Está na hora de atualizar e expandir o conceito de “cuidados pessoais”

O conceito deveria ter menos a ver com banhos de espuma e meditação e mais com cuidados com a saúde

Crédito: nopparit/ iStock

Daniella Foster 4 minutos de leitura

Dia desses, pesquisei por "autocuidado" no ChatGPT e ele me deu uma lista com nove maneiras de cuidar de mim, incluindo desde espiritualidade e relaxamento até lazer e autorreflexão.

Não me leve a mal, sei que todas essas coisas podem fazer bem, mas acho que o ChatGPT não está acertando nesses conselhos. Na verdade, o autocuidado deveria ser encarado como uma parte essencial da saúde funcional – é como alguém cuida da própria saúde todos os dias.

Quando a maioria das pessoas pensa em assistência médica, a primeira coisa que vem à cabeça é a "assistência aos doentes": tratar uma doença, aliviar os sintomas de uma enfermidade ou ir ao médico. Os sistemas de saúde priorizam o atendimento médico quando algo está errado. Só que a assistência médica precisa acontecer todos os dias. E é aí que entra o autocuidado.

Melhorar o acesso à internet confiável e de alta velocidade poderia tornar os serviços de telemedicina e outros aplicativos baseados na web mais prontamente disponíveis.

Não há nada de errado em tomar um banho de espuma relaxante, mas o autocuidado de verdade consiste em dar às pessoas a capacidade de assumir um papel ativo no gerenciamento de sua saúde pessoal, incluindo a prevenção de doenças, a manutenção do bem-estar e o autotratamento de doenças menos graves.

Estamos testemunhando um movimento crescente para definir melhor a importância do autocuidado, dando às pessoas comuns mais oportunidades de serem os CEOs da sua própria saúde. As pesquisas mostram que as práticas de autocuidado têm impactos substanciais na capacidade dos indivíduos de trabalhar e que, em geral, melhoram sua qualidade de vida. 

Há um trabalho contínuo para defender que a Organização Mundial da Saúde elabore uma resolução sobre autocuidado. Essa medida é considerada uma etapa fundamental na evolução das políticas, pois forneceria um modelo prático para cada país incorporar em seu programa de saúde.

A promoção do autocuidado traz a oportunidade de pensar de forma diferente sobre atendimento médico. Já se foi o tempo em que era baseado em uma consulta anual. Precisamos de um pensamento inovador em todos os setores, para ajudar as pessoas a gerenciar melhor sua saúde diariamente, em seu próprio tempo e do seu próprio jeito.

Isso implica a mudança do foco do atendimento para fora do consultório, a adoção de recursos tecnológicos e a expansão do círculo de atendimento.

CENTROS DE ATENDIMENTO

A assistência médica não pode ser realizada apenas nos consultórios médicos. Para que seja algo cotidiano, ela precisa ser prática e estar integrada à vida diária. Por exemplo, nos EUA, as pessoas podem visitar as Clínicas de Saúde do Walmart e receber serviços de saúde de baixo custo no mesmo local em que estão fazendo compras.

Precisamos de um pensamento inovador em todos os setores, para ajudar as pessoas a gerenciar melhor sua saúde.

Há também um argumento a favor de que alguns medicamentos deixem, de forma segura, de depender de receita médica, e passem para a venda livre. Quando isso acontece, a necessidade de consultas é reduzida, assim como o custo. Esse dinheiro poderia ser reinvestido em programas de educação em saúde ou em outros serviços.

TECNOLOGIA COMO PARCEIRA DA SAÚDE

Um novo estudo da Mass General Brigham mostrou que o ChatGPT conseguiu atingir 72% de precisão em diagnósticos médicos gerais. Embora esse resultado ainda não seja perfeito, é um avanço em relação ao famoso "Dr. Google".

Em geral, a IA tem se mostrado promissora para ajudar as pessoas a cuidarem de si mesmas. O campus Cure, de inovação em saúde, acaba de lançar um desafio aberto chamado "Health AI for Good", voltado para a promoção da inovação em IA e em apoio aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Os agentes comunitários são treinados em tópicos de saúde importantes e relevantes para a comunidade e trabalham diretamente com os moradores.

Os resultados podem ter um impacto significativo para ajudar a reformular o atendimento preventivo, aprimorar os diagnósticos e apoiar o atendimento do profissional.

As ferramentas também não precisam ser de alta tecnologia. Melhorar o acesso à internet confiável e de alta velocidade poderia tornar os serviços de telemedicina e outros aplicativos baseados na web mais prontamente disponíveis, permitindo que as pessoas recebessem atendimento em casa no seu próprio horário.

As mensagens de texto também podem servir como uma ferramenta de saúde. Os chatbots, por exemplo, podem ajudar no envio de lembretes para pessoas com doenças crônicas, no envio de mensagens educativas ou permitindo conversas com um profissional de saúde.

EXPANDINDO O CÍRCULO DE ATENDIMENTO

Há um número grande de regiões com carência de assistência médica. Esse problema é uma oportunidade para ampliar a variedade de quem presta atendimento. Os agentes comunitários de saúde são uma solução. Não são médicos, mas são treinados em tópicos de saúde importantes e relevantes para a comunidade e trabalham diretamente com os moradores. 

Como os agentes geralmente moram na mesma comunidade que atendem, eles têm a capacidade única de trazer informações sobre saúde para aquela comunidade. Eles conseguem entrar em contato com as pessoas no local onde elas moram, comem, se divertem e trabalham, o que aumenta a probabilidade de gerar mudanças de comportamento que incentivem o autocuidado.


SOBRE A AUTORA

Daniella Foster é membro do conselho executivo e diretora global de assuntos públicos, ciência e sustentabilidade da divisão de saúde ... saiba mais