Estudo sobre eleições discute violência, polarização e como evitá-las
Estudo sobre o Fortalecimento da Democracia conduzido pela Universidade de Stanford, o maior do gênero, testou 25 estratégias entre 32 mil americanos para entender o que pode reduzir a animosidade partidária e conter atitudes antidemocráticas
Nas principais disputas para as próximas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, os eleitores republicanos apresentaram candidatos que abraçam abertamente as conspirações eleitorais.
Doug Mastriano, o candidato do Partido Republicano para governador da Pensilvânia, disse que, se estiver no poder, terá o poder de cancelar a certificação de qualquer resultado eleitoral “com o golpe de uma caneta”. Kari Lake, indicada do Partido Republicano para governadora do Arizona, declarou, antes mesmo de seus resultados chegarem, que havia evidências de fraude em sua corrida.
“Se não vencermos, é porque há alguma trapaça acontecendo”, Lake antecipou. Quando ela ganhou, ela simplesmente declarou que seus apoiadores haviam “votado mais que a fraude”.
Essa tendência é generalizada. De acordo com um estudo do FiveThirtyEight, pelo menos 120 candidatos republicanos de meio de mandato ainda não aceitam os resultados das eleições de 2020, representando 49% dos republicanos nas urnas para cargos no Senado e na Câmara e para os cargos de Governador, Procurador-geral e Secretário de Estado. Apenas 37 aceitaram totalmente a vitória presidencial de Joe Biden.
O Laboratório de Polarização e de Mudança Social da Universidade de Stanford quis descobrir por que há um apoio tão amplo a essas atitudes antidemocráticas. O “Strengthening Democracy Challenge” (Desafio de Fortalecimento da Democracia, em tradução livre), que os pesquisadores descreveram como um “mega-experimento”, foi o maior desse tipo jamais feito, recrutando mais de 32 mil participantes “partidários” que se assemelhavam à população americana em relação à idade, gênero e etnia – e, criticamente, identificados como democratas ou republicanos.
Além de examinar o sentimento antidemocrático, o estudo analisou a animosidade e o apoio à violência contra o partido da oposição. Também analisou fatores que podem ajudar a reduzir sentimentos negativos entre as partes, testando um conjunto de 25 intervenções online (com resultados mistos).
Mas, antes de receber as perguntas, os entrevistados foram aleatoriamente designados para uma das 25 intervenções projetadas para reduzir visões antidemocráticas, antipatias partidárias e o apoio à violência política. Com menos de oito minutos de duração, essas atividades incluíram curtas-metragens, questionários, leituras, perguntas dissertativas, chatbots e uma meditação guiada.
Os pesquisadores descobriram que as intervenções mais eficazes foram aquelas que corrigiram percepções errôneas sobre a oposição. Em geral, os membros de ambos os partidos assumiram erroneamente que os membros do outro partido tomaram posições políticas mais extremas e que discordaram mais do que de fato fizeram.
A teoria é que mostrar às pessoas que elas no fundo concordam em uma série de coisas diminui a sensação de que o outro lado está “esperando para derrubá-las”, diz Willer, observando: “Você pode reduzir essa sensação apenas dando às pessoas informações precisas”, diz Robb Willer, professor de sociologia em Stanford, que liderou o estudo.
A maioria das estratégias funcionou para reduzir a animosidade partidária. Mas as duas outras tendências – atitudes antidemocráticas e violência política – provaram ser muito mais difíceis de quebrar. Uma intervenção foi um filme sobre colapso democrático e a violência em outros países, que trabalhou para reduzir significativamente as atitudes antidemocráticas e a animosidade partidária. Mas também produziu um “efeito de tiro pela culatra”, porque no fim das contas aumentou a vontade de violência política entre os republicanos.
Nos últimos anos, a direita se engajou em mais ações antidemocráticas e em mais violência política do que a esquerda. Em geral, os republicanos têm negado os resultados das eleições e tentado coagir os eleitores. Eles estavam por trás da insurreição do Capitólio e eles se envolveram em vários atos de violência política, incluindo crimes de ódio, manifestações armadas e eventos de supremacia branca.
De acordo com a Liga Antidifamação, grupos de direita causaram 75% da violência política na última década, contra 4% de grupos de esquerda. Mas muitos estudos descobriram que o potencial latente para a violência também é alto entre os democratas. A diferença é que os líderes e candidatos republicanos são os que atualmente estão capitalizando o apetite por essas posições.
A desinformação também é culpada, pois fontes de mídia tendenciosas colocam o público em diferentes “ambientes de informação”. Isso significa que muitas pessoas nem mesmo enxergam certos atos como antidemocráticos: para eles, seu partido não está derrubando uma eleição, mas sim recuperando uma que foi roubada.
Uma das maneiras mais eficientes de divulgar as intervenções digitais para um público amplo pode ser com as empresas de mídia social, como o Facebook, as promovendo. O laboratório de Stanford está realizando uma conferência em setembro para informar as organizações sem fins lucrativos sobre a melhor forma de implementar estratégias como essas.
As estratégias também precisarão de um estudo mais aprofundado. “Encontramos algumas coisas que funcionam, mas que não são transformadoras”, diz Willer.
Uma conclusão crítica foi que cada questão que leva ao comportamento antidemocrático é fundamentalmente diferente, mesmo que elas pareçam relacionadas. Faz sentido que a animosidade partidária seja um pré-requisito para a violência política – mas enquanto 23 intervenções trabalharam para reduzir a animosidade partidária, apenas 5 afetaram as atitudes em relação à violência política.
“Nosso estudo realmente mostra que nós não podemos apenas diminuir a antipatia a fim de tratar a violência”, diz Jan Voelkel, um estudante de doutorado de Stanford que esteve envolvido na pesquisa. “Você realmente precisa pensar diretamente em como tratar a violência.”
(Originalmente publicada na Fast Company e assinada por Talib Visram)