Façam suas apostas: quanto tempo vai durar a lua de mel entre Trump e Musk?

Dois egos enormes e dois empreendedores temperamentais se uniram. Isso nem sempre é receita para o sucesso

Crédito: Fast Company Brasil

Chris Stokel-Walker 2 minutos de leitura

O "bromance" entre Donald Trump e Elon Musk é um dos resultados mais estranhos do ciclo eleitoral presidencial de 2024 nos EUA, com Musk fazendo campanha para Trump e promovendo o então candidato (agora presidente eleito) por meio da rede social X (ex-Twitter).

Após a vitória de Trump, o clima de camaradagem continuou, com Musk participando até de conversas com outros chefes de estado. A parceria está programada para continuar na Casa Branca, com Trump anunciando Musk como co-líder de um novo Departamento de Eficiência Governamental, (DOGE, uma referência à popular moeda meme).

Mas por quanto tempo duas personalidades incendiárias podem coexistir pacificamente lado a lado?

"Parece que os dois agora são melhores amigos, com Trump parecendo depender dos conselhos de Musk sobre várias indicações para o governo", diz Steven Buckley, professor de sociologia da mídia digital na Universidade de Londres, que se especializou em política dos EUA. "Musk precisa muito mais da amizade de Trump do que Trump precisa de Musk."

Os dois compartilham várias qualidades, diz o especialista em saúde mental e autor de "The Cult of Trump" (O Culto a Trump, em tradução livre), Steven Hassan. Segundo ele, ambos exibem traços de "narcisismo maligno".

Temos aí um traço de personalidade que pode ser complicado, visto que Musk será obrigado a desempenhar um papel secundário em relação ao presidente. "Enquanto Musk se submeter a esse quadro, vejo isso funcionando", diz Hassan. No entanto, por quanto tempo ele aceitará jogar junto é uma questão bem diferente.

O especialista em mídia social Matt Navarra aponta que os dois têm históricos de desentendimentos com parceiros de negócios ou autoridades públicas – basta olhar para as discussões de Musk com o Brasil e o Reino Unido nos últimos meses. "Causar confusão é uma forma educada de dizer isso", diz Navarra.

quando duas pessoas bem-sucedidas tentam compartilhar os holofotes e as rédeas do poder, o clima pode azedar.

Embora a dupla certamente compartilhe algumas opiniões sobre inovação e questões "politicamente corretas", "a necessidade de ambos de estar sempre por cima pode transformar alinhamento em rivalidade mais rápido do que se imagina", diz Navarra.

Por outro lado, ambos conhecem os riscos envolvidos para suas próprias reputações e os benefícios mútuos que a parceria pode trazer. "Isso pode significar que o relacionamento dure mais do que as pessoas inicialmente esperam, dado o histórico dos dois", especula Navarra.

Ainda assim, basta olhar para os próprios escritos de Trump para ver como ele pode ser desconfiado de seus pares. "Um dos problemas quando você se torna bem-sucedido é que inveja e ciúmes inevitavelmente seguem", escreveu o presidente eleito em seu livro de conselhos empresariais de 1987, "A Arte da Negociação".

De fato, quando duas pessoas bem-sucedidas tentam compartilhar os holofotes e as rédeas do poder, o clima pode azedar.


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais