Estudo aponta que meninas de 3 anos já valorizam aparência mais que meninos

Pesquisa com 170 crianças de três a cinco anos aponta que as meninas, já nessa idade, valorizam mais a aparência pessoal do que os meninos

Crédito: Marizza/ iStock

Shalene Gupta 3 minutos de leitura

Todo mundo sabe que as mulheres sofrem mais pressão estética do que os homens. Recentemente, essa tendência foi comprovada por uma pesquisa feita pelo laboratório de ideias Pew Research.

Os dados desse estudo apontaram que a principal característica pela qual as mulheres são valorizadas é a aparência física, enquanto os homens tendem a ser mais valorizados pela sua ética e integridade.

Ao mesmo tempo, 71% dos entrevistados declararam que as mulheres sofrem pressão para serem fisicamente atraentes, enquanto apenas 27% dos entrevistados disseram o mesmo sobre os homens.

Agora, um novo estudo publicado na revista "Child Development" revelou algo ainda mais alarmante: crianças de apenas três anos de idade já percebem essa diferença. Veja a seguir os detalhes por trás desse resultado.

COMO O ESTUDO FOI CONDUZIDO

Pesquisadores da Universidade Estadual da Califórnia entrevistaram 170 meninas e meninos com idades entre três e cinco anos.

Primeiro, os pesquisadores perguntaram às crianças o quanto elas se identificavam com seu gênero. Em seguida, mostraram quatro fotos de roupas diferentes, que variavam de neutras em termos de gênero (uma camiseta e uma calça jeans) a roupas elaboradas e com forte distinção de gênero (um terno para meninos ou um vestido roxo com brilho para meninas) e perguntaram qual elas mais gostariam de usar.

Crédito: Ruan Walker

Os pesquisadores também testaram a capacidade das crianças de se lembrarem de roupas de gênero. Além disso, mostraram fotos de quatro roupas de trabalho diferentes. Dois dos empregos estavam relacionados à aparência (modelo, maquiador) e dois, não (professor, bibliotecário).

As crianças foram questionadas, ainda, sobre o quanto gostavam de vários personagens da mídia, como super-heróis e personagens da Disney, e por que gostavam deles. Por fim, os pesquisadores perguntaram às crianças qual a importância de estar bonito.

O QUE A PESQUISA REVELOU

Em geral, as meninas valorizavam mais a aparência pessoal do que os meninos. Elas eram mais propensas a escolher roupas chamativas e também tinham memória melhor para roupas com detalhes femininos, embora não tenham superado os meninos em nenhuma outra tarefa de memória.

As meninas, especialmente as que tinham uma forte identificação de gênero, também tinham maior probabilidade de escolher roupas para trabalhos relacionados à aparência.

Elas também tinham cinco vezes mais probabilidade do que os meninos de dizer que gostavam de um personagem por causa de sua aparência: por exemplo, elas gostavam da Rapunzel por causa de seus cabelos longos e sapatos.

Os meninos eram mais propensos a dizer que preferiam personagens com base naquilo que eles faziam: por exemplo, gostavam do Homem-Aranha porque ele dispara teias.

Créditos: Disney/ Marvel Studios

Os autores do estudo postulam que pode haver muitas razões para essa diferença precoce entre os gêneros. Isso inclui a assimilação de estereótipos nos meios de comunicação, especialmente porque estudos anteriores mostraram uma relação entre o consumo de mídia e a preocupação com a estética.

Os pesquisadores também sugeriram que os colegas das crianças podem reforçar certos tipos de comportamento. Por exemplo, os meninos querem falar sobre super-heróis, enquanto as meninas podem brincar com jogos de princesa.

Os professores podem, inconscientemente, favorecer as crianças mais bonitas, ou as crianças podem simplesmente ter absorvido esses comportamentos dos pais quando os observam se arrumando para o dia a dia (por exemplo: a mãe usa maquiagem, o pai, não).

Pesquisas apontam que mulheres são mais valorizadas pela aparência física e homens, pela ética e integridade.

O estudo sugere que, mesmo nos casos em que os pais incentivam o comportamento de gênero neutro, isso pode não ser suficiente para compensar essas influências.

"Embora muitos pais se esforcem para educar com um comportamento neutro em termos de gênero, isso pode não ser páreo para os avós que se deleitam em presentear seus netos com roupas extremamente femininas ou masculinas, acompanhadas de muitos elogios ("você está tão bonita!"; "que vestido lindo!")", escreveram os pesquisadores.

"Fica cada vez mais claro que que as causas do desenvolvimento do valor da aparência pessoal das crianças dependem de uma multiplicidade de fatores."


SOBRE A AUTORA

Shalene Gupta é jornalista e escritora, co-autora do livro "The Power of Trust: How Companies Build It, Lose It, Regain It". saiba mais