Feitiço contra o feiticeiro: redes sociais usam insulto de Trump contra ele mesmo

Usuários enchem as redes sociais com memes sobre o presidente dos EUA depois que ele chamou uma repórter de "porquinha"

Crédito: Pixabay

Joe Berkowitz 4 minutos de leitura

Porcos são conhecidos por terem a pele grossa – algo que, definitivamente, não se aplica ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Há, no entanto, um motivo para que tantos usuários de redes sociais estejam chamando Trump de “Piggy” (porquinho) e compartilhando imagens grosseiras, geradas por IA.

Em 17 de novembro, um vídeo de Trump respondendo a jornalistas a bordo do avião presidencial Air Force One viralizou. O trecho começa com a repórter Jennifer Jacobs pressionando o presidente sobre o interminável escândalo envolvendo a rede de exploração sexual de menores do empresário Jeffrey Epstein.

Trump parece preferir não responder – ou, ao menos, é isso que sugere o momento em que ele repreende a repórter: “Quiet, Piggy” (algo como "fique quieta, porquinha").

Líderes de praticamente qualquer outra área seriam punidos, até demitidos, por uma transgressão desse tipo. Mas Trump se mostrou imune a consequências formais por violar normas básicas de civilidade.

Porém, ele não está imune às consequências "informais". E é por isso que a internet rapidamente transformou “Quiet, Piggy” em um meme nada lisonjeiro para o presidente.

Usuários do Bluesky começaram a responder às novas postagens de Trump no TruthSocial com o bordão, fazendo o mesmo com aparições na mídia de aliados trumpistas, como o presidente da Câmara, Mike Johnson, e a deputada Nancy Mace, da Carolina do Sul.

Quiet, Piggy.

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— Kevin M. Kruse (@kevinmkruse.bsky.social) 18 de novembro de 2025 às 10:30

“Quiet Piggy.” 

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— Amanda Weaver (@amandaweavernovels.com) 18 de novembro de 2025 às 13:50

No X, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, está entre os muitos usuários que adicionaram um componente de body shaming ao bordão, publicando fotos pouco lisonjeiras do presidente, acompanhadas da frase.

meme na rede social X sobre Donald Trump
Crédito: Reprodução/ X

Usuários do TikTok também publicaram imagens desfavoráveis de Trump para acompanhar o insulto. Outros compartilharam imagens geradas por IA que retratam o presidente como Miss Piggy, ou como ele mesmo gritando com a personagem.

Se os usuários das redes sociais parecem especialmente dispostos a transformar “Quiet, Piggy” em arma, devolvendo o insulto ao presidente, é provavelmente porque o episódio se encaixa perfeitamente no histórico de comportamento de Trump.

Ele já chamou mulheres como Rosie O’Donnell e a ex-Miss Universo Alicia Machado de “pigs” (porcas), “slobs” (relaxadas) e “disgusting animals” (animais asquerosos). Também tem um histórico mais recente e explícito de insultar e hostilizar jornalistas.

Logo após a eleição de 2016, a jornalista Lesley Stahl, do programa “60 Minutes”, disse que Trump lhe contou que o motivo pelo qual ataca repórteres regularmente é para “desmerecê-los” e “desacreditá-los”, de modo que o público não leve a sério “histórias negativas” sobre ele.

Ao longo do primeiro mandato, Trump intensificou seus ataques aos órgãos de imprensa que considerava "pouco amigáveis", chamando esses veículos de “inimigos do povo”. Mas ele parecia guardar uma animosidade especial contra jornalistas mulheres.

a internet rapidamente transformou “Quiet, Piggy” em um meme nada lisonjeiro para o presidente dos EUA.

Em uma entrevista com Abby Phillip, da CNN, em 2018, Trump respondeu a uma pergunta da repórter sobre o então procurador especial Robert Mueller dizendo: “que pergunta estúpida. Mas eu vejo você muito; você faz muitas perguntas estúpidas.”

Em seu segundo mandato, Trump parece ainda mais empenhado em atacar repórteres que fazem perguntas que preferiria não ouvir. Ele regularmente se recusa a responder, dizendo aos repórteres: “você não deveria estar perguntando isso”, ou os chama de “odiosos” e “muito maldosos” por perguntar mesmo assim.

Apesar de Trump ter sido especialmente combativo com a imprensa ao longo do ano, ele parece ainda mais suscetível a irritações recentes devido ao aumento de perguntas sobre sua relação com Jeffrey Epstein.

Quando um repórter da rede de TV ABC perguntou sobre os arquivos de Epstein, em 18 de novembro, Trump respondeu: “acho que a licença da ABC deveria ser retirada”, e pediu ao presidente da Comissão Federal de Comunicações, Brendan Carr, que “desse uma olhada nisso”.

Muitos usuários têm especulado por qual motivo a ofensa a Jennifer Jacobs ficou sem contestação, ou seja, por que os outros repórteres a bordo do Air Force One não insistiram para que a pergunta fosse respondida ou exigiram um pedido de desculpas.

Talvez tenha sido justamente a ausência de uma atitude mais contundente por parte da imprensa que tenha inspirado usuários das redes sociais a revidar o insulto por conta própria, combatendo, eles mesmos, o “chiqueirinho” retórico do presidente.


SOBRE O AUTOR

Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais