo. E todos estão de olho nos Estados Unidos.

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Isso considerando apenas os maiores players. Desde 2016, a cada eleição nos EUA, um novo país tenta influenciar o resultado. Primeiro, foi apenas a Rússia, depois veio a China, e, mais recentemente, o Irã.

À medida que o custo financeiro da influência estrangeira diminui, mais países podem entrar nesse jogo. Ferramentas como o ChatGPT reduziram consideravelmente os custos de produção e distribuição de propaganda, tornando a interferência eleitoral acessível a mais países.

INTERFERÊNCIA ELEITORAL

Há alguns meses, participei de uma conferência com representantes de todas as agências de cibersegurança dos EUA. Eles falaram sobre suas expectativas em relação à interferência na eleição de 2024. Esperavam os países de sempre – Rússia, China e Irã –, mas também uma nova e importante ameaça: “atores domésticos”. Isso é resultado direto da redução de custos.

Claro, realizar uma campanha de desinformação envolve muito mais do que apenas criar conteúdo. A parte difícil é a distribuição. É preciso ter uma série de contas falsas para fazer publicações, além de outras para impulsionar a mensagem, torná-la mainstream e, possivelmente, fazer com que se torne viral.

Essas tecnologias permitem novas técnicas de produção e distribuição, como a propaganda de baixo nível em grande escala.

A desinformação é uma espécie de corrida armamentista. Ambos os lados melhoraram suas estratégias, mas o cenário das redes sociais também mudou.

Quatro anos atrás, o Twitter era uma forma direta de alcançar a mídia, e a propaganda nessa plataforma era uma maneira de influenciar a narrativa política. No entanto, esse Twitter, que era acompanhado atentamente por jornalistas e que contava com postagens de pessoas influentes, não existe mais.

Muitos veículos de propaganda migraram para plataformas de mensagens como Telegram e WhatsApp, o que torna mais difícil identificá-los e removê-los. O TikTok é uma rede mais recente, controlada pela China e mais adequada para vídeos curtos e provocativos – algo que a inteligência artificial tornou muito mais fácil de produzir. Além disso, a geração atual de IAs generativas está sendo integrada a ferramentas que vão facilitar a distribuição de conteúdo.

Essas tecnologias também permitem novas técnicas de produção e distribuição, como a propaganda de baixo nível em grande escala. Imagine uma nova conta pessoal nas redes sociais alimentada por IA. Na maior parte do tempo, ela se comporta como uma conta normal. Posta sobre sua falsa vida cotidiana, participa de grupos de interesse, comenta em postagens de outras pessoas e age como um usuário comum.

De vez em quando, porém, ela divulga – ou amplifica – algo de natureza política. Esses “bots de persona”, como a cientista da computação Latanya Sweeney os chama, têm influência insignificante por si mesmos. No entanto, se forem replicados milhões de vezes, terão muito mais impacto.

É possível que tudo acabe bem. Já ocorreram eleições democráticas importantes na era da IA generativa sem grandes problemas de desinformação, como as primárias na Argentina, as eleições de primeiro turno no Equador e as eleições nacionais na Tailândia, Turquia, Espanha e Grécia. Mas quanto mais cedo soubermos o que esperar, mais preparados estaremos para enfrentar o que está por vir.

Este artigo foi originalmente publicado no The Conversation e reproduzido sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Bruce Schneier é professor adjunto de políticas públicas na Harvard Kennedy School. saiba mais