Elon Musk barra o Substack: é o fim do Twitter como praça pública digital?

A rivalidade do Twitter com a Substack significa que todos nós perdemos chances de diálogo

Crédito: Brett Jordan/ Pexels

Chris Stokel-Walker 3 minutos de leitura

A bagunça e os contínuos sinais de declínio do Twitter seguem virando notícia. Agora, a rede social introduziu em seu algoritmo recursos que bloqueiam ou minimizam qualquer postagem que contenha links para a plataforma de newsletter Substack.

A mudança veio logo após a Substack lançar o Notes, um recurso que permite aos autores e leitores compartilhar postagens curtas, de tamanho parecido com o dos tuítes, e que permite interagir de maneira semelhante às postagens do Twitter.

Essa foi a mais recente jogada tacanha de Elon Musk, que em dezembro de 2022 baniu de sua plataforma quaisquer links para a FlightRadar.com, uma plataforma que rastreia aviões usando informações disponíveis gratuitamente.

“O desenvolvimento da web moderna depende de conteúdos vinculáveis e de seguirmos hiperlinks que levam para outros lugares.

Na época, o motivo que levou o proprietário do Twitter a banir temporariamente links para o FlightRadar foi não ter gostado de divulgarem com que frequência ele andava de avião. Ele chegou a declarar, então, que reunir e compartilhar dados de rastreamento dos seus voos era o mesmo que dar “coordenadas para o seu assassinato”. 

Musk assumiu o controle do Twitter em outubro de 2022 prometendo reintroduzir a liberdade de expressão na plataforma – algo que ele não tem cumprido até agora. 

“A decisão de Elon de bloquear o conteúdo do Substack no Twitter demonstra um mal-entendido fundamental do que é a internet”, analisa Jess Maddox, professora associada da Universidade do Alabama, que analisa plataformas de tecnologia e é usuária do Substack. “O desenvolvimento da web moderna depende de conteúdos vinculáveis e de seguirmos hiperlinks que levam para outros lugares.”

Esses links são elementos vitais de como a internet funciona, explica Maddox – e provavelmente irão se voltar contra o Twitter e seu dono. “Essa é uma das maiores conquistas da cultura da internet: permitir que as pessoas acessem facilmente informações relevantes”, diz ela. “Em vez de manter as pessoas limitadas ao Twitter, esse bloqueio terá o efeito oposto.”

LIBERDADE DE EXPRESSÃO?

“Acho desnecessário limitar os engajamentos em tuítes vinculados ao Substack”, diz a pesquisadora e engenheira de aplicativos Jane Manchun Wong. Ela avalia que a proibição de links para o Substack – que pode ser facilmente contornada com o uso de uma ferramenta de encurtamento de URL para os links que levam à plataforma de newsletter – terá o efeito oposto ao que Musk pretende. “Ironicamente, limitar engajamentos como esses levaria a uma exposição ainda maior das postagens do Substack”, diz ela.

Ironicamente, limitar engajamentos como esses levaria a uma exposição ainda maior das postagens do Substack.

O Twitter não respondeu ao nosso pedido de comentário sobre a questão e nos mandou apenas a sua nova resposta padrão para a imprensa: um emoji de cocô enviado automaticamente.

“Estamos desapontados com a escolha do Twitter de restringir a capacidade dos escritores de compartilhar seu trabalho”, diz um comunicado divulgado pela Substack. A empresa aproveitou para destacar como sua operação é o opostos das plataformas com controle centralizado.

“Os autores merecem ter a liberdade de compartilhar links para o Substack ou para qualquer outro lugar”, diz o comunicado. “Essa mudança abrupta é um lembrete de por que os autores merecem um modelo que os coloque no comando, que recompense o bom trabalho com dinheiro e que proteja a liberdade de imprensa e de expressão.”

O bloqueio também é problemático se considerarmos o papel autodeclarado do Twitter de funcionar como uma “praça pública” digital, diz Maddox, da Universidade do Alabama.

“Proibir links de qualquer tipo limita o alcance e alcance de informações e ideias em nossas praças públicas digitais. Neste momento em que o acesso à informação já parece precário, isso só piora a situação.”


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais