Estes são os principais motivos para pedir demissão, segundo o MTE
Levantamento inédito mostra que busca por flexibilidade, reconhecimento e saúde mental também influenciam na decisão dos trabalhadores

Os pedidos de demissão voluntária têm alcançado proporções inéditas no Brasil. 37,9% dos desligamentos registrados em janeiro de 2025 foram motivados pela iniciativa do próprio trabalhador, segundo estudo conduzido pelo economista Bruno Imaizumi, da LCA 4intelligence, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
A pesquisa foi repercutida pelo O GLOBO e aponta que o índice, que já foi de 24% em 2020, vem crescendo de forma consistente. Ele ultrapassa os patamares observados em anos de pleno emprego, como 2013 e 2014, quando a taxa oscilava entre 29% e 30%.
Trabalhadores mais jovens, mulheres e profissionais do setor de comércio lideram esse movimento crescente de desligamentos voluntários. A dinâmica atual, no entanto, vai além da simples troca de emprego. Muitos optam por sair do regime celetista em busca de maior autonomia, flexibilidade e melhores rendimentos, em um cenário de mercado aquecido e mudanças nos modelos de trabalho.
Ministério do Trabalho ouve mais de 53 mil trabalhadores
Com o aumento das demissões voluntárias, vale lembrar de uma sondagem inédita que o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) realizou entre os dias 10 e 21 de junho de 2024. Na ocasião, um questionário foi enviado por meio da carteira de trabalho digital a mais de 3,7 milhões de dispositivos, obtendo 53.692 respostas válidas de trabalhadores que pediram desligamento entre novembro de 2023 e abril de 2024.
A iniciativa buscou compreender os principais motivos que levavam tantos brasileiros a deixarem seus postos de trabalho.
Novo emprego, salário e reconhecimento lideram queixas
O levantamento sobre os motivos da demissão voluntária revelou que 36,5% dos respondentes já tinham outro emprego em vista no momento do pedido de desligamento. Outros 32,5% apontaram o salário baixo como principal motivador, enquanto 24,7% citaram a ausência de reconhecimento profissional.
Questões éticas envolvendo a forma de trabalho da empresa (24,5%), problemas com a chefia imediata (16,2%) e a falta de flexibilidade na jornada (15,7%) também foram destacados. Além disso, o adoecimento mental provocado por estresse foi mencionado por 23% dos participantes.
Diferenças entre homens, mulheres e faixas etárias
A análise revelou nuances importantes quando os dados são desagregados por gênero. Enquanto 40% dos homens alegaram ter outro emprego em vista, esse número cai para 33% entre as mulheres. Por outro lado, elas relatam mais problemas com a chefia imediata (17% contra 16%) e a rigidez da jornada de trabalho (17% contra 15%).
O adoecimento mental decorrente do estresse no trabalho também afeta mais as mulheres (29%) do que os homens (18%). Além disso, 13% das mulheres mencionaram a necessidade de cuidar de filhos ou familiares como um dos fatores decisivos para deixar o emprego, frente a 6% entre os homens.
Entre os jovens de 18 a 24 anos, os índices de insatisfação são ainda mais expressivos. Mais de um terço apontou salários baixos, ausência de reconhecimento e questões éticas nas empresas como razões para sair do emprego. A falta de flexibilidade e o estresse também figuram com destaque entre esse público, especialmente entre mulheres, pretos, pardos e indígenas.
Quem sai, em geral, se recoloca rápido e com melhor salário
Dos trabalhadores que se demitiram com outro emprego em vista, 58% foram novamente contratados sob regime celetista e 63% desses conseguiram a recolocação em até 30 dias. Além disso, 58% passaram a ganhar mais do que no emprego anterior. A maior incidência de pedidos de desligamento foi registrada em abril, com 740.778 casos.
Mesmo diante das incertezas, 76% dos trabalhadores que pediram demissão disseram estar satisfeitos com a decisão, enquanto apenas 14% afirmaram o contrário.
Áreas de tecnologia, educação e saúde lideram realocações
Entre os setores com maior número de trabalhadores que se demitiram já com outra ocupação garantida, destacam-se os serviços de tecnologia da informação (59%), organizações não governamentais (48%) e engenharia e arquitetura (45%).
Esses profissionais também relataram altos níveis de satisfação após a demissão voluntária. Em tecnologia, 84% dos entrevistados estavam satisfeitos com a decisão, seguidos por áreas como educação, jurídico-contábil, fabricação de produtos de metal e logística, todas com índices acima de 78%.